A LONGA CAMINHADA DE BILLY LYNN (Billy Lynn's long halftime walk,
2016, Bona Film Group/Film4/Ink Factory, 113min) Direção: Ang Lee.
Roteiro: Jean-Christophe Castelli, romance de Ben Fountain. Fotografia:
John Toll. Montagem: Tim Squyres. Música: Jeff Dana, Mychael Danna.
Figurino: Joseph G. Aulisi. Direção de arte/cenários: Mark
Friedberg/Elizabeth Keenan. Produção executiva: Brian Bell, Guo
Guangchang, Jeff Robinov, Ben Waisbren. Produção: Stephen Cornwell, Ang
Lee, Marc Platt, Rhodri Thomas. Elenco: Joe Alwyn, Garrett Hedlund,
Arturo Castro, Mason Lee, Astro, Vin Diesel, Steve Martin, Kirsten
Stewart, Chris Tucker, Tim Blake Nelson. Estreia: 14/10/16 (Festival de
Nova York)
É incrível, mas mesmo um cineasta de imenso talento, como é o caso de Ang Lee (vencedor de dois Oscar de direção e um de filme estrangeiro) pode cometer grandes equívocos. O primeiro deles foi "Cavalgada com o diabo" (99), sobre a Guerra de Secessão e estrelado por Tobey Maguire. Depois, veio "Hulk" (2003), que apesar das qualidades é mais lembrado como um fracasso do que como um êxito comercial. E então, depois do enorme sucesso e dos prêmios por "As aventuras de Pi" (2012), surge "A longa caminhada de Billy Lynn", que não apenas naufragou nas bilheterias americanas (mal ultrapassou a marca de 1 milhão de dólares de arrecadação, contra seu orçamento de 40) como também colecionou críticas nada amigáveis da imprensa, normalmente bastante gentil com os filmes do cineasta. Enfatizando seu ritmo lento em excesso, sua falha em transmitir as mensagens que deseja e a fragilidade do roteiro - baseado em romance de Ben Fountain - as resenhas negativas infelizmente tem razão: o filme de Lee é indubitavelmente chato, e na maior parte do tempo falha sensivelmente em transmitir sua principal mensagem contra a guerra no Iraque.
Ao contrário do que fez o inglês Sam Mendes, que também criticava a intervenção americana no Oriente Médio em seu "Soldado anônimo" (2005) - também fracasso de bilheteria, mas elogiado e prestigiado pela crítica - o trabalho de Ang Lee não consegue, em momento algum, conquistar a empatia da plateia para seu protagonista, interpretado pelo britânico Joe Alwyn em sua estreia no cinema. Apesar de demonstrar talento, Alwyn é inexperiente para desviar das constantes armadilhas de um roteiro confuso, sem emoção e que dá a impressão de não caminhar para lugar algum. Diretor sensível e inteligente, Lee consegue extrair bons desempenhos de seus atores mesmo quando a tarefa parece árdua, mas esbarra em uma surpreendente incapacidade de fazer com que sua história seja atraente para o público, o que não deixa de ser decepcionante quando se trata de um homem que transformou um filme de kung-fu em arte pura com "O tigre e o dragão" (2000) e emocionou o mundo com um romance entre cowboys homossexuais em "O segredo de Brokeback Mountain" (2005). Talvez focado em experimentar um formato novo - com um número de frames muito superior ao convencional - o cineasta tenha deixado escapar o que de melhor ele sempre apresentou em sua filmografia: o sentimento acima de qualquer outro elemento narrativo.
Mesmo em filmes como "As aventuras de Pi", filmado em 3D e recheado de efeitos visuais fascinantes, Ang Lee nunca abriu mão de dar extrema atenção à verdadeira alma de seus trabalhos: os personagens. Em "A longa caminhada de Billy Lynn", porém, parece que ele esqueceu de seu mandamento primordial: não apenas o protagonista como todos os coadjuvantes carecem de força e de empatia, impedindo a plateia de conectar-se a suas reações e emoções. Essa falta absoluta de identificação do público com o personagem central é imperdoável, uma vez que o centro da narrativa é justamente a trajetória emocional de Billy, iluminada através de flashbacks que nem sempre funcionam como deveriam e por vezes chegam a atrapalhar a condução da história, mais confundindo do que esclarecendo. O roteiro, por sua vez, insinua o tempo todo que algo grandioso está sendo preparado para seu clímax e quando tem a oportunidade de converter esse restinho de expectativa em algo que justifique as quase duas horas de duração do filme, entrega um desfecho tão decepcionante quanto o resto da produção - se é que alguém da audiência ainda tinha esperanças de um final menos morno.
O pior é que a sinopse do filme de Lee é até instigante: Billy Lynn, o protagonista, é um jovem de 19 anos de idade tornado uma espécie de herói de guerra depois de um ato de coragem cometido durante um confronto no Iraque. Com sua ação filmada e televisionada, ele e seu pelotão (intitulado Brave Squad) conquistam a admiração incondicional do povo norte-americano a ponto de haver interesse até mesmo de Hollywood em transformar sua trajetória em filme. Para capitalizar em cima da popularidade do grupo, o exército dos EUA programa uma espécie de turnê dos soldados, culminando com sua apresentação no show de intervalo de um jogo de futebol transmitido no Dia de Ação de Graças. Nesse meio-tempo, Lynn conhece as diferenças entre o que se fala a respeito do conflito no Oriente Médio e o que realmente acontece nos campos de batalha - enquanto relembra também sua relação com a família. Essa trama, porém, não engrena, deixando o espectador sempre esperando que a ação vá começar a qualquer momento, o que não acontece jamais. "A longa caminhada de Billy Lynn" é um grande passo em falso na carreira de Ang Lee e um dos filmes mais decepcionantes da temporada 2016.
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