OS
EXCÊNTRICOS TENENBAUMS (The royal Tenenbaums, 2001, Touchstone
Pictures, 110min) Direção: Wes Anderson. Roteiro: Wes Anderson, Owen
Wilson. Fotografia: Robert Yeoman. Montagem: Dylan Tichenor. Música:
Mark Mothersbaugh. Figurino: Karen Patch. Direção de arte/cenários:
David Wasco. Produção executiva: Rudd Simmons, Owen Wilson. Produção:
Wes Anderson, Barry Mendel, Scott Rudin. Elenco: Gene Hackman, Anjelica
Huston, Gwyneth Paltrow, Ben Stiller, Owen Wilson, Luke Wilson, Bill
Murray, Danny Glover, Seymour Cassel, Alec Baldwin. Estreia: 05/10/01
(Festival de Nova York)
Indicado ao Oscar de Roteiro Original
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator Comédia/Musical (Gene Hackman)
Era
uma vez uma família de pequenos gênios que, não conseguindo lidar com o
tamanho de seus talentos, cresceu à sombra de seus precoces feitos,
levando uma vida adulta triste e frustrada até que seu pai, de quem
viveram afastados por décadas, reaparece alegando uma doença terminal e
uma vontade férrea de reconciliação. Essa trama, um tanto banal a
princípio, é a base para um dos filmes mais estranhos, criativos e
surpreendentemente comoventes de 2001 - apesar de ser, a rigor, uma
comédia: dirigido por Wes Anderson e co-escrito por ele e o ator Owen
Wilson, "Os excêntricos Tenenbaums" aprimora o estilo de seu diretor -
depois do pouco conhecido "Pura adrenalina" e do cultuado "Três é
demais" - ao contar a história desses bizarros personagens incapazes de
lidar com sua decadência de forma divertida e emocionante, com toques
discretos de melancolia e cinismo. Contando com um elenco formado por
atores premiados com o Oscar - Gene Hackman, Anjelica Huston e Gwyneth
Paltrow - e colaboradores habituais - Owen Wilson, seu irmão Luke, Bill
Murray - Anderson criou um espetáculo de estilo personalíssimo, capaz
até mesmo de chamar a atenção da Academia de Hollywood, que lhe deu a
oportunidade de concorrer ao Oscar de melhor roteiro original - que
perdeu para "Assassinato em Gosford Park". Essa mesma Academia, que
ignorou o desempenho exemplar de Gene Hackman como o patriarca Royal
Tenenbaum, mais de uma década depois se encantaria com "O Grande Hotel
Budapeste", obra da maturidade do cineasta - mas os fãs já conheciam
esse talento há muito tempo.
A
história da família Tenenbaum é narrada pela voz de Alec Baldwin, que
dá o tom exato entre fábula e comédia de costumes à sua estranha
trajetória. Quando crianças, os três filhos de Royal e Etheline
Tenenbaum (Gene Hackman e Anjelica Huston) demonstram talentos incomuns
para sua idade, transformando-se rapidamente em pequenas celebridades: o
mais velho, Chas, desenvolve habilidades incomuns para as finanças e a
química; a filha adotiva, Margot, escreve peças de teatro
aplaudidíssimas; e o caçula Richie chama a atenção como prodigioso
jogador de tênis. A separação de seus pais, porém, abala suas estruturas
emocionais e intelectuais e os joga em uma espécie de arremedo deles
mesmos. Vinte e dois anos depois da separação, os três irmãos vivem
prostrados diante de suas vidas medíocres: Chas (Ben Stiller) acaba de
perder a esposa e tenta cuidar sozinho dos dois filhos pequenos, versões
em miniatura de si mesmo. Margot (Gwyneth Paltrow) deixou o teatro de
lado e vive em depressão ao lado do marido, o brilhante psiquiatra
Raleigh St. Clair (Bill Murray), com idade para ser seu pai. E Richie
(Luke Wilson), depois de abandonar a carreira durante uma crise
emocional em uma partida, saiu em viagem pelo mundo em um barco de
pesca. Quando seu pai retorna à mansão onde todos foram criados, dizendo
estar sofrendo de um câncer terminal - às vésperas do casamento de
Etheline com o contador Henry Sherman (Danny Glover) - a família se vê
obrigada a encarar os fantasmas do passado para finalmente conseguir
olhar para a frente.
A trama soa como um dramalhão dos
mais carregados no açúcar, mas Anderson não é um diretor dado a
sentimentalismos baratos, e aplica em seu roteiro toda a criatividade
visual que se tornaria sua marca registrada. A mansão da família, que
serve como principal cenário, por exemplo, é de uma sofisticação visual
impressionante, refletindo em cada detalhe todos os paradoxos temporais e
psicológicos da trama, repleta de camadas e piadas escondidas (como o
fato de todos os irmãos terem sido inspirados em personalidades reais,
como o tenista Bjorn Borg, a cantora alemã Nico e no escritor Cormac
McCarthy). A história de amor proibido entre Richie e sua irmã adotiva
Margot dá o toque romântico ao roteiro, que ainda encontra espaço para
explorar os dramas de Eli Cash (Owen Wilson), vizinho da família que se
torna famoso como romancista especialista em desmistificar heróis
americanos - e cujo maior sonho era ser um Tenenbaum. Fugindo do piegas
até mesmo nos embates dramáticos entre pai e filhos, o filme de Anderson
é conduzido como um delicado acerto de contas banhado em uma ironia
rara e inteligente que transpira até mesmo nos figurinos irreverentes -
os três irmãos, por exemplo, usam, mesmo na fase adulta, o mesmo estilo
de roupas que usavam na infância.
E se o roteiro e a
direção de "Os excêntricos Tenenbaums" são um show de sutileza e
minimalismo, o mesmo pode ser dito a respeito do extraordinário elenco
reunido por Wes Anderson. Gene Hackman levou o Golden Globe de melhor
ator em comédia ou musical por seu trabalho como Royal Tenenbaum - no
qual ele inspirou-se na própria relação distante com os filhos - e
Anjelica Huston mais uma vez mostra que não é preciso lágrimas em
profusão para emocionar. E os três irmãos gênios - Ben Stiller, Gwyneth
Paltrow e Luke Wilson - estão no tom perfeito, entrando com presteza no
jogo do cineasta, dono de um estilo tão peculiar que muitas vezes pode
soar artificial. No entanto, quem se deixa cativar por sua exuberância
não tem do que reclamar. A família Tenenbaum é, sem dúvida, o exemplo
perfeito do seu cinema que a tantos encanta.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
Um comentário:
Se eu soubesse o quanto era excelente, teria assistido antes contigo. Amei. E em nenhum momento achei ter soado superficial. Aquela estranheza deles (melhor dizer excentricidade para não ofendê-los, né? hehe) é tão cativante que você compra toda a história por mais vibrante e louca que seja. Esquece que não é realidade. É uma viagem. Amei mesmo.
Zukm.t
ppb
bjooooooooooo
Postar um comentário