A
SOMBRA DO VAMPIRO (Shadow of the vampire, 2000, Saturn Films/BBC Films,
Long Shot Films, 92min) Direção: E. Elias Merhige. Roteiro: Steven
Katz. Fotografia: Lou Bogue. Montagem: Chris Wyatt. Música: Dan Jones.
Figurino: Caroline De Vivaise. Direção de arte/cenários: Assheton
Gordon. Produção executiva: Paul Brooks, Alan Howden. Produção: Nicolas
Cage, Jeff Levine. Elenco: John Malkovich, Willem Dafoe, Catherine
McCormack, Udo Kier, Cary Elwes. Estreia: 13/5/00 (Festival de Cannes)
2 indicações ao Oscar: Ator Coadjuvante (Willem Dafoe), Maquiagem
A
imagem aterradora do ator Max Schreck como Nosferatu no clássico
expressionista de F.W. Murnau lançado em 1922 é conhecida até mesmo por
aqueles que nunca tiveram a oportunidade de assistir ao filme, um marco
na história do cinema mundial e referência obrigatória até os dias de
hoje. O personagem, inspirado no Drácula criado por Bram Stoker - mas
que teve que ter seu nome alterado devido à proibição do autor em
liberar os direitos de filmagem de seu livro - acabou tornando-se marca
registrada de Shreck, um veterano ator dos palcos alemães que nunca mais
conseguiu livrar-se do estigma de interpretar alguém tão marcante. Uma
das lendas instauradas ao redor de seu nome - a de que ele seria um
vampiro de verdade contratado para dar veracidade ao papel - é a base
para o roteiro de uma curiosa reimaginação do mito, visualmente atraente
e que quase deu a Willem Dafoe um Oscar de coadjuvante: "A sombra do
vampiro". Mescla de comédia de humor negro, suspense e drama sobre os
bastidores do cinema, o filme arrancou elogios desde sua estreia no
Festival de Cannes de 2000, mas sofre de uma irregularidade que
compromete seu resultado final.
A trama se passa na
Berlim de 1921, quando o cineasta F.W. Murnau (John Malkovich,
exagerando na composição mais uma vez) dá início às filmagens de seu
"Nosferatu", adaptação não-oficial do romance escrito por Bram Stoker.
Excêntrico por natureza, o cineasta surpreende ainda mais sua equipe
quando diz a eles que o ator escolhido para o papel principal, Max
Schreck (Willem Dafoe) - desconhecido de todos - tem um método muito
especial para desenvolver o personagem, mantendo-se à distância do
restante do elenco e dos demais funcionários (além de ficar
permanentemente na pele do temível monstro). Não demora muito para que
as atitudes de Shreck passem a incomodar, especialmente quando fatos
estranhos começam a acontecer à sua volta, como a súbita doença do
diretor de fotografia Wolfgang Muller (Ronan Vibert). O que ninguém sabe
- com exceção de Murnau - é que o misterioso e calado ator é, na
verdade, um vampiro verdadeiro, que aceitou o trabalho tendo como
recompensa o sangue da atriz principal, Greta Schroder (Catherine
McCormack). Resta ao diretor, então, manter em segredo sua negociação
com o astro do filme e finalizar as filmagens.
O
visual de "A sombra do vampiro" é interessantíssimo: a fotografia
recria com perfeição o clima claustrofóbico do filme original de Murnau,
enquanto elabora um atmosfera nova para retratar seus bastidores,
oferecendo à plateia uma visão única do processo de criação de um dos
maiores clássicos da sétima arte. A direção de arte caprichada mergulha o
espectador na história, conduzindo-o por um labirinto feérico que
remete aos belos enquadramentos do cineasta alemão e a maquiagem que
transforma Willem Dafoe em Max Schreck beira a perfeição: não à toa,
tanto ela quanto Dafoe foram indicados ao Oscar. Em uma caracterização
inesquecível que caminha no fio da navalha do excesso, o ator - que foi
escolhido para viver o Duende Verde no "Homem-aranha", de Sam Raimi
graças à excelência de sua atuação - não hesita em abusar de todas as
possibilidades que o papel oferece, esbarrando apenas na
superficialidade do roteiro, que jamais tenta ultrapassar os limites da
brincadeira e se satisfaz em apenas criar uma situação fascinante, sem
explorá-la dramaticamente.
Essa falha de "A sombra do
vampiro" em desenvolver a contento seus personagens acaba sendo seu
calcanhar de Aquiles. Fosse um curta-metragem ou um videoclipe, o
resultado seria uma pequena obra-prima, já que todos os elementos estão
nos seus devidos lugares. Como filme, é difícil relevar o desinteresse
que demonstra, por exemplo, pelo diretor vivido por John Malkovich,
tornado um coadjuvante quase sem função na segunda metade da trama,
quando as atividades de Shreck se tornam um problema tão grande que
passam a ameaçar o término das filmagens - e acabam por encontrar um
heroi na figura do fotógrafo substituto (vivido por Cary Elwes, que,
coincidentemente ou não, também caçou um vampiro na versão de Francis
Ford Coppola, "Drácula de Bram Stoker", de 1992). Interessante mas menos
brilhante do que poderia ser, "A sombra do vampiro" é apenas um filme
curioso, que ilustra uma das lendas mais fascinantes da história do
cinema.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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