"Tropa 2" é melhor que seu primeiro capítulo em inúmeros aspectos. O roteiro - co-escrito por Padilha e Bráulio Mantovani (indicado ao Oscar por "Cidade de Deus") - é forte, surpreendente e com mais nuances do que seu antecessor, repleto de camadas que vão se revelando pouco a pouco. A edição continua sendo caprichada e a parte técnica é superior a muitas produções hollywoodianas. As personagens são ainda mais verossímeis, dotadas de personalidades mais humanas e realistas - o que faz com que todas as surpresas se tornem ainda mais empolgantes. E o elenco, liderado por um Wagner Moura avassalador, dá conta do recado com um pé nas costas - com as possíveis exceções de Maria Ribeiro e, sim, André Ramiro, que donos de papéis-chave, ainda carecem de carisma. É difícil não lembrar dos bons filmes de Martin Scorsese quando se assiste à "Tropa de elite 2", em especial "Os bons companheiros", que divide com a obra de José Padilha a narração em off, a edição vigorosa, a violência e até algumas sequências. Mais do que uma simples cópia - talvez até inconsciente - as cenas que antecedem o epílogo são uma homenagem extremamente bem-feita à obra-prima de Scorsese. Que bom que existe no Brasil um cineasta que saiba a quem admirar!!
Mas talvez o melhor de "Tropa de elite 2" seja a sua coragem de tocar o dedo na ferida. A "perigosa" idelogia do primeiro filme - acusado de fascismo por algumas facções - é aqui posta em xeque. A trama concebida por Padilha e Mantovani contrapõe os dois lados da moeda em relação à violência nas favelas do Rio, acrescentando à história o sensacional defensor dos direitos humanos Diogo Fraga (interpretado pelo ótimo Irandhir Santos), que bate de frente com Nascimento no início do filme, mas que, graças às reviravoltas previstas no roteiro, acaba tornando-se seu aliado quando o maior defensor do BOPE percebe que seus inimigos não são apenas os traficantes de droga, mas sim gente que ele considerava os guardiões da paz.
"Tropa de elite 2" é um filme que fala de assuntos sérios de maneira comercial e sem didatismo ou discursos ocos - e isso é um elogio extraordinário quando se fala de um filme brasileiro. O roteiro é consistente e Nascimento se consagra como um herói absoluto do cinema nacional (graças à inteligência da trama e do trabalho sensacional de Wagner Moura, disparado o melhor ator de sua geração) - é difícil não torcer por ele, mesmo quando suas ideias possam ser consideradas um tanto maniqueístas (ao menos até a metade do filme). É um petardo que diverte - dentro do conceito de diversão consagrado pelo cinema americano (leia-se tiroteio e sangue) - mas que também faz pensar muito tempo depois de encerrada a sessão. Dá muito assunto a discutir e questionar. E de quantos filmes podemos dizer o mesmo nos últimos anos???
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