50% (50/50, 2011, Summit Entertainment, 100min) Direção: Jonathan Levine. Roteiro: Will Reiser. Fotografia: Terry Stacey. Montagem: Zene Baker. Música: Michael Giacchino. Figurino: Carla Hetland. Direção de arte/cenários: Annie Spitz/Shane Vieau. Produção executiva: Nathan Kahane, Will Reiser. Produção: Evan Goldberg, Ben Karlin, Seth Rogen. Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Seth Rogen, Anna Kendrick, Anjelica Huston, Philip Baker Hall, Bryce Dallas Howard. Estreia: 12/9/11 (Festival de Toronto)
Passar por um câncer raro na coluna provavelmente não é exatamente uma
das experiências mais agradáveis da vida, mas há quem consiga ver um
lado bom até nisso. É o caso do roteirista Will Reiser, que utiliza suas
lembranças da doença como matéria-prima de "50%", comédia dramática
que arrancou elogios da crítica e até foi cotado para conquistar uma vaga
entre os candidatos ao Oscar de roteiro original de 2011. A maior
qualidade do filme dirigido por Jonathan Levine? A forma franca e
direta com que trata o tema, equilibrando com inteligência momentos de
cortar o coração com um senso de humor que o afasta do dramalhão
sentimentaloide.
Amparado pela bela atuação do cada vez melhor Joseph Gordon-Levitt - que
substituiu James McAvoy dois dias antes do início das filmagens - o
filme de Levine acompanha a trajetória do jornalista Adam Learner, de 27
anos, depois que ele descobre que tem um tipo raro de câncer (de
origem genética) na coluna. Atordoado com a notícia (como não poderia
deixar de ser), ele conta com a ajuda do melhor amigo Kyle (Seth Rogen)
para lidar com as consequências da doença. Entre sessões de terapia
com a jovem médica Katherine (Anna Kendrick) e quimioterapia com o
veterano paciente Alan (Philip Baker Hall), Adam precisa também superar
a crise em seu relacionamento com a artista plástica Rachael (Bryce
Dallas Howard) e recuperar sua relação com os pais, em especial a mãe
superprotetora Diane (Anjelica Huston, dando olé em cada cena que
aparece).
Realizado de forma independente com um orçamento irrisório de 8 milhões
de dólares (que se transformaram em mais de 30 somente nos EUA),
"50%" surpreende também pela forma não-romantizada com que trata a
situação central da história, não derrapando na tentação de partir
para clichês de autoajuda. Ainda que seja positivo, não esconde também o
lado pesado da situação vivida pelo protagonista, interpretado com
simpatia por Gordon-Levitt (indicado ao Golden Globe de melhor ator): para
cada momento de humor (genuíno, inteligente e irônico) há uma cena capaz
de emocionar (delicadamente, sem exageros), lembrando à audiência que,
apesar das risadas, a história que está sendo contada não é um
pastelão inconsequente.
Embora a opção do roteiro em não estigmatizar a doença através do humor
possa ser considerada de mau-gosto por uma parcela mais conservadora
do público, é inegável que a leveza com que Reiser revestiu sua triste
(mas esperançosa) história é muito mais palatável à
plateias contemporâneas do que o petardo emocional "Laços de ternura",
citado nominalmente em um diálogo do filme. "50%" é muito melhor do que
sua aparência de filme indie e metido a modernoso. Embalado por uma
irresistível trilha sonora (que une Roy Orbison a Eddie Vedder) e
interpretado por um elenco em dias inspirados (inclusive o bobalhão
Seth Rogen, provando que por trás do comediante exagerado existe um ator de grande potencial), é uma das gratas surpresas
da temporada, infelizmente lançada diretamente em DVD no Brasil (em
mais uma prova da falta de visão das distribuidoras).
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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