AS AVENTURAS DE PI (Life of Pi, 2012, Fox 2000 Pictures, 127min) Direção: Ang Lee. Roteiro: David Magee, romance de Yann Martel. Fotografia: Claudio Miranda. Montagem: Tim Squyres. Música: Mychael Danna. Figurino: Arjun Bhasin. Direção de arte/cenários: David Gropman/Anna Pinnock. Produção executiva: Dean Georgaris. Produção: Ang Lee, Gil Netter, David Womark. Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Rafe Spall, Andrea Di Stefano, Vibish Sivakumar, Ayaan Khan. Estreia: 28/9/12 (Festival de Nova York)
11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Ang Lee), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original, Canção Original ("Pi's lullaby"), Direção de Arte/Cenários, Efeitos Visuais, Edição de Som, Mixagem de Som
Vencedor de 4 Oscar: Diretor (Ang Lee), Fotografia, Trilha Sonora Original, Efeitos Visuais
Vencedor do Golden Globe de Melhor Trilha Sonora Original
Quando a mania de filmes em 3D tornou-se uma realidade - em especial
depois do impressionante êxito comercial de "Avatar", de James Cameron -
o público foi praticamente soterrado de produções de resultados
sofríveis, que utilizavam a ferramenta apenas para ganhar mais dinheiro,
em detrimento de qualquer preocupação com outros fatores que também
fazem de ir ao cinema uma experiência única, como roteiro, atuações e
até mesmo bom-senso. Dezenas de blockbusters erraram a mão em suas
tentativas de conquistar os espectadores exigentes, concentrando-se mais
nas bilheterias do que na qualidade de seus produtos. Se por um lado
isso deixou bem claro que orçamentos milionários não bastam para
transformar lixo cinematográfico em bons filmes, também mostrou que,
aliada ao talento de cineastas realmente criativos e inteligentes, a
tecnologia pode muito bem agregar emoção e encanto ao resultado final de
uma obra. Martin Scorsese fez isso com perfeição em "A invenção de Hugo
Cabret" - que lhe deu a oportunidade de homenagear o cinema em seus
primórdios. E em seguida, Ang Lee também brincou com as possibilidades do
formato com o belíssimo "As aventuras de Pi" - que lhe rendeu um
merecidíssimo segundo Oscar de direção, acompanhado de outras três justas estatuetas (fotografia, trilha sonora original e efeitos visuais)
Baseado em um romance de Yann Martel - por sua vez inspirado no nacional
"Max e os felinos", escrito por Moacyr Scliar - "As aventuras de Pi" é
narrado de forma poética e lírica por Lee, um cineasta capaz de
emocionar sem apelar para o sentimentalismo barato (que o digam as
pessoas que saíram aos prantos das salas de exibição depois de "O
segredo de Brokeback Mountain" ou em silêncio comovido após "Tempestade de gelo"). Com pleno domínio da arte
cinematográfica, o diretor oriundo de Taiwan seduz a plateia com um
visual arrebatador - a fotografia é deslumbrante e fez por merecer a
estatueta dourada - e uma técnica invejável, mas jamais perde o foco da
história que quer contar. Por mais que o público fique extasiado com as
cenas criadas por ele - com auxílio de CGI, naturalmente, mas de forma
tão sutil que parece real - em momento algum a técnica sobrepõe-se à
emoção. Assim como em "O tigre e o dragão" as coreografadas lutas nunca
eclipsavam os relacionamentos interpessoais entre as personagens, em "As
aventuras de Pi" tudo serve à história, sem nenhum tipo de gratuidade.
Apesar de ter sido vendido como "a hístória de um rapaz indiano que
sobrevive a um naufrágio e fica perdido no mar dentro de um bote,
contando apenas com um tigre-de-benagala como companhia", o filme de Ang
Lee é bem mais do que isso. Basta dizer que o tal naufrágio que dá o
empurrão inicial para tais aventuras só acontece depois de 40 minutos de
projeção. Antes disso, o roteiro faz questão de não ter pressa em
contar a infância e a adolescência de seu protagonista, Piscina ou
simplesmente Pi (Suraj Sharma), um jovem que mora com a família,
proprietária de um zoológico na Índia. Até que todos decidam abandonar seu país
de origem e embarcar para o Canadá - todos em termos, já que o rapaz não
tem a menor vontade de abandonar sua vida e seu grande amor - o
cineasta conta sua história de forma tranquila e encantadora. Depois da
reviravolta da trama - com o acidente com o navio e a morte de todos os
seus tripulantes - a magia acontece. Primeiramente tendo que dividir seu
bote com o tigre, um orangotango, uma zebra e uma hiena, Pi chega à
conclusão que precisa aprender a conviver com os animais - e também lutar arduamente pela sobrevivência.
Mesmo que a sinopse pareça um tanto chata e sem muitos atrativos senão o
visual espetacular, "As aventuras de Pi" surpreende principalmente por
manter um ritmo admirável, que impede a plateia de abandonar a surpreendente trama, ilustrada ainda com imagens impecáveis de uma natureza poucas vezes retratadas pelo cinema comercial. Narrada por Pi em sua maturidade para um jovem escritor, a
trajetória do menino tornado homem pela experiência única chega a seu
final com vastas possibilidades de emocionar o espectador, especialmente
por tratá-lo com inteligência e sensibilidade - além de suscitar discussões a respeito de fé e resiliência. Fascinante e belo, é um
dos poucos filmes indicados ao Oscar 2013 que realmente
mereceram estar na lista final.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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