IRIS
(Iris, 2001, BBC Films/Intermedia Films, 91min) Direção: Richard Eyre.
Roteiro: Richard Eyre, Charles Woods, livros "Iris: a memoir" e "Elegy
for Iris", de John Bailey. Fotografia: Roger Pratt. Montagem: Martin
Walsh. Música: James Horner. Figurino: Ruth Myers. Direção de
arte/cenários: Gemma Jackson/Trisha Edwards. Produção executiva: Guy
East, Tom Hedley, Anthony Minghella, Sydney Pollack, David M. Thompson,
Harvey Weinstein. Produção: Robert Fox, Scott Rudin. Elenco: Judi Dench,
Jim Broadbent, Kate Winslet, Hugh Boneville. Estreia: 14/12/01
3 indicações ao Oscar: Atriz (Judi Dench), Ator Coadjuvante (Jim Broadbent), Atriz Coadjuvante (Kate Winslet)
Vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante (Jim Broadbent)
Vencedor do Golden Globe de Ator Coadjuvante (Jim Broadbent)
Filósofa,
romancista, poeta e dramaturga, Iris Murdoch foi uma das intelectuais
mais respeitadas do século XX. Dona de um espírito livre e à frente do
seu tempo, ela encantou a homens e mulheres na mesma medida, mas foi
apenas uma história de amor que marcou sua brilhante trajetória. Essa
história, vivida ao lado do marido, o também escritor John Bailey - que
aceitou as idiossincrasias da mulher e ficou a seu lado até seus últimos
momentos - foi contada em dois livros, que, juntos, chegaram adaptados
às telas de cinema em 2001, sob a direção de Richard Eyre. Estrelado por
Judi Dench e Kate Winslet dividindo o papel central em duas fases
distintas da protagonista, "Iris" comoveu os membros da Academia, que
indicou ambas ao Oscar - Dench na categoria principal, Winslet como
coadjuvante - mas premiou apenas Jim Broadbent por seu desempenho como
Bailey, seu leal e dedicado marido. Partilhando o papel com Hugh
Boneville (de impressionante semelhança física e que o interpreta na
juventude), Broadbent ficou com a estatueta no mesmo ano em que também
marcou presença em dois sucessos de bilheteria: em "O diário de Bridget
Jones" viveu o pai da protagonista interpretada por Renée Zelwegger, e
em "Moulin Rouge", dava vida a Harold Zidler, o dono do cabaré que dava
título ao filme de Baz Luhrmann.
Os inúmeros prêmios
arrebatados por Broadbent - que incluem também o Golden Globe e a láurea
dos críticos de Los Angeles e do National Board of Review - refletem,
sem dúvida nenhuma, uma interpretação intensa e visceral, mas não
conseguem eclipsar o trabalho espetacular da sempre ótima Judi Dench -
também ela multipremiada por seu desempenho. Atriz repleta de nuances,
Dench tira partido de sua vasta experiência para criar uma Iris Murdoch
emocionante em sua maturidade, quando começa a demonstrar os traços do
mal de Alzheimer que a acompanharia até seus momentos finais. Em um
trabalho calcado basicamente no olhar triste e desesperado de uma mulher
diante do fim de sua genialidade, ela consegue até mesmo a façanha de
sobressair-se a um roteiro que, tentando ecoar a poesia do texto de
Bailey, sofre de uma fragilidade dramática que dissolve suas
possibilidades dramáticas. Mesmo tratando de um tema forte e contando
uma história com altas chances de arrancar lágrimas dos espectadores,
"Iris" não consegue disfarçar sua frieza narrativa.
Intercalando
sua história entre o início da relação entre os protagonistas - então
vividos por Kate Winslet e Hugh Boneville - e os anos finais da vida da
escritora, quando sua doença torna-se o ponto central da trama, "Iris"
tem a seu favor, além do elenco escalado à perfeição, uma direção
sensível e uma trilha sonora delicada, que ilustra as cenas sem invadir
desnecessariamente o enredo. Porém, assim como o roteiro por vezes se
perde na fidelidade quase exagerada à fonte original, a edição de Martin
Walsh ocasionalmente tropeça nas tentativas de fundir superfluamente os
dois tempos narrativos, não permitindo à plateia que se envolva com a
profundidade necessária no drama dos protagonistas. Resta então
mergulhar nas atuações mais do que fascinantes do quarteto de atores,
que entrega performances muito acima da média. Kate Winslet constrói uma
Iris vivaz, quase impertinente, libertária e ousada, capaz de flertar
intelectual e sexualmente com qualquer pessoa. Seu parceiro de cena,
Hugh Boneville - que havia aparecido antes em "Um lugar chamado Notting
Hill", como um dos amigos de Hugh Grant - é um contraponto interessante à
seu vulcão de sensualidade e dinamismo e seu trabalho conjunto com Jim
Broadbent é um dos pontos altos do filme. E Judi Dench, desnecessário
lembrar, hipnotiza sempre que está em cena, com uma presença luminosa
mesmo em seus piores e mais trágicos momentos.
Triste e
um tanto depressivo, "Iris" foge facilmente do estigma de ser apenas um
filme veridíco sobre uma escritora talentosa e uma doença fatal que a
aniquila. Dirigido com seriedade e extrema sensibilidade por Richard
Eyre - que voltaria a dirigir Dench no superior "Notas sobre um
escândalo" (06) - o filme é uma bela história de amor e lealdade,
contado com poesia e discrição. Se os livros de Bailey já eram uma bela
homenagem à Murdoch, sua adaptação para as telas é um belíssimo
complemento.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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Um comentário:
Não assisti, mas fiquei curioso pra ler sobre. E li. Contigo não vejo problema nenhum em ler sobre o que não assisti (noooooope, não é indireta, é de verdade mesmo), às vezes é até melhor. Conheço mais sobre o que não sei.
Minha curiosidade pra assistir ao filme era por causa da Kate Winslet. Vi a primeira imagem do post e suas palavras sobre ela e também fiquei assim pela Judi.
Zukm.t
ppb
bjoooooooooooooooo
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