INVICTUS (Invictus, 2009, Warner Bros, 134min) Direção: Clint Eastwood. Roteiro: Anthony Peckham, livro "Playing the enemy: Nelson Mandela and the game that made a nation", de John Carlin. Fotografia: Tom Stern. Montagem: Joel Cox, Gary D. Roach. Música: Kyle Eastwood, Michael Stevens. Figurino: Deborah Hopper. Direção de arte/cenários: James J. Murakami/Leon Van Der Merwe. Produção executiva: Gary Barber, Roger Birnbaum, Morgan Freeman, Tim Moore. Produção: Clint Eastwood, Robert Lorenz, Lori McCreary, Mace Neufeld. Elenco: Morgan Freeman, Matt Damon, Tony Kgoroge. Estreia: 03/12/09
2 indicações ao Oscar: Ator (Morgan Freeman), Ator Coadjuvante (Matt Damon)
Desde que "Os imperdoáveis" saiu da festa de entrega do Oscar 93 com quatro estatuetas - incluindo melhor filme e diretor - o cineasta Clint Eastwood tornou-se figurinha fácil nas cerimônias da Academia. O sucesso de filmes como "Sobre meninos e lobos" (que premiou Sean Penn como melhor ator e Tim Robbins como coadjuvante), "Menina de ouro" (que lhe deu mais um prêmio de direção, além de ter conquistado também as láureas de melhor filme, atriz - Hilary Swank - e ator coadjuvante - Morgan Freeman) e "Cartas de Iwo Jima" (que perdeu o Oscar principal para "Os infiltrados", de Scorsese, mas chegou aos cinco finalistas) apenas confirmou o carinho dos votantes por sua filmografia, caracterizada pela simplicidade técnica e força dramática. Quando "Invictus" chegou às telas, então, a especulação sobre novas indicações nas categorias principais do Oscar era das maiores: além do nome de Eastwood na direção, havia Morgan Freeman no papel de Nelson Mandela, e o roteiro, baseado em fatos reais, falava sobre tolerância e união entre os diferentes - tema socialmente relevante e apropriado às ambições da Academia. Porém, para surpresa de muitos, mesmo em um ano em que o número de indicações a Melhor Filme dobrou de cinco para dez, a obra do eterno Dirty Harry ficou de fora das principais categorias, sendo lembrado apenas para melhor ator (Freeman) e ator coadjuvante (Matt Damon). Foi justo. Apesar de tecnicamente impecável, a adaptação do livro de John Carlin é um filme repleto de boas intenções, mas carregado de clichês.
Resumido à sua essência, "Invictus" conta como Nelson Mandela, presidente recém-eleito da África do Sul, contou com a seleção de rúgbi de seu país - um esporte considerado de elite e distante do povo que o elegeu - para unir todos os seus conterrâneos, brancos e negros, em uma mesma sintonia. Porém, não é apenas a história, forte e inspiradora por si mesma, que interessa a Eastwood em seu filme. Ao falar de tolerância, união e persistência, o cineasta entrega à plateia mais do que simplesmente uma produção sobre esportes ou uma propaganda pacifista: assim como em grande parte de seu currículo como diretor, seu filme discorre, nas entrelinhas, sobre pessoas e suas interrelações, sobre sentimentos nobres e boa vontade a respeito das diferenças. Surpreendentemente é como, ao contrário do que acontece na vasta maioria de sua filmografia - que versam, entre outras coisas, sobre o lado mesquinho do ser humano, sobre o peso das decisões e a inevitabilidade do destino - ele se permite, em "Invictus", um otimismo raro e muito bem-vindo.
Mesmo com todas as suas boas intenções e suas cenas de rúgbi esplendidamente fotografadas e editadas, falta a "Invictus" a coragem de sair da zona do previsível. Extremamente didático e muitas vezes beirando um sentimentalismo quase constrangedor, o filme cresce quando deixa que a emoção silenciosa ultrapasse os diálogos - é particularmente intensa, por exemplo, a sequência em que a equipe de rúgbi visita as instalações onde Mandela esteve preso antes de sua eleição. Ao mesmo tempo, é admirável como o filme consegue, mesmo resvalando constantemente nos clichês, agradar ao público, oferecendo a ele uma história contada sem novidades, mas de forma redonda e embalada em um visual atraente o bastante para que seus defeitos passem despercebidos. Além disso, Morgan Freeman, excelente ator que é, constroi um Nelson Mandela carismático e, se não chega a arrebatar como o fez Forest Whitaker na pele de Idi Amin em "O último rei da Escócia", entrega à audiência o que é esperado dele. O que é discutível é a indicação de Matt Damon ao Oscar de ator coadjuvante: na pele de François Pienaar - principal aliado de Mandela em seu objetivo de unir o país através do esporte - o vencedor do Oscar pelo roteiro de "Gênio indomável" pouco tem a fazer em termos de atuação, servindo quase como apoio a Freeman.
Em suma, "Invictus" é um filme com a qualidade narrativa e o cuidado que se espera de um filme de Clint Eastwood. É conduzido com elegância e bom gosto, carrega na sensibilidade sem soar piegas, apresenta uma parte técnica irrepreensível - a partida final disputada pela seleção africana é mostrada de forma eletrizante - e um elenco formidável. Mas peca em se deixar levar pelo didatismo em momentos cruciais e forçar a emoção com diálogos empolados e pouco naturais. Ainda assim, uma obra acima da média.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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