127 HORAS (127 hours, 2010, Fox Searchlight Pictures, 94min) Direção: Danny Boyle. Roteiro: Danny Boyle, Simon Beaufoy, livro "Between a rock and a hard place", de Aron Rolston. Fotografia: Enrique Chediak, Anthony Dod Mantle. Montagem: Jon Harris. Música: A.R. Rahman. Figurino: Suttirat Larlarb. Direção de arte/cenários: Suttiral Larlarb/Les M. Boothe. Produção executiva: Bernard Bellew, Lisa Maria Falcone, François Ivernel, John J. Kelly, Cameron McCracken, Tessa Ross. Produção: Danny Boyle, Christian Colson, John Smithson. Elenco: James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Treat Williams, Kate Burton. Estreia: 04/9/10 (Festival de Telluride)
6 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator (James Franco), Roteiro Adaptado, Montagem, Trilha Sonora Original, Canção ("If I rise")
É preciso dizer, antes de mais nada, que todas as notícias que reportam
desmaios, ataques epiléticos e afins durante a cena climática do filme
"127 horas" soam a golpe de marketing. Por mais gráfica que seja a
sequência - filmada em apenas um take - ela não é mais chocante do que
inúmeros momentos de filmes como a série "Jogos mortais". O grande
diferencial aqui é que, ao contrário dos sanguinolentos produtos
carniceiros que lotam salas de cinema pelo mundo afora, a plateia se
importa com o protagonista. Vivido com intensidade por James Franco, o
corajoso, apaixonado pela vida e carismático Aron Rolston conquista a
audiência já em sua primeira aparição na tela. E é isso que faz toda a
diferença e transforma o filme de Danny Boyle em uma experiência
tão assustadora quanto emocionante.
Indicado a 6 Oscar - inclusive melhor filme, que perdeu para o insosso "O discurso do rei" - "127 horas" é um programa
proibido a claustrofóbicos. Ainda que o roteiro de Boyle e Simon Beaufoy
- a mesma dupla oscarizada de "Quem quer ser um milionário?" - seja
ágil o bastante para não aborrecer o espectador menos paciente, a
maioria absoluta do filme se passa em um único cenário, exíguo e
sufocante. Felizmente a edição e a interpretação de Franco conseguem
reverter o que poderia ser um cansativo exercício de vaidade de seu
diretor em um filmaço de grudar na poltrona. Criativo como nos melhores
tempos de "Trainspotting", Danny Boyle comprova que seu Oscar de dois anos antes não foi mero golpe de sorte.
A história de "127 horas" é conhecida e o fato de ter virado filme
apenas aumentou sua popularidade. Pra quem não sabe, é a história de
Aron Rolston, um rapaz saudável e inteligente que tem como hobby escalar
montanhas nos canyons americanos e curtir a natureza descobrindo
paraísos escondidos. Em uma de suas viagens, um acidente acontece e ele
se vê com o braço direito preso por uma rocha. Depois de passar cinco
dias sem conseguir sair do lugar e sem comida e bebida - onde revê
momentos importantes de sua vida, tem alucinações e é obrigado a beber a
própria urina - ele só se salva quando amputa parte do braço.
Apesar de contar uma história barra-pesada, "127 horas" tem a seu favor
um senso de humor muito bem-vindo e um ritmo que jamais cai.
Tecnicamente perfeito, é uma história forte, que versa sobre a força do
ser humano quando é obrigado a lidar com adversidades. Mas certamente
não seria tão bom se não contasse com James Franco como protagonista.
Sua indicação ao Oscar foi mais do que merecida - e uma vitória não teria sido
injusta: o até então desacreditado galã apresenta um trabalho
irretocável, comprovando um talento com o qual acenava no mínimo desde
sua atuação em "Milk". Alternando momentos de puro desespero com um
humor inesperado e uma tristeza profunda (junto com uma arraigada
esperança), Franco carimba gloriosamente seu passaporte rumo ao lugar
reservado aos grandes atores.
E quanto à tão falada cena da amputação? Sim, é forte. Sim, é realista. E
não, não é supérflua nem tampouco gratuita. É um clímax apropriado
filmado com segurança e sem nenhum traço de sadismo. Mantenha os olhos
abertos se conseguir, mas não assista o filme apenas por essa cena. "127 horas"
tem muitas outras qualidades que merecem sua atenção.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
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