ARGO (Argo, 2012, Warner Bros, 120min) Direção: Ben Affleck. Roteiro: Chris Terrio, livro "The master of disguise", de Antonio J. Mendez e artigo "The great escape", de Joshuah Bearman. Fotografia: Rodrigo Prieto. Montagem: William Goldenberg. Música: Alexandre Desplat. Figurino: Jacqueline West. Direção de arte/cenários: Sharon Seymour/Jan Pascale. Produção executiva: Chris Brigham, Chay Carter, Tim Headington, Graham King, David Klawans. Produção: Ben Affleck, George Clooney, Grant Heslov. Elenco: Ben Affleck, John Goodman, Alan Arkin, Bryan Cranston, Victor Garber, Chris Messina, Tate Donovan, Kyle Chandler, Zeljko Ivanek, Clea DuVall, Scott McNairy, Rory Cochrane, Christopher Denham, Kerry Bishé, Bob Gunton. Estreia: 31/8/12 (Festival de Telluride)
7 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Alan Arkin), Roteiro Adaptado, Montagem, Trilha Sonora Original, Edição de Som, Mixagem de Som
Vencedor de 3 Oscar: Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Montagem
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Melhor Diretor (Ben Affleck)
Desde que chegou pela primeira vez às telas, no Festival de Cinema de Telluride, em agosto de 2012, o terceiro
longa-metragem do ator medíocre tornado diretor talentoso Ben
Affleck começou as especulações a respeito de suas possíveis
indicações ao Oscar. Nada mais justo. Enxuto, sóbrio e contando uma
inacreditável história real ainda bastante relevante em uma época de constantes conflitos raciais e políticos, "Argo" conquistou a crítica e merecidos Golden
Globes de melhor drama e diretor. Infelizmente a Academia não foi assim
tão generosa, deixando o amigo de Matt Damon de fora do páreo e
diminuindo as chances da vitória na categoria principal. Mesmo assim, indicado em 7
categorias, "Argo" deu a volta por cima e riu por último, convertendo 3 das mais importantes indicações em estatuetas douradas: melhor filme, roteiro adaptado e montagem - todos eles prêmios justos e bastante merecidos.
Tendo entre seus produtores o ator George Clooney - que tinha planos de
dirigir e estrelar o filme desde 2007 - "Argo" encontrou em Ben Affleck
um comandante dos melhores. Assumindo também o papel principal que
quase ficou com Brad Pitt, ele consegue a proeza de deixar a vaidade de
lado para focar-se totalmente na história, ocorrida em 1980 e que se
manteve secreta até meados da década seguinte. Sem querer tornar-se
maior do que os acontecimentos, ele dá também a oportunidade a seus
atores brilharem sem fazer muito esforço - o que inclui o ótimo Bryan
Cranston (consagrado pela série de TV "Breaking bad") e o veterano Alan Arkin, indicado ao Oscar de coadjuvante. Dono
de um belo roteiro, que não obriga o
espectador a ter prévio conhecimento dos fatos que retrata (ao menos em profundidade), explicando-os de forma clara mas nunca exageradamente didática, o filme
apresenta a seu público uma história bem contada e discreta em suas
ambições, mas que acaba sendo fascinante justamente por isso.
A história começa em 1979, quando um grupo de mais de 50 diplomatas
americanos é mantido refém na embaixada dos EUA no Irã por um grupo de
revolucionários que exigem o repatriamento de seu xá. No entanto,
um grupo de seis colegas consegue escapar e encontra proteção na casa
do embaixador canadense Ken Taylor (Victor Garber). Alguns meses depois,
ao perceber que as coisas não parecem se encaminhar para um final feliz
imediato, a CIA pede ajuda a Tony Mendez (interpretado com discrição pelo próprio Affleck), especialista em
repatriamentos de emergência. Depois de pensar em várias possibilidades,
o agente tem a ideia - a princípio tida como absurda, mas depois aceita
com ressalvas por seus superiores - de disfarçar os reféns como uma
equipe canadense de filmagens em busca de locações para um filme de
ficção científica chamado "Argo". Contando com o apoio do produtor de
cinema Lester Siegel (Alan Arkin) e do maquiador John Chambers (John
Goodman), Mendez cria uma verdadeira operação de guerra que inclui
campanha de marketing em jornais temáticos, passaportes falsos e
biografias inventadas. Com tudo pronto, ele embarca para Teerã com o
objetivo de trazer todos os seis conterrâneos sãos e salvos para casa.
O maior mérito do roteiro de Chris Terrio - baseado em um livro escrito
pelo próprio Mendez, que foi um dos apresentadores do Golden Globe de 2013 - é manter o ritmo e o suspense durante todo o tempo de projeção,
mesmo contando uma história cujo final hoje em dia é amplamente
conhecido. Mesmo que exagere um bocadinho na sequência final, aumentando
a tensão de forma a tornar o filme mais palatável como entretenimento
hollywoodiano, o script de Terrio acerta em intercalar com maestria os
preparativos para a fuga com as dúvidas dos reféns e a constante ameaça
dos revolucionários, sem apelar para heroísmos baratos ou vilanias
maniqueístas. Ainda que seja claro quem é quem - americanos do bem
contra iranianos do mal - não existe, no resultado final, aquele ranço
tão ufanista que estraga boa parte do cinema que se propõe político. A
ideia de Affleck não é levantar bandeiras e sim contar uma bela
história. E isso ele consegue com louvor, fazendo de "Argo" um dos grandes filmes de seu tempo.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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