O
CÉU DE OUTUBRO (October sky, 1999, Universal Pictures, 108min) Direção:
Joe Johnston. Roteiro: Lewis Colick, livro de Homer H. Hickman Jr..
Fotografia: Fred Murphy. Montagem: Robert Dalva. Música: Mark Isham.
Figurino: Betsy Cox. Direção de arte/cenários: Barry Robinson/Chris
Spellman. Produção executiva: Peter Cramer, Marc Sternberg. Produção:
Larry Franco, Charles Gordon. Elenco: Jake Gyllenhaal, Laura Dern, Chris
Cooper, Chris Owen, William Lee Scott, Chad Lindberg, Natalie Carneday,
Scott Miles. Estreia: 19/02/99
Desde que Hollywood
é Hollywood, histórias verdadeiras e de superação envolvem e emocionam o
espectador, a despeito dos fatos estarem perto de sua realidade ou não.
Como o estoque de personalidades famosas é finito, porém, os estúdios
volta e meia se voltam a acontecimentos mais simples, mais domésticos,
mas nem por isso menos fascinantes e inspiradores. É o caso da história
de Homer Hickam, estudante de uma pequena cidade mineira do interior
americano que, no final da década de 50, em plena guerra espacial entre
EUA e Rússia, lutou contra todas as possibilidades em contrário para
construir um foguete caseiro e, com isso, fugir da vida triste e
limitada a que estava destinado desde o nascimento. Estrelado por um
jovem e iniciante Jake Gyllenhaal e dirigido com delicadeza por Joe
Johnston - de "Jumanji" e "Jurassic Park III" - "O céu de outubro" é um
belo drama juvenil que, mesmo esbarrando nos clichês, funciona à
perfeição em seu objetivo de envolver e emocionar.
Vivendo
em uma pequena cidade chamada Coalwood, que sobrevive graças à
exploração das minas de carvão, o adolescente Homer Hickam Jr. sabe que
não terá muitas escolhas em relação a seu futuro profissional, uma vez
que seu pai (o sempre excelente Chris Cooper) é o líder dos mineiros e
vê nele uma espécie de sucessor: seu irmão mais velho, Jim (Scott
Miles), é um jogador de futebol talentoso e tem chances de ir para a
faculdade, ao contrário dele, um aluno sem maiores méritos físicos ou
intelectuais. É por isso que ninguém leva muito a sério quando ele
resolve construir um foguete nas aulas de Ciências, inspirado pelo
lançamento do russo Sputnik - é outubro de 1957, e o mundo está de olho
na corrida pela conquista do espaço. Com a ajuda de um grupo de colegas -
que inclui o nerd Quentin (Chris Owen) - ele começa a fazer
experimentos cada vez mais bem-sucedidos, apesar do deboche de vários
colegas e do descaso do próprio pai. Só quem acredita em seus sonhos é
sua professora, Miss Riley (Laura Dern), que fará tudo que puder para
incentivá-lo, mesmo quando as coisas parecem sem nenhuma esperança.
Narrado
com simplicidade e carinho por Johnston - um cineasta sem
personalidade, mas correto o suficiente para valorizar os aspectos mais
humanos da trama, em detrimento de detalhes técnicos que poderiam
aborrecer o espectador médio - "O céu de outubro" equilibra com rara
destreza um drama familiar um tanto previsível (mas ainda assim
comovente) e uma aventura juvenil com ecos de "Conta comigo" -
obra-prima de Rob Reiner inspirada em conto de Stephen King. Ingênuo na
medida certa, o filme buscou no livro do próprio Hickman a base para uma
história pura e idealista que combina com a filmografia "família" de
seu diretor e conquista a plateia justamente por soar como uma produção à
moda antiga, nos moldes dos tradicionais produtos Disney, onde a
ingenuidade, o caráter e a integridade eram peças fundamentais para o
final feliz. Aqui, Johnston apresenta um conto moral sem excessos de
açúcar, amparado na produção bem cuidada e no elenco acima da média, que
dá credibilidade a um roteiro eficiente, ainda que burocrático ao
extremo.
Ainda dando seus primeiros passos na carreira,
Jake Gyllenhaal está ótimo no papel central, transmitindo com precisão
todos os sentimentos de seu Homer, um adolescente sonhador mas bastante
dedicado a romper a tradição operária de sua linhagem familiar através
dos estudos e da ciência. Seus embates com o pai, vivido por um Chris
Cooper também ainda não devidamente reconhecido com o Oscar e com os
elogios que sempre mereceu, são verossímeis, emocionantes, quase cruéis,
e sua química com Laura Dern - como a doce mestra que lhe serve de
apoio e inspiração - é doce e suave, quebrando o tom quase sufocante das
relações familiares do rapaz. Esse contraste entre os dois mundos de
Homer (o lar que lhe desanima e o convívio amigável e fraterno com os
colegas e a professora, que lhe dão o ânimo necessário) é outro acerto
da direção, que os apresenta gradualmente até as sequências finais,
quando eles finalmente se encontram.
Mesmo que não
surpreenda e seja menos ousado narrativamente do que poderia, "O céu de
outubro" cumpre o que promete com louvor. É bonito, é emocionante, é
inspirador e é leve como deveria. Um pequeno grande filme que serviu
também para apresentar à plateia um ator que ainda daria muito o que
falar, o jovem e talentoso Gyllenhaal.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quarta-feira
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