A MENTIRA (Easy A, 2010, Screen Gems/Olive Bridge Entertainment, 92min) Direção: Will Gluck. Roteiro: Bert V. Royal. Fotografia: Michael Grady. Montagem: Susan Litterberg. Música: Brad Segal. Figurino: Mynka Draper. Direção de arte/cenários: Marcia Hinds/Karen Agresti. Produção: Zanne Devine, Will Gluck. Elenco: Emma Stone, Amanda Bynes, Dan Byrd, Penn Badgley, Thomas Haden Church, Patricia Clarkson, Lisa Kudrow, Malcolm McDowell, Stanley Tucci. Estreia: 11/9/10 (Festival de Toronto)
De vez em quando as comédias adolescentes - gênero pródigo em empurrar
belas porcarias à audiência - geram uma ovelha negra, um filme que, além
de divertido e inofensivo, consegue atingir um patamar acima de seus
semelhantes utilizando-se apenas de um elemento cada vez mais raro: a inteligência. Foi isso que
aconteceu, por exemplo, com "Eleição", de Alexander Payne, realizado em
1999 e estrelado por Reese Witherspoon, que lançava mão de um humor
irônico e sarcástico como forma de criticar a obsessão dos americanos
pelo sucesso a qualquer custo. Um dos exemplares desse grupo tão
rarefeito é "A mentira", uma cáustica comédia que, do nada, tornou-se um
grande sucesso de bilheteria nos EUA - rendeu quase 60 milhões de
dólares - e deu à sua protagonista, Emma Stone, uma merecida indicação
ao Golden Globe de melhor atriz em comédias ou musicais.
Stone - que anos depois teve a oportunidade de viver Gwen Stacy na nova versão do Homem-aranha nos cinemas
- deita e rola nas enormes oportunidades que o divertido roteiro lhe
proporciona. Ela vive Olive Penderghast, uma estudante secundarista sem
maiores atrativos que, depois de ter contado uma pequena e inocente
mentira à sua melhor amiga a respeito de ter perdido a virgindade, vira o
assunto da escola. Taxada de "fácil", ela torna-se popular do dia para a
noite, e, quanto mais tenta ajudar seus colegas a subirem de status
dentro do universo escolar - mentindo sobre noites de sexo com todos os
nerds que conhece, inclusive seu amigo gay, Brandon (Dan Byrd) - mais ela complica sua
situação, principalmente quando se descobre apaixonada por um amigo de
infância, Todd (Penn Badgley).
Logicamente a trama de "A mentira" não é das mais criativas, mas a forma
como a história de Olive é contada faz toda a diferença. Repleto de
referências culturais - que vão do pop de "Crepúsculo" e John Hughes aos
clássicos literários de Nathaniel Hawthorne e Mark Twain - e de um
humor ácido e extremamente engraçado (ao menos para o público mais
antenado), o script do estreante Bert V. Royal brinca com a hipocrisia
da sociedade americana e com seus exageros religiosos da mesma forma que
o ótimo e subapreciado "Galera do mal", de 2004, ainda que com menos
contundência. Nem mesmo o artíficio um tanto batido de ter a
protagonista contando sua história em flashback diminui seu frescor e
inteligência. Com piadas sendo lançadas em ritmo vertiginoso e com um
apelo afetivo a filmes essenciais para a cultura cinematográfica dos
filhos dos anos 80 - "Clube dos cinco", "Namorada de aluguel" e "Digam o
que quiserem" são citados nominalmente - "A mentira" conquista pela
simpatia e pelo bom humor irresistível. E, logicamente, não atrapalha
ter ótimos atores em seu elenco de apoio, como Stanley Tucci e Patricia Clarkson - como os modernos pais da protagonista - e Lisa Kudrow, da série "Friends" que, mesmo
utilizando os mesmos trejeitos de sua Phoebe Buffay, ainda consegue ser muito engraçada como a conselheira da escola, que também tem seus segredinhos sujos.
Uma ótima comédia romântica adolescente que tem tudo para agradar bem mais do que seu público-alvo - justamente por ousar mais, em termos de sarcasmo, do que seus congêneres - "A mentira" é o tipo de filme que trata o cérebro do espectador com carinho, e o faz rir graças à sua inteligência e leveza. Não muda a vida de ninguém, mas deixa todo mundo com um belo sorriso no rosto.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quinta-feira
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