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OS 3

OS 3 (Os 3, 2011, Warner Bros/Teleimage/Cinema SportClub, 80min) Direção: Nando Olival. Roteiro: Thiago Dottori, Nando Olival. Fotografia: Ricardo Della Rosa. Montagem: Daniel Rezende. Figurino: Pamela Tomioka. Direção de arte: Clô Azevedo. Produção executiva: Claudia Buschel, Wellington Pingo. Produção: Nando Olival, Ricardo Della Rosa. Elenco: Gabriel Godoy, Victor Mendes, Juliana Schalch, Sophia Reis. Estreia: 07/10/11

Cazé, Camila e Rafael são jovens universitários recém-chegados à São Paulo, com sonhos e objetivos bem definidos, mas sem muitas condições financeiras para sustentá-los além do básico. Em uma festa, se conhecem, se conectam imediatamente, tornam-se amigos e resolvem dividir um amplo apartamento em um prédio pouco atraente da capital. Para evitar quaisquer complicações futuras, combinam evitar qualquer envolvimento emocional ou sexual entre eles, que passam a ser conhecidos na faculdade como "Os 3", tamanho o grau de sua proximidade. No final do período de faculdade, quando a separação parece inevitável - e o trato de manterem-se imunes a tentações da carne já foi rompido e revelado - eles recebem uma proposta irrecusável: participarem de um reality show cujo tema é suas próprias vidas. O objetivo, além de atingir um público que acompanharia seus passos 24 horas por dia através da Internet, é vender os objetos consumidos em seu dia-a-dia. Porém, o que parecia uma ideia simples se torna cada vez mais complicada quando os amigos percebem que, para manterem suas personalidades, serão obrigados (por eles mesmos) a criar personagens e situações que prendam o interesse dos espectadores. Aos poucos, nem mesmo eles passam a discernir o que é real e o que é encenação.

Com essa premissa atual, instigante e por vezes surreal, o cineasta Nando Olival fez sua estreia como diretor-solo, depois de dividir a direção de "Domésticas" (2001) com Fernando Meirelles. Em "Os 3" ele faz uso de uma estética contemporânea e uma edição ágil para enfatizar o tom de urgência e efemeridade de uma geração cujo comportamento está intimamente ligado à tecnologia e às redes sociais e são exemplos claros da famosa "modernidade líquida" de que falava o filósofo polonês Zygmunt Bauman. Sem soar panfletário ou didático, Olival conta uma história universal sem abandonar as raízes brasileiras, utilizando São Paulo e seu ambiente muitas vezes opressivo como um quarto protagonista: mesmo que a trama pudesse se passar em qualquer outra metrópole, a terra da garoa serve como moldura perfeita para uma narrativa que frequentemente esbarra em uma quase claustrofobia emocional e física e que, conforme vai se desenvolvendo, substitui a leveza inicial por um minimalista pesadelo orwelliano. Ainda assim, apesar da seriedade do tema e de levantar uma série de questionamentos pertinentes, o filme não deixa de ser, em momento algum, o que pretende ser: entretenimento.


Com um trio de protagonistas bastante talentosos, "Os 3" demonstra, em pouco menos de uma hora e meia, que não é preciso um elenco repleto de astros globais para contar uma história interessante - ainda que Gabriel Godoy, que vive Cazé, tenha posteriormente entrado no elenco de duas novelas, em papel de destaque. Com uma química que é essencial para o bom funcionamento do roteiro (sucinto e que acertadamente muda de tom quando a  trajetória dos personagens desvia do rumo inicial), Godoy e seus parceiros de cena, Victor Mendes (como Rafael) e Juliana Schalch (no papel de Camila) convencem plenamente em todas as fases de sua aventura fraternal/amorosa/profissional, exalando juventude e sentimento em cada cena e transmitindo todas as sensações que surgem de sua bizarra situação com segurança de veteranos. Mesmo que às vezes o roteiro demonstre certa pressa em resolver questões que poderiam render muito mais, esse é um pecado quase insignificante diante de sua coragem em romper com a ditadura das comédias populares ou filmes de favela que dominam o cinema brasileiro e com a qualidade de seu acabamento - a fotografia de Ricardo Della Rosa e a montagem de Daniel Rezende (indicado ao Oscar por "Cidade de Deus") são primorosas e é impossível não reparar no cuidado com a seleção de atores, desde os principais até os coadjuvantes.

À época de seu lançamento nos cinemas, "Os 3" foi comparado à "Os sonhadores", do italiano Bernardo Bertolucci. As semelhanças, porém, ficam restritas ao fato de ambos os filmes centrarem suas tramas em um trio de protagonistas vivendo em proximidade irrestrita. Enquanto a obra de Bertolucci tem pretensões artísticas que beiram o pedantismo, o filme de Nando Olival assume um tom bem menos ambicioso, com raízes mais naturalistas e uma identificação orgânica com a plateia, especialmente a mais jovem. Ao temperar sua trama com intervenções cada vez mais frequentes dos patrocinadores do programa - o que acaba por atormentar gradualmente a mente dos protagonistas - Olival torna imprevisível os rumos de sua narrativa e tem a inteligência de não estendê-la em demasia. Essa opção de encerrar seu filme quase abruptamente é o único senão de uma obra agradável, inteligente e com muito mais a dizer do que pode parecer a princípio. Um filme para ser descoberto!

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