SETE
MINUTOS DEPOIS DA MEIA-NOITE (A monster calls, 2016, Apaches
Entertainment, 108min) Direção: J.A. Bayona. Roteiro: Patrick Ness,
romance homônimo de sua autoria, ideia de Siobhan Dowd. Fotografia:
Oscar Faura. Montagem: Jaume Martí, Bernat Vilaplana. Música: Fernando
Velázquez. Figurino: Steven Noble. Direção de arte/cenários: Eugenio
Caballero/Pilar Revuelta. Produção executiva: Álvaro Augustin, Ghislain
Barrois, Sandra Hermida, Jonathan King, Enrique López Lavigne, Patrick
Ness, Bill Pohlad, Jeff Skoll, Patrick Wachsberger. Produção: Belén
Atienza. Elenco: Lewis MacDougall, Felicity Jones, Sigourney Weaver,
Liam Neeson, Toby Kebell, Geraldine Chaplin. Estreia: 09/9/16 (Festival
de Toronto)
Aplaudido pelo mundo já em seu primeiro longa-metragem - o assustador "O orfanato" (2007) - e posteriormente
taxado de "o Steven Spielberg espanhol" por causa do sucesso de "O
impossível" (2012), que deu uma indicação ao Oscar de melhor atriz à
Naomi Watts, J.A. Bayona volta a mostrar sensibilidade na manipulação
das emoções humanas (e principalmente infantis) em "Sete minutos depois
da meia-noite", um impressionante e comovente drama de fantasia que,
assim como "O labirinto do fauno" (2006), do mexicano Guillermo Del
Toro, é uma ode à força da imaginação contra as tragédias do dia-a-dia.
Ao contrário do premiado filme de Del Toro, porém, o filme de Bayona não
fez tanto barulho nas bilheterias (cobriu seu orçamento apenas com a
ajuda da arrecadação mundial) e foi solenemente ignorado pelo Oscar. Tal
descaso, no entanto, não reflete nem de longe sua imensa qualidade:
"Sete minutos depois da meia-noite" é um dos mais inteligentes e
criativos filmes dos últimos anos, um devastador drama sobre
amadurecimento disfarçado de aventura juvenil.
Inspirado
em um livro infantil iniciado por Siobhan Dowd e finalizado por Patrick
Ness após a morte do autor original, "Sete minutos depois da
meia-noite" é um espetáculo visual de primeira linha à serviço de uma
história fascinante e avassaladora, que trata de assuntos espinhosos com
o verniz da fantasia e da imaginação pueril. O protagonista é Connor
O'Malley (Lewis MacDougall), um menino irlandês de doze anos que está
passando pelo pior período de sua curta existência: sua mãe (Felicity
Jones, de "A teoria de tudo") está enfrentando um câncer terminal que a
impede de conviver com ele de modo ideal; seu pai (Toby Kebell, de
"Black Mirror") mora nos EUA com a nova família e não tem planos de
incluí-lo em sua vida; sua avó (Sigourney Weaver), com quem não tem a
melhor das relações, quer obrigá-lo a morar com ela; e na escola, ele
sofre constante bullying por parte dos colegas mais fortes. Em uma
noite, exatamente às 12:07, Connor recebe a visita de um monstro
gigantesco em formato de árvore que avisa que irá visitá-lo sempre no
mesmo horário para lhe contar três histórias que poderão lhe ajudar
nessa fase da vida. O monstro completa o aviso informando-o também de
que a última história será de sua autoria - e deverá explicar os motivos
de seus pesadelos.
De
forma brilhante e surpreendente, Bayona transforma um conto de solidão e
trauma em um show de efeitos especiais que, ao invés de eclipsar a
força da história, sublinha seu tom lúdico e fantástico. As narrativas
do monstro são apresentadas em formato de animação, mas nada de esperar a
estética Pixar ou Disney: o cineasta utiliza de cada uma das fábulas da
apavorante criatura (com a voz de Liam Neeson e feições que vão se
tornando mais humanas conforme a trama avança) para analisar, de maneira
poética mas bastante contundente, todos os medos e sentimentos de
Connor (e, por conseguinte, de boa parte da plateia, adulta ou não). Ao
questionar fundamentos essenciais, como a bondade, a compaixão e a
raiva, o roteiro do mesmo Patrick Ness que terminou o livro vai
fortalecendo o caráter de seu protagonista e preparando-o para enfrentar
o maior desafio de sua vida, que é encarar a morte da mãe e a
maturidade precoce. É admirável os meios encontrados por Bayona e sua
equipe em equilibrar tão organicamente a vida real de Connor e sua
imaginação sem deixar que nenhuma das linhas narrativas sobreponha-se à
outra - e mais importante ainda, que consiga fazer com que ambas se
conectem tão naturalmente até o final, de uma tristeza profunda, mas
dono de uma beleza incontestável.
Contando com um
excepcional ator juvenil no papel principal - Lewis McDougall, que
também participou do exótico "Peter Pan" (2015), de Joe Wright - e
veteranos competentes entre os coadjuvantes - como Sigourney Weaver como
sua irascível avó e Geraldine Chaplin, uma espécie de amuleto de sorte
do diretor, tendo feito pontas em seus três trabalhos até aqui - "Sete
minutos depois da meia-noite" surge como um dos melhores filmes de sua
temporada. Com um roteiro de ritmo preciso e equilibrado, um visual
acachapante e o tom emocional acertadamente adequado a uma história que
mira em vários tipos de plateia, o filme de Bayona é um triunfo em todos
os aspectos, capaz de cativar qualquer espectador disposto a mergulhar
em uma narrativa repleta de simbolismos e metáforas que, longe de
aborrecer ou confundir, apenas valorizam a beleza de suas intenções e de
sua realização. Imperdível!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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