LEGALMENTE
LOIRA (Legally blonde, 2001, MGM Pictures, 96min) Direção: Robert
Luketic. Roteiro: Karen McCullah, Kirsten Smith, romance de Amanda
Brown. Fotografia: Anthony B. Richmond. Montagem: Anita Brandt Burgoyne,
Garth Craven. Música: Rolfe Kent. Figurino: Sophie de Rakoff Carbonell.
Direção de arte/cenários: Melissa Stewart/Kathy Lucas. Produção: Ric
Kidney, Marc Platt. Elenco: Reese Witherspoon, Luke Wilson, Matthew
Davis, Selma Blair, Victor Garber, Ali Larter, Jennifer Coolidge, Raquel
Welch. Estreia: 26/6/01
A princípio parece apenas e
simplesmente mais uma comédia bobinha que celebra a futilidade e as
aparências - e no fundo talvez seja exatamente isso. Mas o fato é que
"Legalmente loira", ao eleger como protagonista uma patricinha incurável
(e por isso mesmo adorável) tentando encontrar seu lugar em um mundo
hermético a suas ideologias estéticas e hedonistas, tornou-se um sucesso
instantâneo de bilheteria, arrecadando quase 100 milhões de dólares
somente no mercado doméstico - e uma pequena fortuna ao redor do mundo,
também seduzido pelo carisma de sua atriz principal, Reese Witherspoon
- no filme que fez dela uma estrela milionária cinco anos antes de seu
Oscar por "Johnny & June".
Escolha perfeita
para o papel central, Witherspoon vive com graça e excelente timing
cômico a superficial e popular Elle Woods, principal referência de
estilo, beleza e moda dentre suas amigas da fraternidade estudantil. Sua
vida aparentemente perfeita vira do avesso, porém, quando seu namorado,
Warner (Matthew Davis) - igualmente belo, popular e invejado - termina o
namoro às vésperas de viajar para começar a faculdade de Direito:
segundo ele, seus planos sérios de chegar à política americana estão
ameaçados se ele mantiver a seu lado uma garota como Elle, fútil e
incapaz de transmitir uma imagem sóbria e adulta. Desesperada e ofendida
em seus princípios, a jovem não fica muito tempo na fossa e logo
descobre uma maneira de provar ao rapaz que ele está errado em seu
julgamento. Disposta a reconquistá-lo, Elle resolve também entrar na
faculdade de Direito e depois de muito estudo, consegue nota suficiente
para fazer parte do corpo discente da rígida Harvard. Praticamente
ridicularizada por suas roupas de marca, sua aparência espalhafatosa e
por seus modos poucos comuns aos alunos da universidade, ela ainda
precisa enfrentar seu maior desafio: provar seu valor intelectual e
roubar Warner de sua noiva, a séria e insossa Vivian Kesington (Selma
Blair).
Para
atingir seus objetivos, Elle não mede esforços e consegue ser chamada
por seu professor, Callahan (Victor Garber), para fazer parte de um
grupo de estudantes que o ajudará a defender uma cliente acusada de
assassinar o marido milionário. Tal cliente, Brooke Taylor Windham (Ali
Larter), famosa por seus vídeos de ginástica, acaba se identificando com
Elle, para desprezo de Vivian, surpresa de Warner e admiração do sócio
de Callahan, Emmett (Luke Wilson), que aos poucos passa a se interessar
romanticamente pela desmiolada estudante. Enquanto isso, ela arruma
tempo também para ajudar sua manicure, Paulette (a ótima Jennifer
Coolidge) a conquistar o homem responsável pela correspondência de seu
salão de beleza. Seus modos cativantes e honestos por fim terminam por
derrubar as barreiras que a separam dos sisudos e preconceituosos
colegas de faculdade.
Uma espécie de conto de fadas
capitalista e hedonista, "Legalmente loira" cumpre com louvor seu papel
de divertir sem compromisso: sua história simples e direta - baseada em
romance de Amanda Brown - não desperdiça tempo com subtramas
desnecessárias (até mesmo a história de amor de Paulette é contada de
forma rápida e eficaz) nem tampouco tenta ser mais do que simples
entretenimento. Sua opção em não aprofundar seus personagens, ficando
sempre na superfície de seus sentimentos de certa forma ecoa a
personalidade do filme, uma trama cor-de-rosa e ligeira feita apenas
para entreter despretensiosamente. Seu enorme sucesso - que acabou por
gerar uma continuação fraca e anêmica - é uma prova de que, apesar dos
dramas premiados, das superproduções milionárias e dos filmes
independentes com ambições intelectuais maiores, sempre haverá espaço,
no coração do público, para o riso fácil e ingênuo.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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