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NAS PROFUNDEZAS DO MAR SEM FIM

NAS PROFUNDEZAS DO MAR SEM FIM (The deep end of the ocean, 1999, Columbia Pictures/Mandalay Entertainment, 106min) Direção: Ulu Grosbard. Roteiro: Stephen Schiff, romance de Jacquelyn Mitchard. Fotografia: Stephen Goldblatt. Montagem: John Bloom. Música: Elmer Bernstein. Figurino: Susie DeSanto. Direção de arte/cenários: Dan Davis/Stephanie Ziemer. Produção executiva: Frank Capra III. Produção: Kate Guinzburg, Steve Nicolaides. Elenco: Michelle Pfeiffer, Treat Williams, Whoopi Goldberg, John Kapelos, Jonathan Jackson, Cory Buck, Ryan Merriman. Estreia: 12/3/99

Linda, sexy e talentosa, Michelle Pfeiffer iniciou, nos anos 90, uma sólida carreira como produtora, com o objetivo de encontrar papéis femininos fortes o bastante para ela e outras atrizes - constantemente em queixa da limitada quantidade de boas personagens no cinema norte-americano. Um dos filmes resultantes dessa sua procura foi "Nas profundezas do mar sem fim", um drama familiar tocante que, depois de ver sua estreia adiada nos EUA graças a refilmagens e mudanças constantes no roteiro, viu suas chances de concorrer ao Oscar e às demais premiações completamente soterradas. Não que merecesse (apesar de algumas qualidades é apenas mais uma produção apenas correta dentro da filmografia de Pfeiffer), mas sua presença nas listas dos críticos provavelmente ajudaria na sua parca bilheteria - menos de 15 milhões contra os cerca de 40 milhões do orçamento final. Seu fracasso comercial, porém, não reflete o valor do filme em si, que, dividindo sua narrativa em dois tempos distintos, prende a atenção do público do início até o fim - para acabar de maneira quase óbvia (um dos motivos, aliás, do atraso na estreia foi a filmagem de um final distinto do livro em que se baseia, escrito por Jacquelyn Mitchard).

A trama começa em 1988, quando a fotógrafa Beth Cappadora viaja com os três filhos pequenos para Chicago, para atender a uma comemoração de 15 anos de formatura. Em meio à balbúrdia do evento, ela acaba se perdendo do pequeno Ben, de 3 anos, que desaparece diante dos olhos de dezenas de pessoas. O esforço da polícia local - em especial da detetive Candy Bliss (Whoopi Goldberg) - não impede que as buscas terminem por encerrar-se depois de meses de intenso trabalho. Desesperada, Beth não para de culpar-se pelo acontecido, entra em depressão e quase acaba com seu casamento com o amoroso e dedicado Pat (Treat Williams) - além de alienar-se dos dois outros filhos, principalmente do mais velho, Vincent, de sete anos. Nove anos mais tarde, morando em Chicago com a família e tendo iniciado uma vida nova (sem esquecer, porém, da trágica tarde em que perdeu o filho), Beth leva um choque quando dá de cara com Sam (Ryan Merriman), o filho de um vizinho que mora a alguns quarteirões de distância: quando o menino se oferece para cortar a grama de sua casa, ela reconhece nele o seu próprio Ben, e precisa provar à polícia e ao marido que está certa. Além disso, outros problemas surgem: se for verdade que o garoto é seu filho, como ele reagirá à nova realidade? E o adolescente Vincent (Jonathan Jackson), que tem um grande sentimento de culpa e abandono, vai aceitar a volta do irmão perdido?


As questões levantadas pelo roteiro de "Nas profundezas do mar sem fim" são bastante interessantes, permitindo a Michelle Pfeiffer que mostre seus dotes dramáticos na medida certa, mas o roteiro não vai além do superficial, jamais oferecendo à plateia mais do que o esperado de um telefilme, por exemplo. A direção burocrática de Ulu Grosbard - que já comandou com a mesma frieza Meryl Streep e Robert De Niro em "Amor à primeira vista" - não ultrapassa os limites do convencional, imprimindo ao filme um tom que flerta com o modo europeu de tratar assuntos semelhantes, mas sem a mesma neutralidade. Sempre que Pfeiffer está em cena o filme cresce com sua garra e emotividade à flor da pele - que encontram eco na sempre competente Whoopi Goldberg - mas em grande parte de seu tempo a plateia não tem muito com o que se emocionar, restando a ela apenas a chance de questionar as atitudes dos personagens, complexos o bastante para não deixar que a trama resvale no vazio. E são justamente essas questões que sustentam a trama desde seus primeiros minutos.

O roteiro de "Nas profundezas do mar sem fim" praticamente pode ser dividido em dois: a primeira metade, que mostra a busca pelo pequeno Ben e o desespero de sua família é intrigante e angustiante, sufocando o público com uma situação que é o pesadelo de qualquer pai - principalmente porque termina de uma maneira nada otimista. A segunda parte, que joga a família de Beth no furacão de dúvidas a respeito da identidade de Sam (e posteriormente sua adequação ao novo destino) tem um ritmo menos envolvente, ainda que jamais perca a capacidade de intrigar os espectadores. O drama da protagonista em manter a família unida a despeito de todas as transformações que os obrigam a encarar uma nova realidade é o cerne do filme nessa metade final, e para sorte de todos, Michelle Pfeiffer tira de letra o desafio de segurar o rojão. É ela, do alto de sua beleza etérea, que dá sustentação e classe a uma produção apenas regular, que, apesar dos pesares, merece uma espiada sem maiores pretensões.

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