LUZES DA CIDADE (City lights, 1931, Charles Chaplin Productions/United Artists, 87min) Direção e roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Gordon Pollock, Rollie Totheroh. Montagem: Charles Chaplin, Willard Nico. Música: Charles Chaplin. Cenários: Charles D. Hall. Produção: Charles Chaplin. Elenco: Charles Chaplin, Virginia Cherrill, Harry Myers, Florence Lee, Allan Garcia. Estreia: 30/01/31
Quando Charles Chaplin começou a produzir "Luzes da cidade", em 1928, o filme "O cantor de jazz" já havia estreado e o cinema havia entrado definitivamente na era do som, apesar das dúvidas do genial cineasta de que fosse algo além de uma fase passageira. Em 1931, quando seu filme finalmente estreou, depois de uma produção longa, cara e complicada, o criador do inesquecível Carlitos já não podia negar o inegável. No entanto, fiel a seus ideais, manteve sua obra muda - apesar de ocasionais ruídos e sons incluídos na pós-produção. E quem acreditava que filmes mudos eram coisa ultrapassada teve que reconsiderar a opinião: a história de amor entre o vagabundo mais famoso da história do cinema e uma florista cega conquistou o público e a crítica - além de seu próprio criador, que o considerava seu melhor filme. Fazem companhia a ele os cineastas Andrei Tarkovski, Woody Allen e Orson Welles - este último declarou se tratar do melhor filme de todos os tempos. Coisa de gênio!
E olha que tudo parecia conspirar contra o filme, além da polêmica da utilização do som. Sua produção começou no final de dezembro de 1927 e estendeu-se até janeiro de 1931, passando inclusive pela infame queda da bolsa de Nova York, em 1929. Durante as filmagens - que apesar da longa produção duraram menos de seis meses - Chaplin acabou por demitir a atriz principal, Virginia Cherril, com quem não mantinha uma relação das mais agradáveis, que chegou atrasada ao set de gravação. Sua ideia de refazer toda a sua parte com uma outra atriz, Georgia Hale, acabou mostrando-se contraproducente, o que acabou fazendo com que Cherrill voltasse à equipe... depois de exigir o dobro do salário combinado anteriormente. Nem a visita de Winston Churchill às filmagens diminuiu a pressão sobre os ombros do diretor, que acabou gastando a então fabulosa quantia de 1,5 milhão de dólares em seu projeto - quantia essa plenamente recuperada pelo impressionante êxito do resultado final, que o colocou imediatamente entre os mais rentáveis de sua carreira.
A história, como é comum na obra de Chaplin, é simples e direta, sem grande sofisticação. O protagonista (já conhecido dos fãs de Carlitos graças a outros filmes anteriores) é um vagabundo romântico e sensível que se apaixona perdidamente por uma vendedora de flores cega e irremediavelmente pobre. Disposto a ajudá-la a fazer uma cirurgia que poderá lhe devolver a visão, ele parte então em busca de um trabalho que lhe pague o suficiente - entre os quais servir como lutador de boxe em uma luta vendida que sai muito errado. Outra esperança que lhe aparece é a amizade que surge entre ele e um milionário beberrão (Harry Myers) que é generoso e excêntrico quando bêbado e que não o reconhece quando sóbrio. A moça cega - que acha que ele é rico por um mal-entendido que ele prefere não esclarecer - não perde a esperança, principalmente quando se descobre apaixonada.
Utilizando-se dessa história quase banal, Charles Chaplin criou uma de suas obras-primas, capaz de fazer rir e emocionar em vários momentos. Inúmeras sequências já se tornaram antológicas, como a tentativa de suicídio do milionário - que ele tenta impedir da maneira mais atrapalhada possível - a música que inventa quando se vê obrigado a distrair uma plateia e, logicamente, a sequência que dá origem à confusão da jovem cega, filmada por Chaplin mais de 300 vezes até que o cineasta se desse por satisfeito. Repleto de cenas que equilibram com rara maestria o humor e a melancolia, "Luzes da cidade" fica na memória pela delicadeza com que trata seus personagens e a audiência, provando que nem sempre o som é algo imprescindível em uma produção cinematográfica quando ela tem alma, coração e inteligência.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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