Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
Mais do que apenas o representante oficial da
Argentina ao Oscar de melhor filme estrangeiro na cerimônia de 2002, “O filho
da noiva” marca também a segunda colaboração entre o roteirista/cineasta Juan
José Campanella e o ator Ricardo Darín – vindo logo em seguida de “O mesmo
amor, a mesma chuva” (99) e imediatamente antes do (esse sim oscarizado) “O
segredo dos seus olhos” (2009). Já empregando alguns dos ingredientes que
conquistam o espectador de seus trabalhos – a delicadeza da relação entre os
personagens, o senso de humor sutil, a crítica discreta à sociedade argentina e
doses comedidas de emoção -, o filme tornou-se um sucesso incontestável de
público e confirmou Darín como o mais popular astro de cinema de seu país, a
cara de uma filmografia que, a despeito da crise econômica, demonstrou uma
corajosa vitalidade e uma supreendente criatividade. Dando sequência à boa fase
que também ofereceu aos cinéfilos o divertido “Nove rainhas” (2000), “O filho
da noiva” é valorizado ainda pela presença luminosa de Norma Aleandro – mesmo
em um papel pequeno, a grande dama argentina rouba a cena com uma atuação que
estabelece o tom sentimental e familiar da trama criada por Campanella.
Darín, competente como sempre, vive Rafael
Belvedere, um quarentão em crise em praticamente todos os setores da vida:
separado da primeira mulher, sofre pressão da parte dela para ter maior contato
com a filha adolescente; sua nova namorada, Naty (Natalia Verbeke) cobra um
comprometimento maior em sua relação; o restaurante de sua família passa por
momentos complicados devido à crise econômica do país; e, para completar o
panorama, seu pai, Nino (Héctor Alterio) tem planos de comemorar as bodas de
prata de seu casamento com uma cerimônia de renovação de votos – um desejo
complicado pelo fato de sua esposa, Norma (Norma Aleandro), estar internada em
uma clínica, sofrendo de Alzheimer. Um inesperado ataque cardíaco e o reencontro
com Juan Carlos (Eduardo Blanco), um amigo de juventude, fazem com que Rafael
reflita sobre sua vida e tente encontrar uma saída que o permita levar uma
existência menos opressora e mais próxima de seus familiares.
Apesar de situar seu protagonista em meio a um
furacão pessoal impiedoso, o roteiro de “O filho da noiva” evita pesar a mão no
dramalhão, equilibrando, como é comum na filmografia de Juan José Campanella,
momentos de extrema sensibilidade com outros dotados de um delicioso senso de
humor. Mais uma vez Ricardo Darín se mostra o intérprete ideal para personagens
criados pelo cineasta – seu rosto comum e de fácil empatia com o público traduz
com perfeição o homem argentino médio, dividido entre trabalho e vida pessoal e
lutando para atravessar suas crises pessoais sem perder a essência do que o faz
um ser humano. E se seu carisma fortalece cada cena, ele encontra em Héctor
Alterio e Norma Aleandro parceiros inestimáveis: sempre que a dupla de
veteranos irrompe em cena, o filme se enche de beleza e emoção – principalmente
em seus últimos momentos, quando Campanella finalmente resolve baixar a guarda
e permitir que o público se entregue de vez às lágrimas.
Uma mistura agradável de drama familiar e comédia
de costumes, “O filho da noiva” é, ao mesmo tempo, uma crítica sutil à
sociedade argentina, soterrada por crises econômicas que empurram seus
habitantes a sofríveis relações interpessoais enquanto luta pela sobrevivência.
Rafael é um retrato vivo do país – alguém que, no fundo, precisa urgentemente
reorganizar suas prioridades para reencontrar sua humanidade e autorrespeito.
Juan José Campanella consegue o feito admirável de contar sua história de forma
a nunca subestimar a emoção do espectador ao mesmo tempo em que o faz pensar
sobre sua própria realidade social. Um belo filme – que perdeu o Oscar não para
o franco-favorito “O fabuloso destino de Amélie Poulain”, mas para o esloveno
“Terra de ninguém”. Parecia que a Academia sabia que, por melhor que já
parecesse, o cineasta conseguiria ser ainda melhor em um futuro próximo – que o
diga “O segredo dos seus olhos”!
Nenhum comentário:
Postar um comentário