APOLLO 13: DO DESASTRE AO TRIUNFO (Apollo 13, 1995, Universal Pictures, 140min) Direção: Ron Howard. Roteiro: William Broyles Jr., Al Reinert, livro de Jim Lovell, Jeffrey Kluger. Fotografia: Dean Cundey. Montagem: Dan Henley, Mike Hill. Música: James Horner. Figurino: Rita Ryack. Direção de arte/cenários: Michael Corenblith/Merideth Boswell. Produção executiva: Todd Hallowell. Produção: Brian Grazer. Elenco: Tom Hanks, Bill Paxton, Kevin Bacon, Ed Harris, Gary Sinise, Kathleen Quinlan, Xander Berkeley, Loren Dean, Todd Louiso. Estreia: 22/6/95
9 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Ed Harris), Atriz Coadjuvante (Kathleen Quinlan), Roteiro Adaptado, Montagem, Trilha Sonora Original/Drama, Direção de Arte/Cenários, Som, Efeitos Visuais
Vencedor de 2 Oscar: Montagem, Som
Em abril de 1970, o mundo parou graças à viagem de uma missão norte-americana à Lua. Não porque estivesse curioso sobre a viagem em si - Neil Armstrong já havia dado seus passos por lá no ano anterior e o interesse da mídia pela nova aventura da NASA não era dos maiores -, mas justamente porque o que era esperado ser um sucesso previsível acabou se tornando um pesadelo para os astronautas, suas famílias e os engenheiros responsáveis pelos cálculos que levaram à crise. A inesperada explosão em um dos tanques de oxigênio, ocorrida antes que a tripulação chegasse a seu destino, obrigou a um retorno imediato, com o risco iminente de um desfecho trágico - os três pilotos poderiam morrer de frio, sufocados pela falta de ar, envenenados pelo gás carbônico liberado por eles mesmos ou até incinerados ao entrar na atmosfera terrestre. De repente, o que era tratado com desdém por parte da população transformou-se em interesse internacional - e um desastre em potencial virou uma história de superação mais poderosa que qualquer roteiro que pudesse ser criado por Hollywood. E, levando-se em conta a avidez da indústria em capitalizar em cima de narrativas tão impactantes, até que demorou para que a trajetória da Apollo 13 chegasse aos cinemas: somente em 1995, duas décadas e meia depois dos fatos é que finalmente o astronauta Jim Lovell se veria retratado nas telas - mas, como forma de compensação, se veria interpretado por um dos maiores astros de sua geração: Tom Hanks.
Quando "Apollo 13: do desastre ao triunfo" chegou aos cinemas, sob a direção de Ron Howard, em pleno verão norte-americano, Hanks ainda estava saboreando seu segundo Oscar consecutivo de melhor ator, pelo megasucesso "Forrest Gump: o contador de histórias", de Robert Zemeckis. Não há dúvidas de que sua presença ajudou o filme de Howard a tornar-se um enorme êxito comercial, com mais de 170 milhões de dólares arrecadados somente no mercado doméstico (e mais de 350 milhões ao redor do mundo), mas também é certo de que o marketing da Universal Pictures, o talento do diretor em contar histórias que agradam a todos os tipos de público e o fabuloso empurrão da Academia, com nove indicações à estatueta dourada (incluindo melhor filme mas não diretor e ator, para surpresa de muitos). Tudo bem que, no final das contas, Mel Gibson e seu "Coração valente" acabaram se dando melhor na cerimônia do Oscar - deixando apenas os prêmios de edição e som para o filme de Howard -, mas, a esse ponto, a popularidade de "Apollo 13" já estava nas alturas e não precisava de qualquer espécie de selo de aprovação. Mesmo assim, o Screen Actors Guild fez sua parte, lhe conferindo duas láureas: melhor elenco e melhor ator coadjuvante (Ed Harris, também indicado ao Oscar e ao Golden Globe por seu desempenho como Gene Kranz, líder da missão em Houston).
Amparado no maior realismo possível de obter com um orçamento generoso, Ron Howard e sua equipe fizeram de "Apollo 13" um filme tecnicamente impecável - para as rápidas cenas em que a falta de gravidade é mostrada dentro da cápsula espacial, por exemplo, foi utilizado um avião com que a própria NASA trabalha para o treinamento de seus astronautas, que conseguem flutuar por cerca de 23 segundos a cada mergulho no ar. Os efeitos visuais (que perderam o Oscar para "Babe: o porquinho atrapalhado") são sutis, mas tão perfeitos que o próprio Jim Lovell, ao assistir ao filme, julgou que algumas imagens fossem cedidas pela agência norte-americana. Sublinhadas pela trilha sonora épica de James Horner, tais sequências enchem os olhos da plateia e equilibram a tensão e a angústia de seus personagens - nenhum deles especialmente dotado de uma profundidade dramática além da necessária para envolver o espectador. A opção do roteiro em concentrar praticamente toda a ação durante o período em que os protagonistas estavam completamente focados em sua missão é válida - problemas familiares e/ou outros conflitos são praticamente ignorados pelo roteiro, baseado no livro de Lovell e Jeffrey Kluver - e impede o filme de estender-se em excesso ou abusar de uma prolixidade que lhe seria prejudicial em termos de adrenalina. Tal medida não atrapalha, por exemplo, Kathleen Quinlan, que concorreu à estatueta de coadjuvante por sua atuação como Marilyn, a esposa de Lovell, dividida entre o desespero de ver o marido correndo o risco de não voltar vivo para casa e a resiliência necessária para não desabar diante das câmeras de televisão - repentinamente dispostas a dar espaço para a viagem que a princípio não despertara seu interesse.
Mas "Apollo 13" não é o show de um homem só - ou de uma técnica narrativa milimetricamente criada para deixar a plateia com os nervos à flor da pele até os últimos minutos. Como ex-ator mirim, Ron Howard sabe muito bem como explorar o melhor de cada um de seu elenco, repleto de rostos conhecidos do grande público. Tom Hanks lidera o elenco com o carisma habitual, mas divide a maior parte de seu tempo em cena com Bill Paxton e Kevin Bacon, igualmente competentes em transmitir toda a vasta gama de sensações experimentada por seus personagens. Em Terra, além de Kathleen Quinlan e Ed Harris, quem tem suprema importância em ajudar os desventurados protagonistas é Gary Sinise, que, na pele de Ken Mattingly - um astronauta que ficou de fora da missão na última hora -, reprisa sua parceria com Hanks, iniciada em "Forrest Gump". Equilibrando sua linha narrativa entre a técnica e a emoção, Howard criou um filme perfeito para todos os públicos - e já declarou de que se trata do filme preferido dentre todos os que já realizou. Se ufanismo pode incomodar um pouco, mas é inegável que "Apollo 13: do desastre ao triunfo" é, realmente, bem mais um triunfo do que um desastre.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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