O filme do desconhecido Derek Cianfrance machuca o espectador por não poupá-lo da dor pela qual passam os protagonistas, vividos com garra e entrega por Williams e Gosling. Eles interpretam um casal em flagrante crise no relacionamento. Ela, Cynthia, é uma estudante de Medicina esforçada e um tanto desiludida com a vida sem maiores encantos que leva. Ele, Dean, vive de bico em bico, pintando casas de vizinhos e sem maiores ambições na vida a não ser marido e pai. Quando um ex-namorado de Cynthia reaparece em suas vidas - mesmo que efemeramente - eles chegam ao ponto crucial do seu casamento: lembrando de todas as situações que viveu ao lado do marido, Cynthia precisa decidir se leva adiante uma relação notadamente fracassada.
O tom de realismo absoluto imposto pelo roteiro - que incentivou a improvisação dos protagonistas - atinge o nervo sensível de qualquer espectador que já passou por alguma crise no namoro/casamento. Tanto nas belas cenas em que Cynthia e Dean se apaixonam - de uma delicadeza ímpar - quanto nas sequências tensas em que partem para todo tipo de agressão - física, verbal e até mesmo sexual - existe uma verdade rara, dificilmente encontrada em grandes produções comerciais. As cores - e as técnicas de filmagem - com que Ciafrance pinta as idas e vindas do casal também são escolhidas cuidadosamente. O romantismo dos primeiros encontros, onde a vida parecia cor-de-rosa cede espaço à angústia e a dor da percepção inequívoca do fim absoluto através de visuais nitidamente díspares. É importante essa definição clara principalmente porque "Namorados para sempre" é contado alternando as duas épocas - o que, felizmente, funciona aqui às mil maravilhas, explicitando o contraste entre o sonho e a realidade.
"Namorados para sempre" tem cara de filme cult, principalmente por ter tido um orçamento ínfimo - um milhão de dólares - e ter no elenco dois nomes que aparentam ter um futuro brilhante pela frente. Mas mais do que isso, é forte, é triste - é de partir o coração a cena em que Gosling canta para que Williams faça uma apresentação de sapateado nas ruas desertas do Brooklyn - e é uma pequena obra-prima do cinema independente americano. Para ser descoberto e louvado.
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