NOITE DE ANO-NOVO (New Year's Eve, 2011, New Line Cinema, 113min) Direção: Garry Marshall. Roteiro: Katherine Fugate. Fotografia: Charles Minsky. Montagem: Michael Tronick. Música: John Debney. Figurino: Gary Jones. Direção de arte/cenários: Mark Friedberg/Leslie E. Rollins. Produção executiva: Samuel J. Brown, Michael Disco, Toby Emmerich, Diana Pokorny, Josie Rosen. Produção: Mike Karz, Garry Marshall, Wayne Rice. Elenco: Michelle Pfeiffer, Robert DeNiro, Hilary Swank, Hale Berry, Katherine Heigl, Sarah Jessica Parker, Josh Duhamel, Abigail Breslin, Ashton Kutcher, Lea Michele, Zac Efron, Jon Bon Jovi, Jessica Biel, Sarah Paulson, Hector Elizondo, John Lithgow, Cary Elwes, Allysa Milano, Common, Seth Meyers, Til Schweiger, Carla Gugino, Sofia Vergara, James Belushi, Cherry Jones, Ludacris, Ryan Seacrest. Estreia: 05/12/11
Aproveitar datas comemorativas como pretexto para realizar filmes - e
consequentemente ganhar dinheiro aproveitando o marketing gratuito que
isso gera - é uma espécie de tradição em Hollywood. Mas se até
recentemente apenas filmes de terror apelavam para o calendário em busca
de ideias - vide as séries "Sexta-feira 13" e "Halloween" e o tenebroso
"11/11/11", que se valia de uma data rara para contar uma história sem pé nem cabeça - ultimamente um outro gênero vem se apropriando
do conceito. Aliás, mais precisamente um cineasta: Garry Marshall, que
em 1990 deu a Julia Roberts sua grande chance para o estrelato em "Uma
linda mulher". Em 2010 ele lançou "Idas e vindas do amor", uma
comédia romântica que foi execrada quase unanimemente a despeito de seu
elenco milionário - que incluía a própria Roberts, assim como Bradley
Cooper, Ashton Kutscher, Kathy Bates, Anne Hathaway e Jamie Foxx. No
entanto, apesar das críticas negativas, o filme rendeu mais de 200
milhões de dólares mundo afora, o que encorajou o cineasta a partir para
uma espécie de segundo capítulo de sua saga "romântico/comemorativa".
"Noite de ano-novo" chegou aos cinemas americanos em dezembro
de 2011 e, como era de se esperar, foi novamente massacrado pela crítica.
Utilizando-se do artifício que fez a glória de Robert Altman - contar
várias histórias paralelas de personagens aparentemente sem conexão
alguma - "Noite de ano-novo" segue rigidamente a fórmula do filme
anterior de Marshall, mesclando tramas engraçadinhas, dramáticas e
românticas sem dar atenção especial a nenhuma delas (e consequentemente
superficializando todas as relações mostradas, inclusive aquelas que
poderiam render muito mais). Além disso, o cineasta insiste em tentar
atingir públicos de todas as idades, pondo lado a lado atores
respeitados e/ou oscarizados (Robert DeNiro, Michelle Pfeiffer, Hale
Berry e Hilary Swank) e jovens promessas/ídolos adolescentes (Abrigail
Breslin, Zac Efron, Lea Michelle). Para completar o elenco, figurinhas
fáceis do gênero, como Katherine Heigl, Sarah Jessica Parker e Josh
Duhamel e seu ator-fetiche, Hector Elizondo. Soma-se à receita uma
trilha sonora moderna, histórias que não machucam ninguém e uma espécie
de lição de moral a respeito de amor e perdão e o bolo está pronto. A
questão é: esse bolo tão repleto de ingredientes deu liga?
Tudo depende do estado de espírito do espectador e de suas expectativas. Como toda produção hollywoodiana, "Noite de ano-novo" é bem fotografada, bem editada e, no mínimo, agradável. Mas nem todas as suas histórias cativam tanto quanto poderiam. Se não vejamos. Ingrid (Michelle Pfeiffer de cabelos castanhos) acaba de pedir demissão de um emprego que não mais lhe satisfazia e propõe ao jovem mensageiro Paul (Zac Efron) que a ajuda a cumprir uma lista de resoluções até a meia-noite - o pagamento será convites para uma cobiçada festa de revéillon. Stan Harris (Robert DeNiro) é o desenganado paciente cujo último desejo é assistir a chegada no novo ano em Times Square do terraço do hospital e que passa a noite acompanhado da dedicada enfermeira Aimée (Hale Berry), cujos planos para a virada ela não conta a ninguém. Tess e Griffin Byrne (Jessica Biel e Seth Meyers) estão em vias de ter o primeiro filho quando descobrem que a maternidade dá um prêmio de 25 mil dólares ao bebê que vier ao mundo nos primeiros minutos do novo ano e entram em competição com outro casal na mesma situação, Grace e James Schwab (Sarah Paulson e Seth Meyers).
Já o cantor de rock Jensen (Jon Bon Jovi) tenta reconquistar a hesitante Laura (Katherine Heigl), a chef de cozinha a quem decepcionou um ano antes e que ele espera que seja sua mulher e a jovem Elise (Lea Michele, da série "Glee") é uma de suas backing-vocals que se vê presa no elevador enquanto se prepara para um show e tem que lidar com o ranzinza Randy (Ashton Kutcher, com as mesmas caras e bocas de sempre), seu vizinho que odeia as comemorações de fim de ano. A data também se mostra estressante para a estilista Kim (Sarah Jessica Parker), que entra em conflito com a filha adolescente Hailey (Abigail Breslin, a pequena Miss Sunshine em pessoa), que quer passar a meia-noite com um grupo de amigos e dar o primeiro beijo no coleguinha por quem é apaixonada. A responsável pela festa em Times Square, Claire Morgan (Hilary Swank), também passa por maus bocados quando um dos principais atrativos do show dá errado e ela precisa apelar para um veterano ex-colega ressentido com a demissão, Kominsky (Hector Elizondo). Para finalizar, o jovem herdeiro Sam Ahern (Josh Duhamel) sai de uma festa de casamento no interior para tentar chegar a tempo ao encontro marcado um ano antes com uma mulher que conheceu por acaso e por quem se apaixonou instantaneamente. O segredo a respeito de quem é essa mulher e de como algumas das histórias irão se conectar é um charme a mais do filme, mesmo que esteja diluído em tantas tramas.
É lógico que "Noite de ano-novo" está a anos-luz de filmes do mesmo
estilo como o delicioso "Simplesmente amor", mas tampouco é algo a ser
desprezado totalmente. Apesar de ser dramaticamente falho, consegue ser
simpático a maior parte do tempo (inclusive quando obriga a plateia a ver Jon Bon Jovi tentando atuar) e, mesmo que algumas das relações mostradas na
tela não cheguem a convencer a plateia (principalmente pelo pouco tempo
disponível para desenvolvê-las) não deixa de ser um alívio perceber que
nem só de desenhos animados vive o cinema americano nessa época de
festas. "Noite de ano-novo" cumpre o que promete (entreter sem
compromisso), mas nunca vai além disso. Pode divertir aos menos exigentes. E só.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
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