CÉU AZUL (Blue sky, 1994, Orion Pictures, 101min) Direção: Tony Richardson. Roteiro: Rama Laurie Stagner, Arlene Sarner, Jerry Leitchling, estória de Rama Laurie Stagner. Fotografia: Steve Yaconelli. Montagem: Robert K. Lambert. Música: Jack Nitzsche. Figurino: Jane Robinson. Direção de arte/cenários: Timian Alsaker/Gary John Constable. Produção: Robert H. Solo. Elenco: Jessica Lange, Tommy Lee Jones, Powers Boothe, Carrie Snodgress, Amy Locane, Chris O'Donnell, Anna Klemp. Estreia: 24/8/94
Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Jessica Lange)
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz/Drama (Jessica Lange)
Na longa lista de males que vem para o bem na história de Hollywood, "Céu azul" merece um lugar de destaque. Filmado no verão norte-americano de 1990 e pronto para ser lançado em 1991, o último filme do diretor Tony Richardson acabou ficando na prateleira por mais três anos devido à falência de seu estúdio (Orion Pictures) e só chegou aos cinemas em 1994. A má notícia é que, a essa altura, o cineasta já havia morrido e não chegou a ver seu filme estrear. A boa notícia é que, lançado em um ano particularmente fraco de grandes desempenhos femininos, o filme empurrou sua estrela Jessica Lange em direção a um Golden Globe e a seu segundo Oscar (o primeiro na categoria principal). Sua premiação foi absolutamente justa: é Lange, com sua sensualidade e sua precisão em interpretar mulheres à beira do precipício, é o corpo e a alma de uma produção fraca e, não fosse por sua presença magnética, facilmente esquecível. Indeciso entre um drama familiar e conflitos políticos, o roteiro acaba por não explorar a contento nenhum dos dois enfoques e, em vez de ser dois filmes em um, o resultado final é apenas o resultado de duas metades que nem sempre se comunicam com coerência.
Uma heroína com a sensualidade trágica de uma Ava Gardner e a densidade psicológica de um personagem de Tennessee Williams, a protagonista de "Céu azul" é Carly Marshall, a esposa bipolar de um engenheiro nuclear que trabalha para o governo dos EUA. No início da década de 60, antes da morte de Kennedy e do trauma da guerra do Vietnã, o afável Hank (Tommy Lee Jones) é parte fundamental dos estudos do país em relação a testes atômicos - mas é sua mulher a mais perigosa das armas com as quais ele tem de lutar: transferido do Havaí para o Alabama (em boa parte por causa do comportamento errôneo de Carly), ele não precisa apenas lidar com suas crises nervosas, mas também com o efeito que ela causa aos homens a seu redor. No novo lar, por exemplo, ela tira do sério o oficial Vince Johnson (Powers Boothe), superior de Hank, homem casado e pai de um adolescente, Glenn (Chris O'Donnell), que se envolve justamente com a filha mais velha do casal, Alex (Amy Locane). O relacionamento escandaloso entre Carly e Vince - que fica evidente a todos que os rodeiam - acaba tendo consequências também na vida profissional de Hank, que testemunha um acidente e se vê no centro de um jogo de interesses políticos em que a conduta de sua mulher é peça fundamental.
Único roteiro escrito por Rama Laurie Stagner até hoje, "Céu azul" é livremente baseado em sua mãe, que também viveu um conturbado relacionamento com o marido militar na década de 60. É perceptível seu carinho no desenho da protagonista, uma personagem complexa e rica em nuances, todas muito bem exploradas por uma Jessica Lange particularmente inspirada. Carly não é alguém com quem se possa simpatizar completamente - seu comportamento chega às raias da irresponsabilidade -, mas Lange injeta humanidade e alma a cada cena, enfatizando suas carências e inseguranças e a aproximando do público. O problema do filme é sua tentativa de contar duas histórias paralelas sem que haja maior aprofundamento em nenhuma delas - o que a edição apressada apenas deixa ainda mais claro. A trama que envolve Hank e seu embate com militares superiores a respeito da radiação nuclear que deixa vítimas inesperadas é interessante, mas praticamente some diante da imponência da atuação da atriz principal, que engole a tudo e a todos. E tampouco ajuda o fato de Tommy Lee Jones não ser exatamente um ator carismático e o desfecho ser tão anticlimático.
Em poucas palavras, "Céu azul" é um filme que existe e se mantém graças ao desempenho notável de uma atriz no auge do talento e a uma personagem que lhe permite explorar uma variedade imensa de possibilidades. Não é o filme marcante que poderia ser com um roteiro um pouco menos superficial ou uma direção mais segura - o que é de surpreender levando-se em conta a longa e premiada carreira de Tony Richardson. Não fosse a performance oscarizada de Jessica Lange - e até a sorte de ter sido lançado em um período favorável à sua premiação, poderia se tornar facilmente esquecível e relegado à história como uma produção quase medíocre. Salva-se como uma sessão descompromissada e uma aula de interpretação feminina, mas é apenas isso.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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