FRANKIE & JOHNNY (Frankie & Johnny, 1991, Paramount Pictures, 118min) Direção: Garry Marshall. Roteiro: Terrence McNally, baseado em sua peça teatral "Frankie and Johnny in the Clair de Lune". Fotografia: Dante Spinotti. Montagem: Jacqueline Cambas, Battle Davis. Música: Marvin Hamlisch. Figurino: Rosanna Norton. Direção de arte/cenários: Albert Brenner/Kathe Klopp. Produção executiva: Michael Lloyd, Charles Mulvehill, Alexandra Rose. Produção: Garry Marshall. Elenco: Michelle Pfeiffer, Al Pacino, Kate Nelligan, Hector Elizondo, Glenn Plummer. Estreia: 11/10/91
Quase uma década separa o primeiro encontro nas telas entre Al Pacino e Michelle Pfeiffer. Em 1983, quando fizeram "Scarface", de Brian De Palma, Pacino já era um grande nome em Hollywood, com várias indicações ao Oscar e alguns clássicos no currículo, enquanto a bela Pfeiffer tentava emplacar no cinema e provar-se mais capaz do que simplesmente arrancar suspiros do público masculino. Oito anos mais tarde, muita coisa havia mudado: o veterano ator, depois de um exílio voluntário no teatro, retornava às telas com garra total (e elogios rasgados por filmes como "O poderoso chefão - parte 3" e "Dick Tracy", ambos de 1990), e a deslumbrante ex-modelo finalmente estava estabelecida como atriz de primeira grandeza, com duas indicações à estatueta e o respeito da indústria. Não é de admirar, portanto, que em "Frankie & Johnny", o filme responsável por seu reencontro, o que se veja é um amigável duelo de interpretações, entre dois astros consagrados e sem mais nada a provar a ninguém. O que surpreende, na verdade, é o quanto Michelle consegue se destacar mesmo diante de um monstro como Pacino!
Dirigidos por Garry Marshall - recém saído do estrondoso sucesso de "Uma linda mulher" (90) - e com base em uma peça teatral que contou com F. Murray Abraham e Kathy Bates em uma de suas montagens, "Frankie & Johnny" é um drama romântico que abre mão de vários dos clichês do gênero em busca de um tom mais realista e menos fantasioso. Os protagonistas, por exemplo, estão longe de serem jovens atléticos e milionários em busca de um romance de cinema: Johnny é um ex-presidiário solitário, que não tem coragem de reaproximar-se da ex-mulher e dos filhos mas deseja uma vida menos à margem da sociedade; e Frankie, depois de um relacionamento abusivo e violento, só quer ter paz para poder assistir a filmes no sossego de seu pequeno apartamento - e ocasionalmente divertir-se com o vizinho e melhor amigo, Tim (Nathan Lane). O encontro entre eles não se dá em um cenário paradisíaco e fotogênico de Nova York, mas sim no pequeno restaurante onde ela é garçonete e ele começa a trabalhar como cozinheiro. E não, não há intrigas e mal-entendidos durante o percurso entre seu primeiro contato e o amor que enfim surge: o autor da peça (e do roteiro), Terrence McNally, faz questão de manter tudo o mais perto possível do dia-a-dia, do mundano, do crível. Talvez por isso as plateias não tenham correspondido tão bem: com uma bilheteria de pouco mais de 20 milhões de dólares nos EUA, o filme de Marshall acabou conquistando apenas a crítica - e mesmo assim, com reservas. Pfeiffer foi indicada ao Golden Globe de melhor atriz dramática, mas Pacino foi simplesmente ignorado por todas as cerimônias de premiação do ano.
É fácil compreender o motivo pelo qual Pfeiffer chamou mais a atenção do que seu experiente colega de cena: enquanto ela opta por um caminho mais sutil e delicado de atuação, de acordo com o passado e o presente de sua personagem, Pacino encara seu Johnny como um homem que, apesar dos pesares, ainda mantém o bom humor e a esperança, frequentemente exagerando em suas tentativas de conquistar Frankie através de sua personalidade despachada. Nem sempre Pacino acerta o tom, e essa irregularidade acaba por jogar luz no trabalho minimalista de Michelle, cujo sorriso reflete com segurança a complexidade interna de uma mulher que não acredita no amor, mas que de certa forma precisa dele para sentir-se completa. Os diálogos de McNally são inteligentes e certeiros - respeitam seus protagonistas e a plateia com sensibilidade e humor - e a direção de Marshall, apesar de quadradinha em excesso, não atrapalha a dinâmica de seu elenco ou a fluidez da trama: como sempre em sua filmografia, ele sabe como transformar cenas simples em momentos no mínimo agradáveis. E se, em determinadas passagens parece tudo verborrágico demais, é bom lembrar das origens teatrais do texto e embarcar em uma história que (felizmente) dispensa artifícios narrativos e lances folhetinescos.
"Frankie & Johnny" é, em suma, um drama romântico para adultos. Sensível, delicado e inteligente, peca apenas por ser simples demais em sua essência - o que muitas vezes afugenta um público acostumado com excessos de todo tipo. Ao contrário da maioria de seus congêneres, não é o final feliz a todo custo que almeja, mas sim a empatia com seus protagonistas, a compreensão de suas idiossincrasias e a torcida para que, no desfecho, tudo saia como eles procuram - independentemente se isso virá com eles juntos ou não. É louvável que seu diretor tenha conseguido realizá-lo logo em seguida a seu êxito maior - justamente uma comédia romântica típica - sem deixar-se contaminar por maneirismos: são dois filmes opostos, apesar de seu tema comum (o amor), e Marshall comprovou que talento em perceber o humano em cada personagem era algo que realmente não lhe faltava. Vale experimentar, mas sem esperar os lugares-comuns do gênero.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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