sexta-feira

CORAÇÃO LOUCO

CORAÇÃO LOUCO (Crazy heart, 2009, Fox Searchlight Pictures, 112min) Direção: Scott Cooper. Roteiro: Scott Cooper, romance de Thomas Nobb. Fotografia: Barry Markowitz. Montagem: John Axelrad, Mary Vernieu. Música: Stephen Bruton, T Bone Burnett. Figurino: Doug Hall. Direção de arte/cenários: Waldemar Kalinowski/Carla Curry. Produção executiva: Leslie Belzberg, Eric Brenner, Jeff Bridges, Michael A. Simpson. Produção: T Bone Burnett, Judy Cairo, Rob Carliner, Scott Cooper, Robert Duvall. Elenco: Jeff Bridges, Maggie Gyllenhaal, Robert Duvall, Colin Farrell. Estreia: 06/12/09

3 indicações ao Oscar: Ator (Jeff Bridges), Atriz Coadjuvante (Maggie Gyllenhaal), Canção ("The weary kind")
Vencedor de 2 Oscar: Ator (Jeff Bridges), Canção ("The weary kind")
Vencedor de 2 Golden Globes:
Ator (Jeff Bridges), Canção ("The weary kind")

 Jeff Bridges é um cara do bem! Mesmo após tantas anos de carreira, nunca se soube de um escândalo envolvendo seu nome, e embora nem sempre ele tenha acertado nas suas escolhas profissionais (vide coisas como "Contagem regressiva" e "Nadine"), tem um currículo respeitável e íntegro. Por isso não seria injusto a Academia resolver lhe conceder um Oscar em homenagem ao conjunto de sua obra, como normalmente faz (e quase sempre com as pessoas erradas). Mas seria injusto - pra dizer o mínimo - afirmar que foram razões políticas que fizeram com que Briges tenha levado sua estatueta de melhor ator, em 2010. Ao contrário do que aconteceu com Sandra Bullock (que foi premiada mais por seus méritos de chamariz de público do que por seu talento como atriz), o trabalho do caçula do clã Bridges em "Coração louco" é irretocável e, caso perdesse a disputa era bem provável que a credibilidade dos eleitores do Oscar ficasse seriamente comprometida (se é que já não está com a vitória de Bullock).

Despido de qualquer vaidade, Bridges entrega o trabalho de sua carreira no papel de Bad Blake, um cantor country em franca decadência, que paga as contas fazendo shows em espeluncas de beira de estrada, onde aproveita para dar vazão a seu alcoolismo galopante e sua vida desregrada vida sexual. Recusando-se a vender-se ao sistema - leia-se aceitar abrir os shows de um astro milionário do gênero, o popular Tommy Sweet (um Colin Farrell contido e mostrando talento também como cantor) - Blake também tem uma relação mal-resolvida com o filho que não vê desde o fim de sua relação com sua mãe e acaba por encontrar uma luz no fim do túnel que vem sendo sua existência quando conhece a jovem repórter Jean Craddock (Maggie Gyllenhaal), mãe solteira de um adorável menino de quatro anos: aos poucos os dois iniciam um relacionamento apaixonado, que passa a ser ameaçado pela vida irresponsável de Blake e pelo medo dela em se entregar a um novo amor tão volátil e propenso a crises. Por causa de Jean, porém, o rebelde Blake resolve mudar de vida: aceita cantar com Tommy, volta a compor e decide parar de beber. Mas será que vontade é suficiente para enterrar seus problemas emocionais?



Apesar de trama de "Coração louco" esbarrar perigosamente no clichê em alguns momentos, seu diretor Scott Cooper demonstra segurança bastante para evitar que eles dominem sua narrativa tranquila, plácida e carregada de uma melancolia quase palpável. A trilha sonora, repleta de belas canções country (uma delas chegou a levar o Oscar da categoria) ajuda a emoldurar a atuação fascinante de Jeff Bridges, que foge magistralmente da armadilha de provocar pena na plateia. Sua personagem é falível, constantemente decepcionante, mas nunca deixa de parecer humano e encantador, além de possuir uma força própria que o talento de seu intérprete sublinha com perfeição. O que se vê, em "Coração louco" é a fotografia sem retoques da alma de um homem perdido dentro de seu instinto de autodestruição mas que consegue vislumbrar uma nesga de sol dentro de sua escuridão, mesmo que talvez seja tarde demais - dependendo do ponto de vista.

Contando com a ajuda pontual de Maggie Gyllehaal (indicada ao Oscar de coajduvante), Robert Duvall (co-produtor do filme) e Colin Farrell, Bridges apresenta ao público uma prova inconteste de seu imenso talento. Felizmente seu esforço foi percebido e um filme pequeno como "Coração louco" chegou aos cinemas e aos corações de seu público. Não é uma obra-prima, mas cumpre o que promete e vai além do esperado, em um final coerente e, de certa forma, inesperado.

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