Levando-se em consideração que no currículo do cineasta Edward Zwick contam produções ambiciosas e grandiosas como “Tempo de glória” (89), “Lendas da paixão” (95) e “O último samurai” (03), não deixa de ser uma surpresa ver seu nome assinando “Amor & outras drogas”, um filme com elementos bastante díspares daqueles a que ele está acostumado. Baseado em uma história real e misturando comédia, romance e drama em doses bastante equilibradas, o filme, adaptado do livro de Jamie Reidy, acabou decepcionando nas bilheterias, a despeito de sua ascendente dupla central de atores – Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway – e dividiu a crítica, que viu com reservas a mistura de gêneros proposta pelo diretor. No entanto, com o tempo é bem provável que o público vá finalmente perceber as inúmeras qualidades de um filme que consegue ser ao mesmo tempo doce, engraçado, triste e dotado de algumas cenas de sexo bastante ousadas – mas que jamais ultrapassam os limites do bom-gosto.
Gyllenhaal vive Jamie Randall, personagem inspirado
no autor do livro que deu origem ao filme, “Hard sell: the evolution of a Viagra salesman". Randall começa a trama como um
vendedor de aparelhos de som que usa e abusa de seu charme e de seu bom papo
para não apenas ser um ótimo negociante mas também para seduzir todas as
mulheres que cruzam seu caminho. Demitido depois de seduzir a esposa do chefe e
ser flagrado em pleno ato, ele arruma emprego como representante de uma
indústria farmacêutica – o que o deixa em posição desconfortável dentro da
própria família, que não consegue deixar de vê-lo como alguém desperdiçando seu
talento em algo aquém de suas possibilidades. É nessa posição de vendedor de
remédios – em busca sempre de uma promoção que o faça vender produtos mais
desejados do que os simples antidepressivos com que trabalha – que Jamie conhece
a bela Maggie Murdock (interpretada pela bela Hathaway), que além de linda e insaciável, é uma artista plástica talentosa
que o surpreende com seus modos pouco convencionais: independente e decidida,
ela entra sem medo em um relacionamento baseado unicamente em sexo casual. Aos
poucos, porém, Jamie passa a sentir algo único em sua vida: completamente
apaixonado, ele leva um choque ao descobrir que o alvo de seu afeto sofre do
Mal de Parkinson – ainda inicial, mas já suficientemente capaz de fazer seus
estragos.
É a partir dessa descoberta – e de suas consequências logicamente dramáticas – que “Amor & outras drogas” assume um viés completamente distinto de seus dois primeiros terços, banhados em sensualidade e um senso de humor despretensioso (em boa parte graças às intervenções de Josh Gad, no papel do irmão de Jamie): transformando seu filme em um romance ao estilo “Love story”, Edward Zwick corria o sério risco de esbarrar no dramalhão deslavado, mas, para surpresa de muitos e com a ajuda de seus atores, escapa bravamente do piegas. Aproveitando a química impecável entre Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway – casados anteriormente em “O segredo de Brokeback Mountain” – o diretor evita o sentimentalismo barato fugindo de cenas exageradamente dramáticas e apostando no carisma da dupla, em dias inspirados. Gyllenhaal deita e rola com um papel que explora ao máximo sua versatilidade: o jovem ator sai-se bem tanto nos momentos cômicos quanto naqueles que exigem dele mais emoção, e brinda os fãs com cenas pra lá de quentes com Hathaway, que, por sua vez, mostra que é uma das atrizes mais completas de sua geração – vale lembrar que o filme é anterior a seu Oscar de coadjuvante por “Os miseráveis”. Apostando na sutileza, Hathaway rouba a metade final de “Amor & outras drogas”, até então dominado por Gyllenhaal, e o carrega até o final como uma história de amor que equilibra em doses certeiras drama, humor e uma sensualidade das mais excitantes.
Demonstrando um conforto inesperado
no comando de uma trama desprovida de cenas épicas de ação, Edward Zwick relembra,
em “Amor & outras drogas”, seus tempos como diretor de “Sobre ontem à
noite”, que retratava o tortuoso relacionamento entre o então jovem casal Demi
Moore e Rob Lowe em 1986. Com uma obra plasticamente atraente e uma trilha
sonora adequada e moderna, Zwick conquista a plateia pela simpatia e pela
leveza: é impossível não se deixar cativar pela bela e inusitada história de
amor entre Jamie e Maggie – que, além de tudo, é real. Uma bela dica para os
fãs de Gyllenhaal e Hathaway e para todos que acreditam em um bom romance.
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