PASSAGEIROS
(Passengers, 2016, Columbia Pictures, 116min) Direção: Morten Tyldum.
Roteiro: Jon Spaihts. Fotografia: Rodrigo Prieto. Montagem: Maryann
Brandon. Música: Thomas Newman. Figurino: Jany Temime. Direção de
arte/cenário: Guy Hendrix Dyas/Gene Serdena. Produção executiva: Greg
Basser, Bruce Berman, Ben Browning, David B. Householter, Jon Spaihts,
Lynwood Spinks, Ben Waisbren. Produção: Stephen Hamel, Michael Maher,
Ori Marmur, Neal H. Moritz. Elenco: Chris Pratt, Jennifer Lawrence,
Laurence Fishburne, Michael Sheen, Andy Garcia. Estreia: 14/12/16
2 indicações ao Oscar: Trilha Sonora Original, Direção de Arte/Cenários
Quando
um cineasta de fora de Hollywood consegue romper a barreira do
bairrismo e chegar a uma indicação ao Oscar de melhor filme e direção, o
que se espera que ele faça em seguida? Várias respostas seriam as
corretas, mas o norueguês Morten Tyldum surpreendeu a todos optando pelo
caminho menos provável: encarar uma ficção científica produzida por um
grande estúdio e com um orçamento acima dos 100 milhões de dólares.
Depois do contido e delicado "O jogo da imitação" - a história do
matemático inglês que praticamente inventou o computador, abreviou a II
Guerra Mundial em anos e foi condenado pelo governo por ser homossexual -
Tyldum deixou a discrição de lado e abraçou sem medo o cinemão
comercial com "Passageiros", realizado com todos os recursos de uma
superprodução e dois atores em ascensão na liderança do elenco.
Logicamente não obteve as mesmas críticas entusiasmadas de seu longa
anterior, mas demonstrou um inesperado talento em lidar com as
engrenagens de um gênero com regras próprias e bastante rígidas. Com um
roteiro que equilibra com parcimônia ação, romance e suspense sem se
preocupar com elocubrações metafísicas ou filosóficas, "Passageiros"
cumpre o que promete, mesmo que jamais ouse.
Pensado
inicialmente como um veículo para o ator Keanu Reeves - cuja companhia
desenvolveu o projeto em seus primeiros estágios - "Passageiros" passou
pelas mãos de vários nomes importantes de Hollywood antes de cair no
colo de Tyldum, inclusive do criterioso David Fincher e do eclético Marc
Forster. Depois da saída de Reeves - e consequentemente de sua cogitada
colega de cena Rachel McAdams - a escolha de Chris Pratt, em alta
depois do sucesso de "Guardiões da Galáxia" (2014) e "Jurassic World"
(2015), pareceu uma escolha natural. Carismático e talentoso, Pratt
conquista a plateia já em suas cenas iniciais, e sua simpatia consegue
até mesmo fazer com que alguns de seus atos - bastante questionáveis -
pareçam mais românticos do que realmente são. A seu lado, Jennifer
Lawrence comprova que foi uma aposta certeira da indústria quando levou
seu Oscar por "O lado bom da vida" (2012): bela, simpática e capaz de
alcançar a nota certa em cada momento, ela ainda demonstra uma invejável
química com seu parceiro de cena, transformando o que poderia ser mais
uma experiência claustrofóbica e quase monótona em um agradável
entretenimento, que agrada aos fãs do gênero sem afastar o espectador
menos afeito a ele.
A
história se passa na Starship Avalon, uma nave espacial que está
levando 5.000 passageiros e mais duas centenas de tripulantes para uma
das colônias da Terra, chamada Homestead Colony e que promete uma
qualidade de vida muito superior à de seu planeta de origem. Atingida
por uma chuva de asteroides, a nave sofre uma pane e acaba por despertar
um dos viajantes, o engenheiro Jim Preston (Chris Pratt), que não
demora a descobrir, para seu desespero, que ele acordou muito antes do
esperado e que não há como chegar a seu destino final em menos de 90
anos. Tendo apenas o garçom androide Arthur (Michael Sheen) para
conversar, ele leva um ano para chegar à conclusão de que a única
maneira que tem de se relacionar com uma pessoa de verdade é acordando
outro passageiro. Depois de examinar o perfil da escritora Aurora Lane
(Jennifer Lawrence), ele acaba a escolhendo para ser sua parceira de
desventura. A princípio acreditando que também despertou por acidente,
ela ajuda o rapaz a procurar um modo de consertar a espaçonave e eles
acabam se apaixonando. O despertar de um tripulante, Gus Mancuso
(Laurence Fishburne) e a descoberta de que outros problemas ameaçam o
sucesso da viagem - assim como a realidade sobre o despertar de Aurora
(cujo nome é uma homenagem explícita à Bela Adormecida) - agitam ainda
mais as coisas, obrigando a todos a forjar uma união para salvar suas
vidas.
Ainda que o terço final carregue um pouco no
exagero ao criar cenas de ação que justifiquem os gastos com efeitos
especiais e o custo de 110 milhões de dólares, o roteiro de
"Passageiros" tem uma vantagem em relação a alguns de seus congêneres:
ao não se levar tão a sério como poderia, oferece ao público uma
alternativa menos densa do que produções como "Gravidade" (2013),
"Interestelar" (2014) e "A chegada" (2016), que se utilizaram dos
elementos de ficção científica para discutir temas complexos e deixaram
de lado, muitas vezes, a premissa básica do cinema de entretenimento:
diversão. Sem intenção nenhuma a não ser levar a plateia a um passeio de
duas horas em uma montanha-russa, Tyldum atinge plenamente seu
objetivo, graças a um departamento técnico impecável - a direção de arte
e a trilha sonora foram indicados ao Oscar - e a uma escalação certeira
de elenco. Não muda a história da ficção científica e até pode ter
alguns furos no roteiro, mas é praticamente impossível não se deixar
envolver pela trama e por seu bom-humor contagiante. Uma ótima pedida.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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