TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME (Three billboards outside Ebbing, Missouri, 2017, Fox Searchligth Pictures/Film4, 155min) Direção e roteiro: Martin McDonagh. Fotografia: Ben Davis. Montagem: Jon Gregory. Música: Carter Burwell. Figurino: Melissa Toth. Direção de arte/cenários: Inbal Weinberg/Melissa Lombardo. Produção executiva: Daniel Battsek, Rose Garnett, David Kosse, Diarmuid McKeown, Bergen Swanson. Produção: Graham Broadbent, Pete Czernin, Martin McDonagh. Elenco: Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, Lucas Hedges, John Hawkes, Peter Dinklage, Abbie Cornish, Zeljko Ivanek, Caleb Landry Jones. Estreia: 04/9/17 (Festival de Veneza)
7 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz (Frances McDormand), Ator Coadjuvante (Woody Harrelson/Sam Rockwell), Roteiro Original, Montagem, Trilha Sonora Original
Vencedor de 2 Oscar: Atriz (Frances McDormand), Ator Coadjuvante (Sam Rockwell)
Vencedor de 4 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Atriz/Drama (Frances McDormand), Ator Coadjuvante (Sam Rockwell), Roteiro
A presença da atriz Frances McDormand, a ambientação no interior dos EUA, os diálogos certeiros e uma visão crítica a respeito das instituições e do american way of life dão a impressão errada de que "Três anúncios para um crime" é um filme dos irmãos Joel e Ethan Coen, especialistas em encontrar particularidades na mais trivial das histórias. Porém, um dos filmes mais premiados e elogiados da temporada 2017 é apenas o terceiro longa-metragem de um cineasta inglês, nascido em 1970 e que logo em sua estreia, a comédia policial "Na mira do chefe" (2008), já havia conquistado uma indicação ao Oscar de roteiro original. Diretor também do subestimado "Sete psicopatas e um shih tzu", um suspense cômico com tons de metalinguagem, lançado em 2012, Martin McDonagh se tornava, de uma hora para outra, em um queridinho da crítica e uma surpreendente revelação para o público, que deixou, pelo mundo afora, mais de 150 milhões de dólares nas caixas registradoras - um sucesso impressionante, especialmente quando se leva em consideração seu custo irrisório de estimados 15 milhões.
Desde sua estreia, no Festival de Veneza (de onde saiu com o prêmio de melhor roteiro), "Três anúncios para um crime" tornou-se um nome forte para a temporada de premiações, principalmente graças ao trabalho primoroso de Frances McDormand e a força dos coadjuvantes interpretados por Woody Harrelson e Sam Rockwell. Antes que chegasse ao Golden Globe e levasse três estatuetas melhor filme e atriz na categoria drama, e roteiro) e ao Oscar, com sete indicações e dois prêmios (atriz e ator coadjuvante para Rockwell), o filme de McDonagh já havia sido laureado por críticos de Boston, Chicago, Detroit, Las Vegas, Londres e Toronto - além das vitórias do Independent Spirit e no Sindicato de Atores (o SAG). Com uma lista notável de prêmios e elogios do mundo todo, não foi nenhuma surpresa quando ficou entre os finalistas para o Oscar - a surpresa foi McDonagh ter sido esnobado na categoria de melhor diretor, uma injustiça imperdoável. Orquestrando com inteligência e sensibilidade um espetáculo centrado em atores e diálogos, o jovem cineasta não apenas criou uma trama instigante e personagens complexos - com segurança ímpar, deu espaço ao brilho de seu elenco sem jamais deixar de lado o que mais se espera de um diretor de cinema: contar uma boa história.
Fugindo dos clichês e das obviedades, "Três anúncios para um crime" já conquista o espectador nas primeiras cenas: inconformada com a falta de empenho da polícia em resolver o estupro e assassinato de sua filha adolescente, Mildred Hayes (Frances McDormand, em um desempenho de cair o queixo), funcionária de uma loja de presentes da pequena cidade de Ebbing, no Missouri, resolve cutucar as autoridades com vara curta. Por um ano, ela aluga três outdoors vagos na entrada da cidade, questionando o andamento das investigações e afrontando principalmente o chefe de polícia do local, William Willoughby (Woody Harrelson). A jogada chama a atenção da imprensa e movimenta a cidade, que passa a dividir-se em quem apoia a desesperada mãe e aqueles que não aprovam seu ato. Entre estes últimos está outro policial, Dixon (Sam Rockwell), racista, preconceituoso e violento, que praticamente toma para si o desaforo e passa a atormentar a vida de Mildred. Enquanto isso, ela lida com o filho vivo, Robbie (Lucas Hedges), o ex-marido abusador, Charlie (John Hawkes), e sua relação de compaixão com Willoughby, que lhe revela estar morrendo de câncer. A esta salada de personagens (bem construídos e vívidos), juntam-se a mãe dominadora de Dixon, um anão interessado em Mildred (participação especial de Peter Dinklage, da série "Game of Thrones") e outros moradores de Ebbing, cada qual com suas próprias idiossincrasias.
Fosse uma série de televisão, "Três anúncios para um crime" teria muito o que explorar, devido ao talento de Martin McDonagh em dotar cada um de seus personagens com características interessantes e imprevisíveis. Como é apenas um filme (e dos bons), ele se dedica a seus protagonistas, lhes dando espaço o bastante para o brilho individual e coletivo. Não à toa, tanto Sam Rockwell quanto Woody Harrelson foram indicados ao Oscar de coadjuvante, e se Rockwell saiu-se vencedor, boa parte do mérito deve-se ao arco dramático de seu personagem, talvez o mais surpreendente da trama. Frances McDormand - para quem o papel de Mildred Hayes foi especificamente escrito - dá um show na pele da sofrida e corajosa mãe, inserindo em sua interpretação uma fina ironia e uma intensidade de que só as melhores atrizes são capazes. Até mesmo o final do filme, inconclusivo para uns, é um sopro de originalidade e ousadia, o que imediatamente impõe em McDonagh grandes expectativas em relação a seu futuro como roteirista e diretor. "Três anúncios" perdeu o Oscar de melhor filme para o igualmente excelente "A forma da água", mas certamente escreveu seu nome na lista das grandes produções de sua época - e o tempo apenas irá reiterar seu status de cult.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
Nenhum comentário:
Postar um comentário