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EM QUALQUER OUTRO LUGAR

EM QUALQUER OUTRO LUGAR (Anywhere but here, 1999, 20th Century Fox, 114min) Direção: Wayne Wang. Roteiro: Alvin Sargent, romance de Mona Simpson. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Nicholas C. Smith. Música: Danny Elfman. Figurino: Betsy Heinman. Direção de arte/cenários: Donald Graham Burt/Barbara Munch. Produção executiva: Ginny Nugent. Produção: Laurence Mark. Elenco: Susan Sarandon, Natalie Portman, Shawn Hatosy, Bonnie Bedelia, Thora Birch, John Carrol Lynch, Hart Bochner, Paul Guilfoyle, Megan Mulally, Caroline Aaron. Estreia: 17/9/99 (Festival de Toronto)

Se alguém ainda duvida do poder que duas atrizes de primeiro gabarito tem em transformar uma ideia simples e banal em um filme interessante, esse alguém precisa assistir a "Em qualquer outro lugar". Baseado em um romance nada memorável de Mona Simpson - irmã biológica de Steve Jobs - e dirigido sem muita criatividade por Wayne Wang (responsável pelo belo "O clube da felicidade e da sorte"), o filme, que retrata a difícil relação entre mãe e filha de personalidades conflitantes, sustenta-se basicamente no duelo de interpretações travado entre Susan Sarandon e Natalie Portman, que tomam para si a responsabilidade de dar consistência e emoção a personagens complexas que, em mãos menos sensíveis, poderiam soar apenas chatas e desagradáveis.

Ciente de que merece mais oportunidades que sua pequena Bay City lhe proporciona, a inquieta Adele August (Susan Sarandon) abandona o segundo marido e parte para Beverly Hills acompanhada da filha de 14 anos, a introvertida Ann (Natalie Portman), a quem ela deseja transformar em uma atriz. Fazendo a viagem conta a sua vontade, Ann - cujo contato com o pai foi perdido ainda nos primeiros anos da infância - começa a afastar-se ainda mais da mãe, uma mulher forte e determinada, mas equivocada na forma como leva a vida. Mudando-se constantemente e buscando sempre emoções novas - o que na prática tanto se resume a conquistar homens que podem lhe dar o conforto procurado quanto ambicionar um estilo de vida mais confortável e luxuoso - Adele muitas vezes demonstra ser mais imatura que a filha, cujo único objetivo imediato é terminar a escola, para mais tarde tentar entrar em uma faculdade, longe dos delírios de sua mãe.


Com uma linha narrativa frágil e sem maiores lances dramáticos - nem mesmo uma inesperada e trágica morte altera o tom naturalista proposto por Wang, um cineasta com bom olho para a variação de nuances de suas atrizes - "Em qualquer outro lugar" pode ser descrito sem medo como um filme "para mulheres", já que concentra-se exclusivamente no ponto de vista feminino da história, relegando os homens a meros coadjuvantes unidimensionais. Tal opção, ainda que válida, acaba por limitar o alcance da obra e lhe tirando as possibilidades de agradar a um público mais amplo - o que explica sua bilheteria pouco representativa mesmo com o relativo poder de fogo de Sarandon, na época já premiada com o Oscar por seu trabalho em "Os últimos passos de um homem". Uma das grandes atrizes de sua geração, ela domina cada sequência com um carisma gigantesco, que impede a rejeição à uma personagem que não é exatamente simpática: irresponsável, carente e muitas vezes egoísta, sua Adele só encontra redenção em seu amor (distorcido, mas ainda assim amor) pela filha, vivida por uma ainda iniciante Natalie Portman - que entrou no elenco como exigência absoluta de Sarandon. Linda como sempre, Portman mostra a cada momento o porquê da instransigência de sua mãe fictícia: juntas, elas são o corpo e a alma do filme.

Resumir "Em qualquer outro lugar" não é empolgante. A história é banal, quase clichê. As personagens raramente ultrapassam os limites do superficial - e quando o fazem devem isso a suas talentosas protagonistas. A narrativa não é criativa, apesar de compensar tal característica na seriedade e na placidez. Mas ao mesmo tempo é difícil não se deixar envolver pelo filme de Wang, já que ele tem a inteligência de apoiar-se quase exclusivamente em suas atrizes centrais, tão espetaculares e carismáticas que disfarçam todo e qualquer momento de tédio. É, literalmente, um filme que vale pelo elenco.

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