O LADO BOM DA VIDA (Silver linings playbook, 2012, The Weinstein Company, 122min) Direção: David O. Russell. Roteiro: David O. Russell, romance de Matthew Quick. Fotografia: Masanobu Takayanagi. Montagem: Jay Cassidy, Crispin Struthers. Música: Danny Elfman. Figurino: Mark Bridges. Direção de arte/cenários: Judy Becker/Heather Loeffler. Produção executiva: Bradley Cooper, George Parra, Michelle Raimo Kouyate, Bob Weinstein, Harvey Weinstein. Produção: Bruce Cohen, Donna Gigliotti, Jonathan Gordon. Elenco: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert DeNiro, Jackie Weaver, Julia Stiles, Chris Tucker, Shea Whigham, Brea Bee. Estreia: 08/9/12 (Festival de Toronto)
8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (David O. Russell), Ator (Bradley Cooper), Atriz (Jennifer Lawrence), Ator Coadjuvante (Robert DeNiro), Atriz Coadjuvante (Jackie Weaver), Roteiro Adaptado, Montagem
Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Jennifer Lawrence)
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz Comédia/Musical (Jennifer Lawrence)
Ao contrário do que quer fazer a Academia de Hollywood, o cineasta David
O. Russell está longe de ser um novo gênio do cinema, capaz de três
indicações ao Oscar de diretor em quatro anos. Artesão competente, ele
conseguiu fazer rir da guerra do Iraque quando ela ainda estava
fresquinha na mente dos americanos - no ótimo e esquecido "Três reis" -,
assinou o inclassificável "Huckabees, a vida é uma comédia" e entregou o
apenas correto "O vencedor", que lhe colocou entre os finalistas do
Oscar de 2011 (no lugar de um espetacular Christopher Nolan), mas nunca
ultrapassou aquele limite que separa os contadores de histórias eficazes
dos mestres do ofício - até mesmo seu posterior "Trapaça" (também indicado ao Oscar) não passava de um pastiche apenas correto das obras de Martin Scorsese. Por isso, se não fosse a exímia máquina
marqueteira dos irmãos Weinstein (ex-proprietários da Miramax Pictures,
empresa que, na década de 90 transformou o cinema independente em
mainstrean), a comédia romântico/dramática "O lado bom
da vida" não passaria de alguns merecidos elogios à uma generosa lista
de indicações ao Oscar 2013 (uma lista que incluía melhor filme,
diretor, roteiro e nada menos que quatro atores). Se por um lado seu trabalho é
simpático e agradável, por outro ele não escapa de mergulhar no lugar-comum
e só é realmente notável por seu elenco - que dá a Robert De Niro seu
primeiro papel decente em anos e revela em Bradley Cooper uma
competência apenas ensaiada em seus filmes anteriores.
Adaptado de um romance de Matthew Quick, "O lado bom da vida" começa
muito bem, mostrando a volta do professor Pat Solitano (Bradley Cooper)
ao lar, depois de uma temporada de oito meses em um hospital psiquiátrico, onde foi parar depois de um ruidoso divórcio. Logo de cara o
público já percebe a animosidade que existe entre Pat - que saiu do
hospital talvez cedo demais - e seu pai aposentado (Robert De Niro). Não
fica claro, porém - propositalmente - os motivos que o levaram à sua
crise e à separação da esposa, a quem ele tem esperanças de
reconquistar a despeito da ordem judicial que o afasta dela. No caminho para sua reconciliação, Pat conhece uma
vizinha, Tiffany (Jennifer Lawrence), recentemente viúva e desempregada
(por ter dormido com todos seus colegas de trabalho como forma de compensação afetiva) que lhe ajudará em
sua missão e, no caminho, vai lhe devolver, de maneira um tanto tortuosa, a autoestima perdida com as pancadas da vida.
Depois do começo promissor, no entanto, o filme de Russell cai na
armadilha dos clichês. A tensão entre Pat e Tiffany - responsável por
uma ótima cena em um restaurante que descamba para uma violenta
discussão no meio da rua e serve como vitrine para o talento de ambos os atores - se dilui na tentativa do roteiro de
conquistar o público da maneira mais preguiçosa possível. A relação dos
protagonistas - que apontava para um estudo sério e honesto (ao menos
dentro do padrão hollywoodiano quando se trata de problemas mentais) -
logo vira uma historinha de amor rasa e inverossímil, que culmina em um
concurso de dança que parece só estar ali para criar uma sequência
bonitinha mas sem muito sentido.
Salva-se, por outro lado, o elenco escolhido pelo diretor. Sem dúvida,
Russell é um cineasta que, a despeito de sua pouca criatividade, tem
profundo conhecimento em sua relação com os atores. Deu Oscar a
Christian Bale e Melissa Leo por "O vencedor" e ajudou Jennifer
Lawrence a conquistar a sua: Lawrence, tornada a queridinha da
Academia da noite pro dia, está bem, mas entre convencer na pele de uma jovem
desequilibrada e merecer ganhar um Oscar vai uma grande distância. O
mesmo pode ser dito sobre Bradley Cooper, surpreendendo com uma atuação
visceral e intensa, mas que só despertou admiração por ter revelado nele
um ator competente - fato que as comédias insossas que estrelou antes
escondia com eficácia. Jacki Weaver, como a mãe de Pat, arrancou uma
indicação inesperada ao prêmio de atriz coadjuvante e teve poucas
chances diante de Anne Hathaway, mas é Robert De Niro, definitivamente, o maior destaque
do filme: há muito tempo o grande ator não tinha chance de mostrar o
quão bom é, e basta uma cena com Cooper (em que revela seu amor pelo
filho) para que tenha sua lembrança pela Academia justificada - merecia mais o prêmio do que o vencedor do ano, Christoph Waltz, que não fez em "Django livre" mais do que havia feito em "Bastardos inglórios".
"O lado bom da vida" é um filme comum. Bom, sem dúvida, mas destinado
ao esquecimento em poucos anos. É mais uma prova do poder dos irmãos
Weinstein dentro da indústria do cinema americano do que exatamente um
grande trabalho cinematográfico. Ainda assim, é simpático o bastante para arrancar um ou outro sorriso do espectador.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
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