OPERAÇÃO FRONTEIRA (Triple frontier, 2019, Netflix/Atlas Entertainment, 125min) Direção: J.C. Chandor. Roteiro: Mark Boal, J.C. Chandor, estória de Mark Boal. Fotografia: Roman Vasyanov. Montagem: Ron Patane. Música: Disasterpiece. Figurino: Marlene Stewart. Direção de arte/cenários: Greg Berry/Jay Hart. Produção executiva: Kathryn Bigelow, Mark Boal, Anna Gerb, Thomas Hayslip, Andrés Calderon. Produção: Neal Dodson, Alex Gartner, Andy Horwitz, Charles Roven. Elenco: Ben Affleck, Oscar Isaac, Charlie Hunnam, Garret Hedlund, Pedro Pascal, Adria Arjona. Estreia: 06/3/2019
Em abril de 2017, o projeto de um filme de ação escrito por Mark Boal (vencedor do Oscar por "Guerra ao terror") saiu definitivamente dos planos da Paramount, que, durante o processo de pré-produção, contava com Tom Hardy e Channing Tatum nos papéis principais. A dupla de astros não gostou das mudanças feitas no roteiro e pularam fora do barco, iniciando um processo de deserção que culminou também com a saída da diretora Kathryn Bigelow, que preferiu dedicar seu tempo ao polêmico "Detroit em rebelião" (2017). Um mês depois, a Netflix, empenhada em adquirir prestígio com suas produções próprias, resolveu arriscar e bancar o filme, dessa vez já com os nomes de Ben Affleck e Oscar Isaac garantidos. Com a volta de Charlie Hunnam - que retornou ao projeto depois de uma desistência anterior - ao elenco e à aquisição de Garret Hedlund e Pedro Pascal, os cinco personagens centrais encontraram intérpretes ideais. A grande surpresa, no entanto, ficou com o anúncio do nome do diretor. Conhecido por obras mais cerebrais, como "Margin call: o dia antes do fim" (2011) e "O ano mais violento" (2014), o cineasta J. C. Chandor parecia um tanto inadequado para uma produção calcada mais na adrenalina do que em palavras e sutilezas. Mas como nem só de cartas marcadas vive a indústria, "Operação Fronteira" acabou se saindo melhor que a encomenda: é um filmaço que nada deve às produções dos grandes estúdios - e é, de longe, um dos melhores trabalhos da carreira de Ben Affleck.
Um projeto que já existia desde 2010, quando Johnny Depp e Tom Hanks estavam cotados para seu elenco, "Operação Fronteira" despertou interesse em vários astros de Hollywood, que, por um momento ou outro, tiveram seus nomes ligados a ele. Antes que o elenco estivesse formado em definitivo, atores dos mais variados tipos e gerações estiveram em negociação com os produtores. Quando ainda estava na Columbia, o roteiro foi considerado por veteranos (Denzel Washington, Sean Penn), oscarizados (Leonardo DiCaprio, Mahershala Ali, Casey Affleck) e atores populares (Will Smith, Mark Wahlberg), mas foi somente quando a Netflix entrou na jogada é que, de uma ideia empacada em discussões, o roteiro finalmente saiu do papel. Com Ben Affleck e Oscar Isaac - que já havia trabalhado com Chandor em "O ano mais violento" -, "Operação Fronteira" ganhou prestígio e uma seriedade que talvez não tivesse com atores mais afeitos à bilheteria do que à qualidade. O resultado é um filme de ação com mais inteligência que a média, e que equilibra com precisão momentos de tensão com um desenvolvimento interessante de personagens.
Tudo bem que o roteiro não abre mão de certos clichês e não se aprofunda em nenhum drama pessoal, preferindo apenas delinear rapidamente seus protagonistas para entrar logo na ação, mas abraça sem vergonha alguns lugares-comuns e os insere de forma orgânica na trama. É assim que o público não se importa em ver Ben Affleck como Redfly Davis, um antigo soldado que tenta ganhar a vida vendendo imóveis e com problemas de relacionamento com a ex-mulher e a filha adolescente, ou Garret Hedlund como Ben Miller, que sobrevive às custas de muito sangue perdido em ringues de luta. Redfly e Miller são apenas dois integrantes do grupo que o ambicioso Pope Garcia (Oscar Isaac) reúne com o objetivo de exterminar um famoso traficante e roubar milhares de dólares escondidos em uma casa escondida no meio da Floresta Amazônica. A eles unem-se o irmão de Miller, Ironhead (Charlie Hunnam) - que ganha dinheiro com palestras de autoajuda, desde que saiu do Exército - e o experiente piloto Catfish Morales (Pedro Pascal), cuja licença para pilotar foi cassada quando ele foi flagrado transportando drogas. Pela primeira vez em suas vidas os cinco embarcam em uma missão com objetivos pessoais e não patriotas, mas a preocupação ética logo é substituída por outras muito maiores quando o plano começa a dar errado - e eles precisam improvisar e abrir mão de alguns princípios para chegarem vivos a seu final.
Apesar do nome de Mark Boal no roteiro e da direção do elogiado J.C. Chandor, "Operação Fronteira" nada mais é do que um excelente filme de ação, sem maiores preocupações artísticas. Sua maior qualidade é aliar com sucesso entretenimento popular e qualidade narrativa. Como era de se esperar, as coisas dão muito errado para Pope e seus parceiros, e Chandor aproveita a situação para conduzir o público por uma aventura tão perigosa quanto empolgante, onde a personalidade de cada um se choca com as decisões que precisam ser tomadas em prol da segurança e do cumprimento da missão. Por ser um filme que destaca mais o elenco do que performances individuais, o conjunto é mais interessante do que atuações específicas, mas ainda assim a presença de Oscar Isaac como o líder do grupo consegue se sobressair - especialmente porque seu personagem é o que mais dá margem a dúvidas a respeito de seu caráter. No final das contas, quando o filme apresenta seu desfecho (coerente e satisfatório), resta ao público confirmar que a Netflix se firma cada vez mais no universo dos grandes estúdios - e que sua presença diante dos grandes conglomerados é fato mais que consumado. "Operação Fronteira" é um de seus mais consistentes produtos e, embora não vá sair vitorioso em cerimônias de premiação, agrada plenamente aos fãs do gênero.
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