360 (360, 2011, BBC Films/UK Film Council, 110min) Direção: Fernando Meirelles. Roteiro: Peter Morgan, peça teatral "Reigen" de Arthur Schnitzler. Fotografia: Adriano Goldman. Montagem: Daniel Rezende. Figurino: Monika Buttinger. Direção de arte/cenários: John Paul Kelly/Anna Lynch-Robinson. Produção executiva: Graham Bradstreet, Chris Contogouris, David Faigenblum, Steven Gagnon, Jordan Gertner, David Linde, Nikhil Sharma, Tim Smith. Produção: Andrew Eaton, Chris Hanley, Danny Krausz, David Linde, Emanuel Michael. Elenco: Jude Law, Rachel Weisz, Anthony Hopkins, Ben Foster, Maria Flor, Juliano Cazarré, Moritz Bleibetreu, Lucia Siposová, Gabriela Marcinková, Johannes Krisch, Jamel Debouze, Dinara Drukarova, Marianne Jean-Baptiste. Estreia: 09/9/11 (Festival de Toronto)
Um dos maiores problemas que podem acometer um cineasta talentoso é o
excesso de expectativas em relação a seus trabalhos - e a consequente
ambição que nem sempre atinge seus objetivos. Um exemplo claro disso é o
brasileiro Fernando Meirelles. Depois do merecidíssimo êxito de "Cidade
de Deus" - que entrou na lista de nove entre dez críticos como um dos
filmes essenciais da primeira década do século XXI, levou multidões aos
cinemas e concorreu a 4 Oscar - ele assinou obras interessantes baseadas
em livros conhecidos - "O jardineiro fiel" (que deu a Rachel Weisz o
Oscar de coadjuvante) e "Ensaio sobre a cegueira" (que adaptou com
competência a obra difícil de José Saramago mas dividiu a crítica) - e
chegou a seu projeto mais difícil até agora: "360", escrito por Peter
Morgan ("A rainha") com base em uma peça de teatro do austríaco Arthur
Schnitzler, amigo de Freud e autor também do livro que deu origem a "De
olhos bem fechados", último trabalho de Stanley Kubrick. O resultado
final comprova o talento de Meirelles por trás das câmeras, mas também
evidencia o que muito fã de cinema já sabe muito bem: filmes com
histórias paralelas são, raras exceções à parte, bastante irregulares em
seu conjunto.
A maior qualidade do roteiro de "360" - o título refere-se ao círculo
completo que se fecha a seu final - é que as histórias contadas ao longo
de seus 110 minutos interligam-se de forma tênue, quase invisível,
tornando verossímeis até mesmo relações quase impossíveis - como a que
envolve o americano em busca da filha desaparecida (ótimo trabalho do
veterano Anthony Hopkins) com a brasileira que abandona o namorado e
parte de volta pra casa (a delicada Maria Flor) e cai nos braços de um
ex-presidiário condenado por estupro (o excelente Ben Foster). O olhar
de Meirelles aos detalhes, seu cuidado com a direção de atores continua
perceptível e afiados, dando espaço para o brilho de seu vasto elenco,
que inclui também os premiados Jude Law e Rachel Weisz como um casal em
crise - ele Michael, busca prostitutas em suas viagens a negócios e ela, Rose, tem um
caso tórrido com o fotógrafo brasileiro Rui (Juliano Cazarré). O cineasta é
inteligente o bastante também para nunca deixar que a audiência saiba o
que está para acontecer, fugindo dos clichês e usando a excelente
trilha sonora como comentários sutis à ação. Soma-se a isso a edição do
parceiro habitual do diretor, Daniel Rezende, e tem-se um filme
tecnicamente perfeito. Mas falta a ele algo que nunca faltou aos
trabalhos anteriores de Fernando Meirelles: emoção.
Mesmo que em alguns segmentos o público consiga se importar com as
personagens - principalmente devido a atuações gloriosas de Ben Foster e
Maria Flor - é fato que falta alma a "360". Talvez porque fiquem um
tempo curto demais em cena as personagens não conseguem envolver a
audiência, mesmo porque nem todas as histórias tem um desfecho. Ao mesmo
tempo em que isso denota uma bem-vinda ousadia (fugir dos padrões nunca
faz mal), afugenta o público que espera resoluções comuns. E algumas
personagens são tão fascinantes que fica-se questionando se não
valeriam, sozinhas, um filme inteiro - caso do ex-detento Tyler e do dentista muçulmano (Jamel Debbouze) apaixonado pela assistente casada (Dinara Drukarova).
Centrando seu terço final em uma trama um tanto dèja-vu sobre prostituição internacional e com personagens não tão interessantes a ponto de encerrar o filme, "360" não é a obra-prima que poderia ser, haja visto o acúmulo de
talentos envolvidos em sua realização. Mas é tecnicamente deslumbrante,
magnificamente interpretado e dirigido com sofisticação e sensibilidade. Se tivesse um
pouquinho mais de alma seria ainda melhor. Ainda assim, merece uma conferida, nem que seja para conferir o desfile de grandes atores que proporciona ao espectador.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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Um comentário:
Adicionei a minha lista de leitura!
Ótimo texto!
Abraço!
André Betioli!
3quenaoda1.blogspot.com.br
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