ROMY & MICHELE (Romy &
Michele's High School reunion, 1997, 92min) Direção: Robin Schiff.
Roteiro: Robin Schiff, peça teatral "The ladies room", de sua autoria.
Fotografia: Reynaldo Villalobos. Montagem: David Finfer. Música: Steve
Bartek, James Newton Howard. Figurino: Mona May. Direção de
arte/cenários: Mayne Berke/Jackie Carr. Produção executiva: Barry Kemp,
Robin Schiff. Produção: Laurence Mark. Elenco: Mira Sorvino, Lisa
Kudrow, Janeane Garofalo, Alan Cumming, Justin Theroux. Estreia: 25/4/97
Quando o sucesso da telessérie "Friends" começou a tornar-se um fenômeno de proporções
globais, seus atores imediatamente embarcaram na tentativa de
transferir sua popularidade para o cinema, tido como uma arte maior e de
mais prestígio - fato que foi se transformando com o passar dos anos,
quando a TV, graças aos canais por assinatura, atingiu o status que tem
hoje. De suas três atrizes, apenas Courteney Cox se deu bem à época,
mesmo que não fosse a protagonista absoluta de "Pânico" - que rendeu
mais de 100 milhões de dólares nas bilheterias. Jennifer Aniston optou
pela comédia romântica - gênero ao qual se mantém presa até hoje, com
raras e louváveis exceções - com "Paixão de ocasião", que estreou em
agosto de 1997 com sucesso razoável e Lisa Kudrow seguiu a regra do "em
time que está ganhando não se mexe" e protagonizou "Romy & Michele",
uma comédia baseada em uma peça de teatro que ela mesma protagonizava e
que explorava sem limites o tipo de humor que a consagrou como a
desmiolada Phoebe Buffay. Com uma renda inferior a 30 milhões, o filme
de Robin Schiff - também autor do roteiro e da peça - acabou, com o
tempo, virando uma espécie de cult movie, adorado pelos fãs de Kudrow e pelo humor bobalhão e ingênuo do roteiro, que diverte sem exigir nada dos neurônios.
No
fundo uma crítica debochada à obsessão americana pelo sucesso, pela
eterna juventude e pela beleza estética - além de uma carinhosa
homenagem à amizade feminina - "Romy & Michele" é quase uma sucessão
de quadros cômicos que, unidos por um roteiro quase óbvio, cria uma
linha narrativa quase simplória mas que, visto seu objetivo único de
fazer rir, mostra-se eficiente o bastante. Sem preocupar-se em
aprofundar seus personagens, que estão em cena apenas para cumprir os
papéis estereotipados planejados pelo roteiro, Schiff brinca com um dos
maiores clichês do cinema americano - a festa de reencontro de alunos do
ginásio - ao mesmo tempo que oferece ao público tiradas sarcásticas a
respeito dos anos 80, da condição feminina nos anos 90 e até do culto à
celebridade que alcançaria picos somente depois da entrada do século
XXI. Sem poupar bom-humor e aproveitando-se de uma trilha sonora
deliciosa, o filme é uma típica sessão da tarde descompromissada, capaz
de arrancar gargalhadas mesmo que acabe se tornando posteriormente em
mais um guilty pleasure.
Colegas
e amigas desde a infância, Romy White (Mira Sorvino voltando ao tipo
loira burra que lhe rendeu o Oscar de coadjuvante por "Poderosa
Afrodite") e Michele Weinberg (Lisa Kudrow) moram juntas desde o fim da
escola, em 1987. Sempre isoladas de todos os grupos - não eram as mais
populares nem tampouco as nerds - elas saíram de sua cidade do interior e
foram morar em Los Angeles, com o objetivo de levar um vida mais
agitada e repleta de possibilidades. Dez anos depois, pouca coisa
aconteceu. Romy trabalha como recepcionista em uma garagem, Michele está
desempregada e ambas estão solteiras e sem reais expectativas de
arrumar um namorado. Quando recebem o convite para o reencontro de sua
turma do ginásio, porém, elas percebem que não podem aparecer diante dos
colegas - todos eles provavelmente bem-sucedidos, casados e ricos - sem
ostentar uma existência mais poderosa e glamourosa. Sendo assim,
resolvem reinventar-se como duas executivas importantes - inventoras do
post-it - para surpreender a todos que as subestimavam. O problema é
quando a mal-humorada Heather Mooney (Janeane Garofalo), que sabe a
verdade sobre as duas, aparece na festa.
Quem
procura uma comédia sofisticada deve passar ao largo de "Romy &
Michele". A missão do filme de Robin Schiff é unica e exclusivamente
fazer rir, seja dos exageros visuais oitentistas, seja dos absurdos a
que se submetem as pessoas para criarem uma imagem diante dos outros,
seja da capacidade do ser humano em transformar pequenas crises em
enormes problemas. Contando com uma dupla afinadíssima nos papeis
principais e algumas piadas sensacionais que valem o filme inteiro, como
a tirada de sarro em cima da canção-tema de "Footlose", a obra
apresenta um resultado final irregular, mas engraçado o suficiente para
garantir uma boa hora e meia de entretenimento descompromissado. Uma
bola dentro na carreira de Lisa Kudrow, que mais tarde se mostraria uma
atriz capaz de voos bem mais altos, como na comédia dramática "O oposto
do sexo", de Don Roos, onde vive uma solteirona recalcada apaixonada
pelo cunhado gay.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
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