DEMÔNIO (Devil, 2010, Universal Pictures, 80min) Direção: John Erick Dowdle. Roteiro: Brian Nelson, estória de M. Night Shyamalan. Fotografia: Tak Fujimoto. Montagem: Elliot Greenberg. Música: Fernando Velázquez. Figurino: Erin Benach. Direção de arte/cenários: Martin Whist. Produção executiva: Drew Dowdle, Trish Hofman. Produção: Sam Mercer, M. Night Shyamalan. Elenco: Chris Messina, Logan Marshall-Green, Jenny O'Hara, Bojana Novakovic, Bookem Woodbine, Geoffrey Arend, Jacob Vargas, Matt Craven, Josh Peace. Estreia: 17/9/10
Depois de praticamente ter virado piada em Hollywood graças a filmes como
"Fim dos tempos" e "O último mestre do ar", o cineasta M. Night
Shyamalan precisava urgentemente se reinventar. Porém, enquanto seu público fiel
esperava seu renascimento comercial e artístico - que ainda não veio - ele manteve sua carreira de
produtor, sem o peso exagerado de ter seu nome acima do título. Um de seus filmes nessa função foi "Demônio",
que fez um sucesso bastante razoável nos EUA: ao custo de apenas 10
milhões de dólares, ele recuperou o orçamento em seu fim-de-semana de
estreia e terminou contabilizando uma bilheteria de mais 30 milhões. Primeira
parte de uma planejada trilogia chamada "The night chronicles" - que
pretendia utilizar elementos sobrenaturais dentro de perímetros urbanos -
o filme de John Erick Dowdle (diretor do remake americano de "[REC]") é
interessante o bastante para justificar seu êxito e fazer o público
aguardar as novas estreias da série, que infelizmente acabaram por não sair.
A história de "Demônio" lembra um pouco as tramas de Stephen King e se
beneficia de não apelar para efeitos visuais, monstros ou maquiagem
exagerada. O protagonista é Bowden (o ótimo Chris Messina, de "Julie
& Julia"), um policial da Filadélfia que tenta recuperar-se da
trágica morte da família em um acidente de carro, cinco anos antes.
Enquanto investiga um suicídio em um luxuoso prédio comercial da cidade,
ele é chamado com urgência para ajudar no resgate de cinco pessoas que
ficaram presas em um elevador do mesmo edifício. Enquanto não conseguem
ser resgatadas, as cinco pessoas tem que lidar com estranhos
acontecimentos dentro do elevador. Um mecânico, uma senhora de idade,
um segurança terceirizado, um executivo e uma bela e requintada jovem
começam a morrer misteriosa e violentamente, praticamente frente às
câmeras de segurança e um dos guardas do prédio, fervorosamente
religioso, é o único com uma explicação para os acontecimentos: segundo
ele, um dos cinco presos no elevador é o demônio disfarçado, que veio à
Terra para buscar os demais.
Sem exigir mais do seu público do que simplesmente atenção e um pouco de
credulidade, o roteiro enxuto de Brian Nelson utiliza todos os clichês
do gênero a seu favor - algo que Shyamalan faz como poucos. O uso da cor
vermelha, característica sua, se faz presente em elementos visuais das
personagens, e o uso inteligente do som também colabora na tensão, nunca
exagerada e usada na medida certa. E contar com Chris Messina no elenco
não atrapalha em nada, muito pelo contrário: é Messina quem transmite
humanidade ao filme, em uma interpretação que não lhe ajudará em
cerimônias de premiação, mas que comprova o seu status de promessa (e
currículo ele tem: além de "Julie & Julia", ele fez parte da última
temporada da inesquecível "A sete palmos" e trabalhou com Woody Allen em
"Vicky Cristina Barcelona", além de ter entrado também no elenco do premiado "Argo" e do elogiado "Cake", ao lado de Jennifer Aniston.
Tendo sua despretensão e seriedade como principais armas contra a mesmice do suspense, preso em filmes que subestimam a inteligência do público com sustos baratos e tramas ocas, "Demônio" cumpre o que promete e vai mais além, oferecendo à plateia bons momentos de tensão e uma história suficientemente interessante e coerente até seus minutos finais - uma solução inspirada em Agatha Christie e que é capaz de deixar qualquer fã do gênero com um suspiro de alívio em relação a seu futuro. Agora resta esperar que Shyamalan cumpra a promessa e entregue os demais capítulos de sua trilogia.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
segunda-feira
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Um comentário:
Confesso que o filme me surpreendeu positivamente. Suspense e terror são gêneros cujos filmes mais recentes tem caído em lugar comum. Parece que a única proposta é assustar o espectador com efeitos sonoros e passar as horas do filme sem uma história, de fato, pra contar (Atividade Paranormal é um bom exemplo dessa tendência fracassada do terror). Demônio, como você bem pontoou, lembra bastante as tramas de Stephen King e tem um desfecho digno de Agatha Christie, ótima resenha!
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