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AMOR À TODA PROVA

AMOR À TODA PROVA (Crazy, stupid, love., 2011, Carousel Productions, 118min) Direção: Glenn Ficarra, John Requa. Roteiro: Dan Fogelman. Fotografia: Andrew Dunn. Montagem: Lex Haxall. Música: Christophe Beck, Nick Urata. Figurino: Dayna Pink. Direção de arte/cenários: William Arnold/David Smith. Produção executiva: Vance DeGeneres, Charlie Hartsock, David A. Siegel. Produção: Steve Carrell, Denise Di Novi. Elenco: Steve Carrell, Ryan Gosling, Julianne Moore, Emma Stone, Marisa Tomei, Kevin Bacon, Analeigh Tipton, Jonah Bobo, John Carrol Lynch. Estreia: 29/7/11


Depois de vários filmes densos e exaustivos psicologicamente – dentre os quais o suspense “A passagem” (05) e o drama romântico “Diário de uma paixão” (04) – o ator Ryan Gosling queixou-se a seu psicanalista de um quase esgotamento. A receita do médico foi a mais heterodoxa possível: entrar com urgência no elenco de uma comédia. Foi assim que um dos melhores atores de sua geração chegou até “Amor a toda prova”, um delicioso misto de comédia, drama e romance conduzido pela dupla Glenn Ficarra e John Requa. Diretores do subestimado “O golpista do ano” – estrelado por Jim Carrey e Ewan McGregor e prejudicado por uma estratégia de lançamento equivocada e expectativas errôneas por parte do público – Ficarra e Requa se baseiam no roteiro bem-amarrado de Dan Fogelman para construir uma ciranda de amores complicados e mal-entendidos fotografada com sofisticação e dotada de um senso de humor irônico e inteligente que raramente frequenta as produções do gênero. Também, é claro, não atrapalha em nada o fato de o elenco contar também com os fabulosos Julianne Moore, Marisa Tomei, Emma Stone e Steve Carrell – um dos produtores executivos do filme e seu protagonista.

Carrell, equilibrando genialmente o humor físico que lhe é característico com uma dose certeira de melancolia que lhe cai com perfeição, interpreta Cal Weaver, um quarentão que logo na primeira cena do filme é surpreendido pelo pedido de divórcio feito pela mulher, Emily (Julianne Moore) – que completa o quadro dramático assumindo que dormiu com um colega de trabalho. Prostrado em uma depressão que o faz chorar pelos cantos do escritório onde trabalha – “Graças a Deus é só um divórcio, poderia ser câncer!”, brada um colega, à guisa de consolo – Cal acaba indo parar em um luxuoso bar para solteiros (visualmente deslumbrante, como um paralelo óbvio à miséria interior do personagem), onde sua figura triste (calças folgadas, tênis, um corte de cabelo ultrapassado) acaba por chamar a atenção de Jacob Palmer (Ryan Gosling), um inveterado e conhecido don juan que, comovido por sua trágica situação, resolve bancar um moderno pigmalião e moldá-lo em um novo e mais autossuficiente modelo masculino. Em pouco tempo – e à custa de muitos dólares e muita humilhação – Cal vira outra pessoa, colecionando amantes ocasionais, para surpresa de sua ex-mulher – ainda hesitante em assumir um relacionamento com o pivô de sua separação, o confiante David Lindhagen (Kevin Bacon) – e da adolescente Jessica, filha de seu melhor amigo (John Carroll Lynch) e que nutre por ele um amor platônico mesmo sabendo que é o nada obscuro objeto de desejo de, filho de Cal e Emily.



Essa quadrilha de amores incompreendidos e/ou secretos se completa com o próprio Jacob, um rapaz bonito, sedutor e rico que, por trás de uma aparente autoconfiança esconde um romantismo enrustido que vem à tona quando conhece a jovem Hannah (Emma Stone), estudante de Direito que rejeita suas frequentes investidas como forma de manter-se fiel ao namorado desatento – até que, na mesma noite chuvosa em que Cal e Emily chegam a um impasse aparentemente insolúvel em sua relação, os dois finalmente se aproximam e deixam desabrochar uma história de amor cujo desfecho, como nas boas comédias de costumes dos anos 40 e 50, se dará em um clímax onde todas as tramas paralelas irão se encontrar de forma a provocar boas risadas – e surpreender o espectador com uma inesperada revelação.

Com um ritmo admirável que disfarça o fato de ser mais longo do que a maioria dos filmes de seu gênero, “Amor a toda prova” é uma comédia romântica muito bem-sucedida. Funciona em todos os níveis: convence como drama, faz rir em vários momentos, dosa com precisão o romantismo e amarra todas as pontas de seu roteiro com inteligência e clareza. Chega perto do sentimentalismo em suas sequências finais, mas o faz com tanta sinceridade que é difícil não se deixar envolver. E além de tudo, faz desfilar diante do público um elenco escalado a dedo. Steve Carrell brilha mais uma vez, apresentando uma química mais do que perfeita com todos os seus colegas de cena – seja com Ryan Gosling, mostrando um timing cômico inesperado, com Julianne Moore ou com Marisa Tomei (dona de uma cena antológica, onde reencontra o amante em uma situação pouco apropriada e não hesita em deixar bem clara a sua opinião sobre o pouco caso dele). Gosling e Emma Stone também soltam faíscas em cena – a longa sequência em que seus personagens passam a noite conversando é fascinante graças ao carisma de ambos, que não por acaso, repetiram a dupla romântica no menos leve “Caça aos gângsters”, de 2011.

Extremamente agradável e plenamente satisfatório, “Amor a toda prova” é um passo à frente na carreira de seus diretores, que demonstram um controle maior sobre o ritmo e a cadência de seu filme anterior e um notável talento em aproveitar o melhor de cada ator de seu brilhante elenco. Para os fãs do gênero, imperdível. Para quem procura uma diversão descompromissada sem abdicar de inteligência, altamente recomendável. Para Ryan Gosling, um remédio certeiro para os males da alma – e para mais um ponto mais do que positivo em uma carreira que tem tudo para ser longa e extremamente bem-sucedida.

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