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O COLECIONADOR DE OSSOS

O COLECIONADOR DE OSSOS (The bone collector, 1999, Universal Pictures/Columbia Pictures, 118min) Direção: Philip Noyce. Roteiro: Jeremy Iacone, romance de Jeffery Deaver. Fotografia: Dean Semler. Montagem: William Hoy. Música: Craig Armstrong. Figurino: Odette Gaudory. Direção de arte/cenários: Nigel Phelps/Marie-Claude Gosselin, Susan C. MacQuarrie, Harriet Zucker. Produção executiva: Dan Jinks, Michael Klawitter. Produção: Martin Bregman, Michael Bregman, Louis A. Stroller. Elenco: Denzel Washington, Angelina Jolie, Queen Latifah, Michael Rooker, Luis Guzman, Mike McGlone, Leland Orser, Ed O'Neil, Bobby Cannavale. Estreia: 29/8/99 (Festival de Montreal)

O ano de 1999 foi movimentado para Denzel Washington e Angelina Jolie: antes mesmo que passassem a acumular elogios e prêmios por suas atuações em "Hurricane, o furacão" e "Garota, interrompida", respectivamente, os dois atores tiveram o gostinho de brincar de gato e rato no suspense policial "O colecionador de ossos", baseado em livro do escritor Jeffery Deaver. Uma espécie de "O silêncio dos inocentes" sem ambições psicológicas maiores do que as necessárias para prender a atenção da plateia, o filme tem a seu favor a intensidade dramática de Washington - um dos atores mais confiáveis de Hollywood - e a direção segura de Philip Noyce, mas esbarra em tantas implausibilidades e em um final tão anti-climático que nem mesmo os esforços da produção caprichada conseguem disfarçar a fragilidade de sua trama.

O protagonista vivido por Washington no piloto automático é Lincoln Rhyme, um policial tornado famoso por seus métodos investigativos heterodoxos e pelos livros que escreveu sobre o assunto. Tetraplégico após um acidente de trabalho mas ainda ajudando a polícia mesmo preso a uma cama que limita seus movimentos - e que o faz flertar seriamente com a eutanásia mesmo contra a vontade de sua enfermeira, Thelma (Queen Latifah) - ele é procurado por seu ex-parceiro, Paulie Selitto (Ed O'Neill) para colaborar na caça a um psicopata que, caçando suas vítimas em seu táxi, anda deixando pistas que remetem a algo que os detetives nova-iorquinos não conseguem compreender em sua totalidade. Sentindo-se desafiado, Rhyme aceita o desafio, mas exige a ajuda de Amelia Donaghy (Angelina Jolie), uma jovem policial que está em vias de abandonar as ruas para dedicar-se a uma carreira menos violenta dentro da corporação. A princípio hesitante - por não ter experiência e nem estômago para coletar as evidências, além de ter um passado traumático - ela muda de ideia e torna-se o corpo de Lincoln nas cenas dos crimes. Juntos, eles partem em busca da identidade e dos motivos do serial killer, que, entre outras delicadezas, arranca pedaços dos ossos de suas vítimas.


Philip Noyce acerta em cheio no clima que propõe a "O colecionador de ossos", exalando tensão em cada sequência, principalmente por conta da trilha sonora do veterano Craig Armstrong e da fotografia soturna do oscarizado Dean Semler - vencedor da estatueta por "Dança com lobos". O problema resume-se basicamente à trama, inverossímil e carente da intensidade psicológica que separa os filmes apenas corretos daqueles que se tornam clássicos inesquecíveis. É difícil, por exemplo, acreditar nas epifanias de Rhyme: por mais genial que ele seja ou por mais experiência que tenha, a facilidade com que ele entra na mente do assassino - e entende todas as suas motivações e antecipa seus próximos passos - soa forçada demais até mesmo para um público acostumado a explosões e efeitos visuais sem sentido. As revelações finais sobre o nome do assassino também soam artificiais e apressadas, como se fosse extremamente necessário surpreender a plateia com um desfecho inesperado (e carente de lógica). Mesmo que esse exagero venha do romance de Deaver - um escritor respeitado e querido por um público fiel - em cinema é quase impossível comprar a premissa básica, o que acaba por comprometer fatalmente o resultado final, por mais esforço que haja por parte da direção e do talentoso elenco.

Prejudicada por uma personagem sem maiores justificativas dramáticas que não sejam comerciais - e desprovida de qualquer traço da sensualidade que se tornaria uma de suas maiores características - Angelina Jolie faz o que pode em cena, transmitindo a seriedade exigida pelo papel mesmo quando o exagero toma conta da história. Queen Latifah brilha sempre que entra em cena, com uma presença que ficaria evidente com sua indicação ao Oscar de coadjuvante, por "Chicago", três anos depois. E Denzel Washington, do alto de sua consagração como um dos mais importantes atores negros do cinema americano, impõe respeito e credibilidade a um personagem que, em mãos menos eficientes, poderia resvalar facilmente ou para a caricatura ou para o dramalhão excessivo. Econômico e sutil, ele dá sustentação a um filme eficiente, mas exagerado demais em suas tentativas de chocar o público. Assistível, mas facilmente esquecível.

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