O
CLUBE DOS CORAÇÕES PARTIDOS (The broken hearts club: a romantic comedy,
2000, Banner Entertainment, 94min) Direção e roteiro: Greg Berlanti.
Fotografia: Paul Elliott. Montagem: Todd Busch. Música: Christophe Beck.
Figurino: Mas Kondo. Direção de arte/cenários: Charles Daboub Jr./Mark
Macauley. Produção: Mickey Liddell, Joseph Middleton. Elenco: Timothy
Olyphant, Dean Cain, Zach Braff, John Mahoney, Justin Theroux, Ben
Weber, Nia Long, Matt McGrath, Andrew Keegan, Jennifer Coolidge, Kerr
Smith, Michael Bergin. Estreia: 29/01/00 (Festival de Sundance)
Ao
contrário dos anos 70 - que começava a vislumbrar no mundo gay uma
temática a ser explorada no cinema - e dos anos 80 - onde a ameaça da
AIDS surgia como mais um motivo para varrer para debaixo do tapete um
assunto tão pouco comercial - os anos 90 encararam a homossexualidade
como algo menos sombrio, aproveitando a onda liberal do final do século.
Foi assim que produções que enfatizavam a paranoia, como "Parceiros da
noite" - policial em que Al Pacino investigava um serial killer que
matava gays - e o fantasma do HIV - como "Filadélfia", que deu o Oscar
de melhor ator a Tom Hanks - começaram a ser, aos poucos, substituídas
por outras menos pesadas, que lançavam um olhar mais ameno e até
bem-humorado sobre a situação de homens e mulheres que convivem
saudavelmente com sua sexualidade. Mesmo tendo sido quase ignorado em
termos comerciais, um dos exemplos mais felizes dessa tendência foi "O
clube dos corações partidos", cujo título original ostentava com orgulho
a definição "uma comédia romântica" como forma de sublinhar seu tom
suave. Equilibrando com presteza um humor ácido e uma branda melancolia,
o diretor e roteirista Greg Berlandi - revelado na telessérie "Dawson's
Creek" - fez de seu filme uma espécie de "O primeiro ano do resto de
nossas vidas" (citado nominalmente em uma cena) gay.
Assim
como no filme de Joel Schumacher - cujo elenco revelou nomes como Demi
Moore, Emilio Estevez e Rob Lowe - os personagens de "O clube dos
corações partidos" tem um ponto de encontro fixo: o restaurante do
veterano Jack (John Mahoney), que vez ou outra entretém seus
frequentadores fazendo um show como drag queen. É ele também quem
insiste em manter viva a tradição de um time de baseball, apesar do
pouco caso de seus jogadores - e melhores amigos. O principal deles é
Dennis (Timothy Olyphant), um fotógrafo amador que, com a chegada dos 28
anos, sente-se solitário e incapaz de manter um relacionamento estável.
Decidido a mudar de vida e procurar um grande amor, ele transita entre
os problemas de seu complicado grupo de amigos: Patrick (Ben Weber) é o
patinho feio da turma, e enfrenta o dilema de ajudar ou não sua irmã
lésbica a ter um filho com a parceira; o racional Howie (Matt McGrath),
que acabou um namoro recentemente, mas não consegue desvencilhar-se do
ex, Marshall (Justin Theroux), a quem acusa de imaturidade; Benji (Zach
Braff), que tem uma queda incurável por meninos bonitos e sem caráter;
Taylor (Billy Porter), recentemente abandonado pelo namorado e tentando
recuperar-se; e Cole (Dean Cain, famoso como o Clark Kent da série "As
aventuras de Lois e Clark"), aspirante a ator que vive de sua aparência
invejável.
Usando
tais personagens como mola-mestra de seu roteiro, Berlandi muitas vezes
não consegue escapar dos estereótipos comuns ao gênero, mas ao menos
lhes banha com uma alta dose de generosidade. Mesmo quando as atitudes
de suas criaturas não são as mais dignas, ele dá um jeito de perdoá-las,
utilizando-se para isso de um bom-humor inteligente e um senso de
humanismo que faz muita falta na maioria das produções semelhantes. Sem
cair na tentação de beatificar ninguém, o cineasta (que só assumiu a
cadeira de diretor depois de muita insistência dos produtores) mostra ao
público personagens propensos a erros e acertos, capazes de ajudar uns
aos outros enquanto caem nas armadilhas de seus próprios caminhos. Mesmo
que soando superficial a maior parte do tempo - tantos personagens
assim cairiam melhor em uma série de TV, como mais tarde provaria "Queer
as folk" - o filme surpreende por sua honestidade, ainda que ela esteja
diluída pelo filtro das produções comerciais: o sexo é quase casto, o
amor vence tudo, a amizade é a cura para todos os problemas. É otimista,
mas soa um tanto ingênuo.
Sobra o elenco, formado em
sua maioria por atores jovens que experimentariam posteriormente o
gostinho da fama. Timothy Olyphant e Zach Braff fariam sucesso na TV (o
primeiro em "Everwood" e o segundo em "Scrubs"), Andrew Keegan (que vive
um jovem em processo de autodescobrimento) entraria no elenco de
"American pie" e Dean Cain ainda arrancaria suspiros como o bem-sucedido
Superman da televisão, ao lado de Teri Hatcher. Com uma ótima química
em cena, o grupo conquista a plateia sem fazer muito esforço, arrancando
risadas e lágrimas na medida certa. Às vezes, "O clube dos corações
partidos" parece muito um telefilme - talvez culpa das experiências
anteriores do diretor - mas é simpático, divertido e foge dos dramalhões
que normalmente acompanham filmes de temática homossexual. Isso já é
mais do que suficiente para merecer uma espiada.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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