INTERESTELAR (Interstellar, 2014, Paramount Pictures/Warner
Bros/Legendary Entertainment, 169min) Direção: Christopher Nolan.
Roteiro: Christopher Nolan, Jontahan Nolan. Fotografia: Hoyte Van
Hoytema. Montagem: Lee Smith. Música: Hans Zimmer. Figurino: Mary
Zophres. Direção de arte/cenários: Nathan Crowley/Gary Fettis, Helen
Kozora-Tell. Produção executiva: Jordan Goldberg, Jake Myers, Kip
Thorne, Thomas Tull. Produção: Christopher Nolan, Lynda Obst, Emma
Thomas. Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain,
Matt Damon, Michael Caine, Ellen Burstyn, David Oyelowo, Wes Bentley,
William Devane, Casey Affleck, Topher Grace. Estreia: 26/10/14
5 indicações ao Oscar: Trilha Sonora Original, Direção de Arte/Cenários, Edição de Som, Mixagem de Som, Efeitos Visuais
Vencedor do Oscar de Efeitos Visuais
Em 2006, quando ainda era um projeto da Paramount Pictures, "Interestelar" seria dirigido por um tal de Steven Spielberg, que contratou Jonathan Nolan para escrever o roteiro, inspirado em teorias científicas do físico Kip Thorne. A história original, que envolvia um conceito chamado de "caminho de minhoca" e várias outras situações que também inspiraram Carl Sagan a escrever seu clássico "Contato", acabou sendo deixada de lado pelo oscarizado cineasta em 2012, quando foi parar, então, nas mãos do irmão do roteirista, um homem que, em poucos anos de carreira, já havia redefinido os filmes de super-heróis com uma sombria trilogia protagonizada por Batman e criado um dos mais fascinantes e inteligentes filmes de ação da história ("A origem"): assumindo um projeto arriscado, caro (165 milhões de dólares) e sujeito à boa vontade de uma plateia mal-acostumada com blockbusters que não exigem muito do cérebro, Christopher Nolan transferiu a produção para sua casa (Warner Bros) e, com uma equipe de confiança a seu lado, realizou mais uma obra-prima que conquistou o público. Com mais de 600 milhões de dólares arrecadados ao redor do mundo, "Interestelar" - uma ficção científica empolgante, inteligente e emocionante - também colocou seu diretor em uma posição bastante privilegiada na indústria, ao ser o quarto filme seguido do diretor eleito como um dos dez melhores do ano pelo American Film Institute.
Como é comum na filmografia de Nolan, "Interestelar" se utiliza de uma técnica impecável para contar uma história que, no fundo, tem ressonâncias emocionais da mais alta profundidade. Sua receita de sucesso - contar com personagens fortes e ligações interpessoais que conectem a plateia com a trama, por mais complexa que ela possa parecer a princípio - mostrou-se vitoriosa principalmente em "A origem" (2010), e volta a funcionar à perfeição neste que talvez seja seu filme mais difícil até o momento. Longo (quase três horas de duração), dotado de um ritmo próprio que evita os clichês de filmes de ação e repleto de explicações científicas que poderiam assustar qualquer espectador acostumado às explosões sem sentido de Michael Bay, "Interestelar" é a prova cabal de que inteligência e diversão podem tranquilamente caminhar lado a lado - e que o público não é tão avesso quanto se pensa ao ato de por o cérebro para funcionar de vez em quando. Vencedor do Oscar de efeitos visuais - concorreu também às estatuetas de edição de som, mixagem de som, trilha sonora e direção de arte - o filme seduz pelo visual estonteante, mas se torna uma experiência única quando deixa a sensibilidade falar mais alto que a tecnologia.
A história imaginada por Nolan começa como mais uma produção sobre futuros distópicos, onde a humanidade está ameaçada de desaparecer diante de uma série de catástrofes que foram minando, pouco a pouco, todos os recursos naturais da Terra. É nesse ambiente desolador que o público é apresentado ao protagonista, Cooper (Matthew McConaughey), um engenheiro e piloto de testes da NASA tornado fazendeiro no Texas após a morte da esposa, e que tenta, a muito custo, manter a propriedade da família e cuidar dos dois filhos e do sogro. Seu destino, porém, logo lhe será revelado: após investigar o aparecimento de misteriosos sinais em sua fazenda, Cooper resolve seguir suas coordenadas e acaba parando em um bunker secreto, comandado pelo veterano John Brand (Michael Caine), um cientista com quem já havia trabalhado no passado. É Brand quem convence Cooper a entrar na mais perigosa aventura de sua vida: juntar-se a um pequeno grupo de exploradores - que inclui a filha de seu ex-chefe, Amelia (Anne Hathaway) - e viajar no espaço à procura de planetas que possam servir de salvação para o aparentemente inevitável extermínio da Terra e seus habitantes. Pensando nos filhos e na possibilidade de salvar a humanidade - um plano B seria o de colonização de outro ambiente propício à sobrevivência humana - Cooper aceita a missão, para desespero de sua filha, Murphy (Mackenzie Foy), uma menina de inteligência acima da média que se recusa a aceitar a partida do pai. A viagem exploratória começa, e é a partir daí que "Interestelar" pega todo mundo de surpresa.
Durante mais de duas horas, o roteiro dos irmãos Nolan segue o padrão dos filmes de ficção científica a que o público está habituado: efeitos visuais de primeira, alguns diálogos recheados de termos complexos, sequências de ação deslumbrantes e com altas doses de suspense, personagens que não são exatamente o que parecem. São seus trinta minutos finais, porém, que o tornam especial. Com uma reviravolta que põe em perspectiva tudo que foi mostrado até então e torna essenciais cada linha de diálogo e cada detalhe mostrados anteriores, a trama fecha um ciclo que, mais do que científico e metafísico, é essencialmente familiar e emotivo, oferecendo à uma Murphy adulta (e vivida com a competência de sempre por Jessica Chastain) uma importância crucial para um desfecho de arrepiar até ao mais cínico dos espectadores. Não importa se a plateia entende os conceitos de "buraco de minhoca" ou tem domínio da maior parte das explanações científicas da trama: é a humanidade que vem dos personagens que faz do filme universal e atemporal. Mais uma obra-prima de Christopher Nolan.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
INTERESTELAR
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