O CONCERTO (Le concert, 2009, Les Productions du Trésor/France 3
Cinéma, 119min) Direção: Radu Mihaileanu. Roteiro: Radu Mihaileanu,
Alain-Michel Blanc, colaboração de Matthew Robbins, estória de Héctor
Cabello Reyes, Thierry Degrandi. Fotografia: Laurent Dailland. Montagem:
Laurent Dailland. Música: Armand Amar. Figurino: Viorica Petrovici,
Maira Ramedhan Lévy. Direção de arte/cenários: Christian Niculescu,
Stanislas Reydellet. Produção: Alain Attal, Michael Blakely, Radu
Mihaileanu. Elenco: Aleksey Guskov, Mélanie Laurent, Dmitry Nazarov, François Berléand, Miou-Miou. Estreia: 12/10/09 (Festival de Beauvau)
Uma
comédia que une música clássica e crítica político-social em uma trama
que não tem medo de misturar dramáticos segredos do passado com toques
de humor pastelão não é coisa fácil de se encontrar. Talvez por isso o
belo "O concerto" tenha agradado tanto às plateias e à crítica desde sua
estreia, no Festival de Cinema de Beauvau. Longe das tradicionais
produções francesas - ao menos daquelas menos populares que marcaram o
país como pátria de uma cinematografia por vezes hermética demais para o
grande público - o filme de Radu Mihaileanu se equilibra com rara
sutileza entre o humor e o drama, sem jamais subestimar a inteligência
do espectador, que tem a oportunidade de se deliciar com uma história
bem contada e sensível, indicada ao Golden Globe de melhor filme
estrangeiro e saiu da cerimônia do César (o Oscar francês) com as
estatuetas de trilha sonora original e som.
Mesmo sem
nenhum astro de primeira grandeza no elenco - o rosto mais conhecido é
de Mélanie Laurent, a Shoshana de "Bastardos inglórios" e o par
romântico de Ewan McGregor em "Toda forma de amor" - "O concerto"
conquista sua audiência sem muito esforço, graças principalmente à forma
cadenciada (seria musical?) de sua narrativa. Quando o filme começa, o
faxineiro do consagrado Teatro Bolshoi intercepta um fax que convida a
tradicional orquestra russa para um concerto de última hora em Paris.
Acontece que tal faxineiro era, trinta anos antes, o regente da
orquestra, famoso e respeitado até que a ascensão do regime comunista o
relegou ao ostracismo artístico. Vendo na excursão proposta pelos
franceses a grande chance de recuperar a autoestima perdida quando foi
demitido em plena apresentação pelo fato de ter dado emprego a judeus,
Andrey Simoniovich Filipov (Aleksey Guskov) resolve reunir seus antigos
colegas e fazer-se passar por atuais profissionais do grupo. Para isso,
ele terá que reuní-los apesar do tempo tê-los afastado e contratar como
empresário o ex-agente da KGB Ivan Gravilov (Valeryi Barinov) - o homem
responsável por seu afastamento dos palcos. O que poucos imaginam, na
verdade, é que Andrey tem outro objetivo com o concerto, algo
relacionado com o passado da festejada violinista Anne-Marie Jacquet
(Mélanie Laurent).
Dedicando os dois terços iniciais de
seu filme à busca de Andrey pelos recursos necessários à sua viagem e à
organização do concerto, Mihaileanu oferece à plateia uma comédia de
situações leve e quase despretensiosa, centrada em personagens cujos
estilos de humor variam entre o bufão e o quase minimalista - mesmo que
por vezes suas opções soem deslocadas, a exemplo da confusão exagerada
em uma festa de casamento. Quando o drama assume os holofotes, no
entanto, é que "O concerto" diz a que veio: enquanto mergulha o público
nos dramas que envolvem a infância de Anne-Marie e a juventude de
Andrey, o cineasta romeno vai costurando um delicado e comovente painel
de emoções humanas que chega ao clímax na aguardada apresentação da
orquestra, uma explosão fascinante de música e sentimentos capaz de
arrepiar ao mais cético espectador. Se até então havia alguma dúvida dos
motivos que levaram o filme a ser tão querido, ela se desfaz conforme a
intensa melodia de Tchaikovsky preenche a tela e as peças do
quebra-cabeça embaralhado pelo roteiro começam a se encaixar.
"O
concerto" não é uma obra-prima. Algumas quebras de ritmo em sua
narrativa e certos desvios de foco enfraquecem o resultado geral, mas é
inegável que a comunhão entre a direção elegante, o elenco homogêneo e a
inusitada mistura de música clássica e política deu liga. A lembrança
que o filme deixa no espectador é a melhor possível, com seu final
emocionalmente potente e a beleza de sua trilha sonora. Em um tempo
repleto de violência e humor de baixo calão, não deixa de ser um bálsamo
de bom gosto e delicadeza.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sexta-feira
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
Nenhum comentário:
Postar um comentário