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A MÃO DO DIABO

A MÃO DO DIABO (Frailty, 2001, David Kirschner Productions/American Entertainment, 100min) Direção: Bill Paxton. Roteiro: Brent Hanley. Fotografia: Bill Butler. Montagem: Arnold Glassman. Música: Brian Tyler. Figurino: April Ferry. Direção de arte/cenários: Nelson Coates/Linda Lee Sutton. Produção executiva: Tom Huckabee, Karen Loop, Tom Ortenberg, Michael Paseornek. Produção: David Blocker, David Kirschner, Corey Sienega. Elenco: Bill Paxton, Matthew McConaughey, Powers Booth, Matt O'Leary, Jeremy Sumpter, Levi Kreis, Luke Askew. Estreia: 17/11/01

Ator de inúmeros sucessos de bilheteria, muitos deles sob o comando de James Cameron - "Aliens, o resgate", "True lies", "Titanic" - Bill Paxton fez sua estreia como diretor em um gênero inesperado: o suspense. Uma história de violência, fé e amor entre pai e filhos, "A mão do diabo" foi aplaudido entusiasticamente tanto por Cameron quanto por nomes consagrados como Sam Raimi e Stephen King, e mostrou em Paxton um talento surpreendente em explorar com discrição e sutileza uma trama que, em mãos menos discretas, poderia descambar para a sanguinolência excessiva. Assumindo também um dos papéis principais da história, ele consegue inclusive disfarçar suas fragilidades como ator, desviando o foco da narrativa para o ótimo adolescente Matt O'Leary, que tem a difícil tarefa de guiar uma trama densa e repleta de possibilidades dramáticas que também deu a Matthew McConaughey um dos melhores papéis de sua carreira pré-Oscar.

McConaughey vive Fenton Meiks, um homem que chega à sede do FBI em Dallas, durante uma noite chuvosa, querendo conversar com o agente Wesley Doyle (Powers Boothe), responsável pela investigação de uma série de crimes cometida por um serial killer chamado "A mão de Deus". Segundo Meiks, o autor dos crimes é seu irmão caçula, Adam, e os motivos dos assassinatos remetem à sua infância, quando seu pai (Bill Paxton) os obrigou a testemunhar e participar de várias mortes, de acordo com ele devido à orientação divina. Viúvo e pai dedicado, o até então tranquilo e carinhoso pai de família transformou-se em um anjo exterminador, matando a machadadas todos aqueles constantes na lista enviada por Deus. Chocado com a história contada pelo inesperado informante, o policial aceita levá-lo até o local onde estão enterradas algumas das vítimas do criminoso - e a trama então dá sua virada (coerente e apropriada).


Com um roteiro enxuto e com doses exatas de suspense e drama, "A mão do diabo" tem uma grande vantagem em relação a outros filmes do gênero: não cai na tentação de ser engraçadinho. A direção de Paxton, segura e clássica, não recorre a momentos de alívio cômico, concentrando-se exclusivamente na narração de sua história, de forma a envolver o espectador desde suas primeiras cenas até o final - aterrador mas nunca além dos limites do bom gosto. Como uma boa história de detetive temperada com sobrenatural (ou não, dependendo do ponto de vista), o filme conquista também pela suavidade com que apresenta sequências que poderiam facilmente escorregar em uma violência redundante. Utilizando-se de uma fotografia em tons sóbrios, Paxton ameniza a crueldade de suas cenas justificando-as através das palavras do protagonista, um tipo messiânico que tanto pode estar nitidamente enlouquecendo quanto mostrando-se um escolhido de Deus para limpar o mundo. Essa dualidade, que se mantém até o final da projeção, é outro acerto gigantesco da produção, por permitir ao espectador tomar parte no processo de compreensão da trama.

E se Paxton não é exatamente um grande ator, como diretor ele consegue a façanha de extrair de seu elenco interpretações do mesmo nível do roteiro. Matthew McConaughey sai-se muito bem como o misterioso Fendon Meiks, enquanto cabe a Powers Boothe o ingrato papel de ouvinte - até a reviravolta final, que vira o jogo e transforma o filme em um duelo dos mais empolgantes (sem que para isso seja necessário um orçamento milionário ou efeitos especiais mirabolantes). Mas quem se destaca é mesmo Matt O'Leary, que empresta a seu adolescente Fenton Meiks uma força dramática que vai se avolumando no decorrer da narrativa até assumir o papel de heroi em uma das cenas mais arrepiantes da produção - que fará ainda mais sentido nos momentos finais da história.

Contando sua história à moda antiga - se dedicando aos personagens mais do que aos sustos - Bill Paxton faz de "A mão do diabo" um dos grandes filmes de suspense de seu tempo. Uma pena que, até hoje, o ator não voltou para o banco de diretor.

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