DEIXE-ME ENTRAR (Let me in, 2010, Overture Films/Exclusive Media Group, 116min) Direção: Matt Reeves. Roteiro: Matt Reeves, romance e roteiro original de John Ajvide Lindqvist. Fotografia: Greig Fraser. Montagem: Stan Salfas. Música: Michael Giacchino. Figurino: Melissa Bruning. Direção de arte/cenários: Ford Wheeler/Wendy Barnes. Produção executiva: Philip Elway, Fredrik Malmberg, John Ptak, Nigel Sinclair. Produção: Tobin Armbrust, Alex Brunner, Guy East, Donna Gigliotti, Carl Molinder, John Nordling, Simon Oakes. Elenco: Kodi Smith McPhee, Chloe Grace Moretz, Richard Jenkins, Elias Koteas. Estreia: 13/9/10 (Festival de Toronto)
Seguindo sua eterna mania de traduzir para seu mal-acostumado público
filmes estrangeiros de sucesso, Hollywood achou por bem realizar uma
versão americana do terror sueco "Deixe ela entrar", dirigido por Tomas
Alfredson. O remake, comandado por Matt Reeves (que estava por trás das
câmeras de "Cloverfield"), sofreu uma pequena alteração no título - passou a chamar-se "Deixe-me entrar" (?!?!) - e, apesar de uma modificação crucial em
relação a origem de sua protagonista, é bastante fiel ao filme
original. Se beneficiando também da onda da época de seu lançamento - o vampirismo, sepultado e humilhado na série "Crepúsculo" - é
um trabalho que agrada aos fãs do gênero e pode até conquistar àqueles
que procuram um bom filme mesmo não se interessando pelo assunto. Tudo
graças ao clima impresso pelo visual caprichado e por seus dois atores
principais, Kodi Smith-McPhee e Chloe Moretz, que emprestam à obra uma qualidade única.
Depois de ter emocionado a plateia com seu sensível trabalho em "A
estrada", o pequeno Smith-McPhee volta a entregar um trabalho de alta
qualidade como Owen, um menino tímido e introvertido que precisa lidar
com a separação dos pais e com os ataques de bullying que sofre dos
valentões da escola que frequenta, na pequena cidade de Los Alamos, Novo México, no ano de 1983. Isolado em seu mundo solitário, ele
conhece e faz amizade com Abby (Chloe Grace Moretz), uma menina misteriosa que
tem uma relação mal-explicada com um homem mais velho (Richard Jenkins, eficiente como sempre) e que mora na casa ao lado da
sua. Quando vários violentos assassinatos começam a ocorrer nos
arredores, Owen descobre que Abby está envolvida, mas decide manter com
ela - com quem compartilha um forte senso de solidão e inadequação - um
relacionamento de confiança e amizade. Porém, o cerco de um dedicado policial (Elias Koteas) e a aumento das torturas impostas por seus colegas acabam por precipitar um festival de violência que traz à tona a verdade sobre a origem da tímida menina.
A grande sacada de "Deixe-me entrar" é não ser um produto de terror no
sentido puramente tradicional. Ao priorizar a relação entre Owen e Abby
em detrimento de cenas sanguinolentas - ainda que apresente algumas
sequências bastante violentas e convincentes - o filme mostra seu
diferencial, ao preocupar-se com seus personagens mais do que com sua
vontade de assustar a qualquer preço. A excelente química entre
Smith-McPhee e a garotinha Chloe Moretz é preciosa e de certa forma
dispensa até mesmo outros atores: a mãe de Owen, por exemplo, nunca tem
seu rosto mostrado e o "pai" de Abby aparece sempre envolto em sombras e
escuridão. Até mesmo as cenas em que o suspense assume importância central o diretor opta
pela sutileza e pela discrição, filmando de longe ou protegido pela
fotografia, que lembra muito sua origem nórdica - é especialmente brilhante a escolha de iluminar os primeiros encontros entre os protagonistas com uma luz amarela e claustrofóbica, mesmo estando eles na rua. A preferência de Reeves pelo
não-explícito salva o filme do lugar-comum, mas paradoxalmente o afasta
dos fãs de coisas como "Crepúsculo", onde a inteligência inexiste e as regras impostas por dezenas de filmes sobre vampiros simplesmente são ignoradas. Sem
falar que, mesmo bem mais jovem, Smith-McPhee e Chloe Moretz são atores
muito, mas muito melhores que Robert Pattinson e Kirsten Stewart.
Fascinante, inteligente e dotado de uma elegância surpreendente, "Deixe-me entrar" é um dos filmes de terror mais interessantes da nova geração, equilibrando o grotesco e o sanguinolento com doses de delicadeza e sensibilidade. É difícil não torcer pela difícil amizade entre Owen e Abby, mérito de um conjunto de fatores acertados que transforma uma refilmagem - normalmente algo violentamente rechaçado pelos cinéfilos - em um produto muito acima da média, que não fica nada a dever a seu original (a não ser, é claro, pelas pequenas alterações feitas no roteiro que transformam radicalmente a verdadeira origem de Abby). Quem não se importar com purismos, no entanto, terá em mãos um filmaço de terror.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
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