NINGUÉM E PERFEITO (Flawless, 1999, Tribeca Productions, 112min) Direção e roteiro: Joel Schumacher. Fotografia: Declan Quinn. Montagem: Mark Stevens. Música: Bruce Roberts. Figurino: Daniel Orlandi. Direção de arte/cenários: Jan Roelfs/Leslie Pope. Produção executiva: Neil Machlis. Produção: Jane Rosenthal, Joel Schumacher. Elenco: Robert De Niro, Philip Seymour Hoffman, Barry Miller, Chris Bauer, Skipp Sudduth, Wilson Jermaine Heredia, Rory Cochrane, Wanda de Jesus. Estreia: 24/11/99
Joel Schumacher é um diretor cuja carreira se divide entre alguns filmes realmente bons - "Linha mortal", "Um dia de fúria", "Tigerland, a caminho da guerra" - alguns decididamente tenebrosos - "Batman eternamente", "Batman & Robin", "Reféns" - e outros que ficam no meio do caminho entre o bom entretenimento e o desastre completo. A comédia policial "Ninguém é perfeito" é um desses casos. Também escrito por Schumacher, o filme foi produzido pela empresa do ator Robert De Niro, a Tribeca Productions, mas sua indecisão entre ser um leve e simpático ato de carinho à tolerância para com a comunidade gay ou um policial desinteressante e previsível acabou com suas chances de tornar-se memorável (ou sequer um sucesso comercial). Não fosse a exemplar performance de Philip Seymour Hoffman em um dos papéis principais - que ofusca sem muito esforço até mesmo o normalmente brilhante De Niro - o filme provavelmente estaria fadado ao esquecimento ou às críticas ácidas, ao lado dos trabalhos menos inspirados do cineasta.
É a trama policial insossa que dá o pontapé inicial ao filme: um tiroteio entre a polícia e traficantes deixa duas vítimas fatais em um prédio onde mora o respeitado e dedicado detetive Walt Koontz (Robert De Niro), que, tomando parte na ação, sofre um derrame que o deixa parcialmente incapacitado para andar e falar. Solitário e introvertido - seus únicos amigos são ex-colegas que o encontram para jogar baralho e mulheres com que ele faz sexo em troca de ajuda financeira - ele recebe a sugestão médica de fazer aulas de canto para apressar sua cura. Sem conseguir movimentar-se sozinho pela cidade, ele acaba apelando para Rusty (Philip Seymour Hoffman), um vizinho que ganha a vida como drag queen enquanto espera o momento de fazer sua sonhada operação de mudança de sexo - e dá aulas como forma de reforçar o orçamento. O convívio entre os dois não é dos melhores, já que Walt é homofóbico, conservador e preconceituoso e Rusty não faz a menor questão de esconder seu jeito de viver e seus amigos chamativos, mas aos poucos eles começam a lidar com sua intolerância - apesar de inúmeras e violentas discussões.
Hoffman, ainda um ator pouco conhecido mas presença frequente e marcante em produções menos comerciais - como o indigesto "Felicidade", de Todd Solondz e o já clássico "Boogie nights, prazer sem limites", de Paul Thomas Anderson - está impecável na pele de Rusty, dosando com exatidão os trejeitos e as entonações de voz de um personagem extremamente propenso a exageros e armadilhas caricatas. Seu trabalho é tão formidável que frequentemente eclipsa - quando não apaga totalmente - o desempenho de Robert De Niro, que pouco tem a fazer em cena senão resmungar e tentar dar um mínimo de simpatia a um personagem destinado a ser o menos carismático da dupla de protagonistas. Quando estão juntos em cena os dois atores - dois grandes mestres - valem o espetáculo, mesmo sendo obrigados a lutar contra uma trama pouco criativa e um texto que nunca vai além do previsível, especialmente quando retorna à aborrecida trama policial, que dilui a tensão dramática construída no drama entre os personagens centrais. As constantes mudanças de foco - que incluem também um concurso de drag queens que pouco acrescenta à trama central - servem apenas para cansar o espectador, o afastando de qualquer tipo de empatia ou preocupação que poderia vir a ter com a história da insuspeita amizade entre Koontz e Rusty. Esse problema, causado por um roteiro pouco enxuto e muito superficial, mina toda a estrutura do filme, lhe causando danos irrecuperáveis que se avolumam para um clímax fraco e sonolento.
No final das contas, "Ninguém é perfeito" vale mesmo é pela presença hipnotizante de Philip Seymour Hoffman, um ator superlativo, capaz de transformar latão em ouro e um filme medíocre em um passatempo suportável. É ele o corpo e a alma do filme de Schumacher - ainda que a produção careça de uma mais consistente e relevante.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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