OU
TUDO OU NADA (The full monty, 1997, Redwave Films/Channel Four
Films/20th Century Fox Films, 91min) Direção: Peter Cattaneo. Roteiro:
Simon Beaufoy. Fotografia: John De Borman. Montagem: David Freeman, Nick
Moore. Música: Anne Dudley. Figurino: Jill Taylor. Direção de
arte/cenários: Max Gottlieb. Produção: Uberto Pasolini. Elenco: Robert
Carlyle, Tom Wilkinson, Mark Addy, William Snape, Steve Huison, Paul
Barber, Hugo Speer, Lesley Sharp, Emily Woof. Estreia: 13/8/97
4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Direção (Peter Cattaneo), Roteiro Original, Trilha Sonora Original (Comédia/Musical)
Vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora Original (Comédia/Musical)
A
cerimônia do Oscar 98 teve um protagonista indiscutível - "Titanic",
com suas 14 indicações e 11 estatuetas - e alguns coadjuvantes de
importância razoável - "Melhor é impossível", "Gênio indomável" e "Los
Angeles, cidade proibida", todos premiados em duas categorias cada um.
Mas um dos filmes mais falados da disputa não tinha astros conhecidos em
seu elenco, havia sido realizado com uns trocados e era falado em um
inglês que até mesmo os americanos tinham certa dificuldade em
compreender. Em mais um caso de Davi contra Golias na maior festa do
cinema, a comédia "Ou tudo ou nada" - com um orçamento de 3,5 milhões de
dólares - tentava derrotar o mastodôntico transatlântico de 200 milhões
de James Cameron com base apenas na simpatia que despertou nas plateias
mundiais e nas entusiasmadas críticas angariadas pelo planeta.
Logicamente suas armas não foram poderosas o bastante - levou apenas o
Oscar de melhor trilha sonora, que soou como um prêmio de consolação -
mas só o fato de estar entre os cinco finalistas de melhor filme de um
ano bem forte já pode ser considerado uma vitória e tanto para uma obra
tão pouco ambiciosa.
Mistura de comédia de costumes com
crítica social, "Ou tudo ou nada" ganhou o público justamente pela
despretensão, que é a sua maior qualidade. Enxuto e esperto ao utilizar
suas limitações orçamentárias a seu favor, transmitindo em cada cena a
sensação de decadência e melancolia de uma comunidade desprovida de
esperança e expectativas de progresso, o filme do estreante Peter
Cattaneo - que de cara se viu disputando uma estatueta dourada com nomes
consagrados como Cameron e Gus Van Sant - desconstrói o pessimismo
diante de uma das maiores crises financeiras da história da Inglaterra
com uma história alto-astral e positiva, recheada de personagens
absolutamente críveis em sua banalidade e uma trilha sonora deliciosa de
clássicos da era da discoteca.
A
trama se passa em uma pequena cidade inglesa chamada Sheffield, que, de
um passado brilhante e promissor como "a cidade do aço",
transformou-se, uma década e meia mais tarde, em mais uma comunidade
assombrada pelo fantasma da crise e do desemprego massivo. Apenas mais
um dentre milhares, o desesperado Gary (Robert Carlyle) está em vias de
perder inclusive a guarda compartilhada do único filho quando tem uma
ideia no mínimo inusitada: reunir um grupo de homens na mesma situação
que ele para organizar um show de striptease completo e assim, arrumar
dinheiro para pagar as contas. O fato de nem ele nem seus companheiros
de projeto serem exatamente galãs é o menor dos seus problemas: com
pouco tempo e sem local para ensaiar, o grupo também precisa lidar com
sua baixa autoestima e o medo do fracasso, agravado depois que seus
planos são expostos à toda população, gerando uma grande expectativa na
cidade. Tal pressão passa a torturar principalmente o tímido Dave (Mark
Addy) - complexado por achar-se acima do peso - e Gerald (Tom
Wilkinson), que esconde da esposa que perdeu o emprego há seis meses e
vê aos poucos suas dívidas se acumulando.
Simples e
direto, "Ou tudo ou nada" sofre de uma certa superficialidade no desenho
de seus personagens, que, com exceção de Gary, Gerald e Dave, são
relegados a um segundo plano quase injusto no roteiro escrito por Simon
Beaufoy - que anos depois ganharia o Oscar por "Quem quer ser um
milionário?": mesmo quando a trama acena para o desenvolvimento maior
dos coadjuvantes, tal promessa nunca ultrapassa os limites do mais
básico simplismo. Sorte que as atuações de Mark Addy como o inseguro
Dave e Robert Carlyle como a mente criativa por trás do evento funcionem
com perfeição, entregando à plateia uma emoção genuína que disfarça a
fragilidade do roteiro. Além disso, é impossível não estampar um sorriso
no rosto diante da mais clássica do filme: na fila do banco, enquanto
aguardam o pagamento de seu seguro-desemprego, os seis operários
(desesperançados, tristes, fora de forma e da idade mais apropriada para
isso) não resistem ao som de "Hot stuff", de Donna Summer e fazem,
alienados do mundo à sua volta, a coreografia prevista para seu show.
Uma cena singela, engraçada e simpática - qualidades que levaram a obra
de Cattaneo ao palco do Oscar em um ano em que filmes geniais como
"Boogie nights", de Paul Thomas Anderson e "Jackie Brown", de Quentin
Tarantino, apenas a assistiram de longe.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
Nenhum comentário:
Postar um comentário