TROPAS
ESTELARES (Starship troopers, 1997, TriStar Pictures/Touchstone
Pictures, 129min) Direção: Paul Verhoeven. Roteiro: Ed Neumeier, romance
de Robert A. Heinlein. Fotografia: Jost Vacano. Montagem: Mark
Goldblatt, Caroline Ross. Música: Basil Poledouris. Figurino: Ellen
Mirojnick. Direção de arte/cenários: Allan Cameron/Bob Gould. Produção:
Jon Davison, Alan Marshall. Elenco: Casper Van Dien, Dina Meyer, Neil
Patrick Harris, Denise Richards, Jake Busey, Clancy Brown, Michael
Ironside. Estreia: 04/11/97
Indicado ao Oscar de Efeitos Visuais
É
no mínimo incoerente: ruim de doer, mal dirigido e se escorando
puramente em efeitos visuais previsíveis e em um nacionalismo
constrangedor, "Independence day" transformou-se, já em seu
fim-de-semana de estreia, em uma das maiores bilheterias da história do
cinema, arrastando multidões às salas de exibição e entronando Will
Smith como um dos astros mais populares de seu tempo. Pouco mais de um
ano depois, outra ficção científica - com efeitos mais bem elaborados,
com um diretor muito mais talentoso e assumidamente trash - se viu
apedrejada pela crítica e ignorada pelo público, não chegando nem mesmo a
pagar seu custo astronômico de 100 milhões de dólares. Incompreendido
pela mesma plateia que aplaudiu os americanos salvarem o mundo de um
ataque alienígena no filme de Roland Emmerich, "Tropas estelares" teve o
consolo de, com o tempo, sobreviver como um cult movie muito mais
respeitado, sendo finalmente reconhecido pelo que é: um divertido
pastiche do gênero, recheado de atuações grotescamente exageradas e com
um roteiro claramente baseado em todos os clichês de ficção científica. A
maior ironia? Mesmo com todos esses excessos propositais, o filme do
holandês Paul Verhoeven é muito melhor do que "Independence day".
Assumindo
um tom kitsch e farsesco sublinhado pela narrativa que se utiliza de
trechos filmados como propaganda militarista, "Tropas estelares" se
passa em um futuro não especificado, quando a Terra está em guerra
declarada a uma civilização de insetos alienígenas ainda não totalmente
estudados pela ciência. Buscando seus soldados ainda na escola, o
exército arregimenta milhares de jovens que sonham em lutar pelo planeta
e tornarem-se heróis de guerra. Dentre esses jovens encontram-se quatro
colegas de ensino médio que, separados em suas divisões, voltam a
encontrar-se quando o conflito explode em uma violência sem precedentes:
vendo sua cidade destruída pelos inimigos e o planeta em vias de ser
invadido, o jovem Johnny Rico (Casper Van Dien), a bela Carmen Ibanez
(Denise Richards), a corajosa Dizzy Flores (Dina Meyer) e o genial Carl
Jenkins (Neil Patrick Harris) se juntam às tropas armadas até os dentes
com o objetivo de dizimar os crueis rivais.
Confortável
dentro de um gênero no qual colheu dois de seus maiores êxitos
comerciais - "Robocop", de 1987 e "O vingador do futuro", de 1990 -
Verhoeven mergulhou em um romance clássico do escritor Robert A.
Heinlein (o qual confessa ter lido apenas metade) para criar uma obra
que regurgita todos os elementos mais óbvios da ficção científica com um
ritmo ágil o suficiente para agradar às plateias pouco pacientes da
última década do século, entregando a ela uma profusão de corpos
desmembrados, piadas infames e sequências realizadas com os melhores
efeitos visuais que um grande orçamento pode comprar. Ignorando por
completo a censura americana - capaz de mutilar um filme com sua visão
conservadora do politicamente correto e com seus rígidos limites sobre o
que é ou não violento demais para o público - o cineasta não hesita em
mostrar humanos sendo destroçados pelos insetos gigantescos com uma
violência gráfica poucas vezes vista em filmes comerciais que zelam por
seus lucros. Por mais paradoxal que possa parecer, no entanto, em cada
fotograma de "Tropas estelares" - por mais cruel e debochado - Verhoeven
demonstra um carinho legítimo pelo gênero, brincando com seus
ingredientes com a intenção de oferecer um saboroso entretenimento à
plateia. Infelizmente, quase ninguém comprou sua brincadeira.
É
óbvio que as críticas negativas feitas a "Tropas estelares" à época de
sua estreia foram feitas por aqueles que não entenderam o espírito de
troça no qual o filme está nitida e generosamente banhado. e seus atores
centrais com aparência de Barbie e Ken - os péssimos Denise Richards e
Casper Van Dien - até o heroísmo exagerado de seus personagens
unidimensionais, tudo no filme de Paul Verhoeven tem a função de
hipérbole, de over, de caricatura, coisa que jamais faltou nos filmes do
gênero, mas sob o manto de uma seriedade que sempre serviu para
enfatizar um patriotismo boçal e aborrecido. "Tropas estelares" é um
filme de ficção científica, mas no fundo é uma comédia descerebrada do
mesmo naipe de "Corra que a polícia vem aí". Só não vê quem não quer ou
tem medo de entender.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quinta-feira
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