UM AMOR VERDADEIRO (One true thing, 1998, Universal Pictures,
127min) Direção: Carl Franklin. Roteiro: Karen Croner, romance de Anna
Quindlen. Fotografia: Declan Quinn. Montagem: Carole Kravetz. Música:
Cliff Eidelman. Figurino: Donna Zakowska. Direção de arte/cenários: Paul
Peters/Elaine O'Donnell, Leslie A. Pope. Produção executiva: Leslie
Morgan, William W. Wilson III. Produção: Jesse Beaton, Harry J. Ufland.
Elenco: Meryl Streep, William Hurt, Renée Zellweger, Tom Everett Scott,
Lauren Graham, Nicky Katt, James Eckhouse. Estreia: 18/9/98
Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Meryl Streep)
A história é conhecida e banhada de clichês: jovem e promissora jornalista, às vésperas de um dos mais importantes trabalhos de sua recém iniciada trajetória profissional, é obrigada a voltar à sua cidade natal para cuidar da mãe, uma mulher forte e determinada que sempre foi o centro da família mas está sofrendo de um câncer terminal. Nesse meio-tempo, a jovem precisa também enfrentar a difícil relação que sempre teve com o pai, um professor de literatura que fracassou como escritor e nunca soube dar o amor que os filhos e a mulher precisavam. Qual é, então, a razão para se assistir a "Um amor verdadeiro"? A mesma que o distingue de dezenas de outras obras semelhantes que volta e meia preenchem a programação da televisão: o elenco extraordinário escalado pelo diretor Carl Franklin. Bom diretor de atores, Franklin extrai de gente do porte de Meryl Streep e William Hurt atuações muito acima da média - não à toa Meryl recebeu sua 11ª indicação ao Oscar por seu desempenho - e entrega à então estrela em ascensão Renée Zellweger um dos papéis mais densos de sua carreira.
É de Zellweger a responsabilidade de dar ao filme de Franklin, baseado em romance de Anna Quindlen - uma escritora conhecida nos EUA por seus livros de teor feminino adocicado - um tom menos piegas e previsível, e ela desincumbe-se muito bem da missão. Na pele da ambiciosa e talentosa Ellen Gulden, que precisa abrir mão de seus objetivos profissionais em prol da saúde de sua mãe, ela dosa com precisão uma gama extensa de sentimentos por vezes contraditórios e que, nas mãos de uma atriz menos competente, fatalmente descambaria para o sentimentalismo barato ou o exagero dramático. Encarando de frente uma das melhores atrizes de todos os tempos, Zellweger - que menos de dois anos antes, quando contracenou com Tom Cruise em "Jerry Maguire", ainda era uma ilustre desconhecida - não se deixa diminuir em cena, crescendo até mesmo quando precisa enfrentar um sempre potente William Hurt, que vai desenhando seu personagem gradualmente até explodir em uma devastadora cena no terço final da projeção - onde seu George finalmente diz a que veio e sai de um melancólico segundo plano. Não é injusto afirmar, aliás, que tanto Renée quanto Hurt também mereciam ter sido lembrados pela Academia, já que conseguem tirar leite de pedra, dando consistência até mesmo a diálogos pouco inspirados e algumas cenas simplesmente supérfluas.
Meryl Streep, por sua vez, está em sua zona de conforto. Kate Gulden é a típica personagem dos sonhos para qualquer atriz ciente de suas capacidades dramáticas, e a veterana vencedora (à época) de dois Oscar não deixa por menos, emocionando o espectador com alguns momentos que demonstram claramente os motivos que a levam a ser tão respeitada e admirada. Vivendo uma mulher simples, altruísta e dedicada que se vê às portas da morte, ela tanto é capaz de despertar uma sincera compaixão do público quanto um sentimento de paz e serenidade que poucas intérpretes conseguiriam com tanta maestria. Mesmo que sua personagem sofra devido a um desenvolvimento pobre - de certa forma ela é quase uma coadjuvante de luxo, já que a trama gira em torno das dificuldades de sua filha em confrontar-se com um nova realidade - Streep consegue extrair dela sempre o máximo de profundidade e verdade. A cena em que ela e sua filha cantam emocionadas na festa de Natal da cidadezinha onde moram é de cortar o coração justamente por essa intensidade.
"Um amor verdadeiro" em si não é um grande filme. Ainda que tente surpreender a plateia no final, com uma pequena reviravolta que muda as perspectivas da audiência em relação aos protagonistas, não consegue desviar-se dos lugares-comuns das produções sobre famílias disfuncionais, doenças terminais e lições de vida. Porém, ao unir em cena três grandes intérpretes em momentos iluminados, merece aplausos e boas lembranças.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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