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O VOO

O VOO (Flight, 2012, Paramount Pictures, 138min) Direção: Robert Zemeckis. Roteiro: John Gatins. Fotografia: Don Burgess. Montagem: Jeremiah O'Driscoll. Música: Alan Silvestri. Figurino: Louise Frogley. Direção de arte/cenários: Nelson Coates/James Edward Ferrell Jr.. Produção executiva: Cherylanne Martin. Produção: Laurie MacDonald, Walter F. Parkes, Jack Rapke, Steve Starkey, Robert Zemeckis. Elenco: Denzel Washington, John Goodman, Don Cheadle, Bruce Greenwood, Kelly Reilly, Melissa Leo, Brian Geraghty, James Badge Dale. Estreia: 14/10/12 (Festival de Nova York)

2 indicações ao Oscar: Ator (Denzel Washington), Roteiro Original

Levando-se em consideração que a filmografia de Robert Zemeckis inclui a trilogia "De volta para o futuro", o revolucionário "Uma cilada para Roger Rabbit" e o megapremiado "Forrest Gump" - e que desde "Náufrago", de um distante ano 2000 ele não brindava seu público com filmes em live-action - não deixa de ser surpreendente ver seu nome assinando "O voo", uma produção simples, honesta e humana e que, excetuando-se uma tensa sequência que mostra um acidente aéreo, prescinde de efeitos visuais e artifícios estilísticos para conquistar a plateia. Depois de uma sucessão de trabalhos cujo visual importava mais do que o conteúdo, o mais bem-sucedido discípulo de Steven Spielberg marcou sua volta de maneira discreta mas bastante eficiente. Com uma renda de mais de 90 milhões de dólares no mercado americano - contra seu custo de apenas 30 milhões - "O voo" ainda conseguiu agradar à crítica e à Academia de Hollywood, que o brindou com duas indicações ao Oscar: roteiro original e ator - Denzel Washington em uma atuação bem mais contida do que o normal e consequentemente mais humana e passível de identificação com o espectador.

Afeito à personagens heroicas e/ou arrogantes, Washington se sai notavelmente bem em um papel que foge de sua zona de conforto. Whip Whitaker, o piloto de aviões alcóolatra e viciado em drogas que consegue milagrosamente evitar uma tragédia de grandes proporções e depois se vê acossado por seus superiores e pela própria consciência é uma das melhores personagens de sua carreira, lhe proporcionando a chance de explorar nuances de seu talento até então escondidos sob a camada de exarcebada autoestima que seus trabalhos anteriores insinuavam. Poucas vezes o público viu Denzel tão frágil e inseguro e esse risco - talvez calculado, mas eficiente - é a maior qualidade de um filme, que, mesmo mantendo o interesse da plateia até seu final, não consegue deixar de esbarrar em alguns clichês. Ainda assim, é um filme acima da média, graças a uma união de talentos que não tinha como dar errado.


Dirigido com firmeza e sutileza por um Robert Zemeckis de volta à sua atenção às personagens e seus atores - qualidade que lhe rendeu um Oscar por "Forrest Gump" e que sempre ficou muito em evidência em seus trabalhos, mesmo os menos sérios - "O voo" é, na verdade, totalmente centrado na figura de Whitaker, um homem em constante luta contra seus fantasmas que, depois do desastre do avião que pilotava (mesmo calibrado de álcool e cocaína) vê suas certezas abaladas e tenta reencontrar seu caminho - e sente-se pressionado por uma investigação que pode dar fim à sua carreira. Zemeckis acerta em centrar a trama nas costas capazes de Washington, mas de certa forma isso acaba deixando de lado algumas possibilidades interessantes - como sua relação com a jovem viciada Nicole (Kelly Reilly), tratada de forma um tanto desajeitada pelo roteiro, escrito com seriedade e grande senso de ritmo. Sem ter muito onde apoiar-se - até mesmo as cenas de tribunal soam apenas corretas e não empolgantes, apesar do auxílio luxuoso de Melissa Leo - resta ao ator (indicado ao Oscar, mas sem muitas chances de vitória ao encarar Daniel Day-Lewis e sua recriação de Abraham Lincoln no filme de Spielberg) dar seu show particular, o que com certeza agrada a seus fãs e pode conquistar outros.c

"O voo" é um belo drama, dirigido com competência e estrelado por um ator em um grande momento. Pode não ser excepcional ou inesquecível, mas cumpre o que promete sem aborrecer ao espectador. Em uma temporada repleta de obras ambiciosas e morosas como os louvados "Lincoln" e "Os miseráveis", não deixou de ser um oásis de simplicidade e concisão - e que entrega a John Goodman um dos melhores papéis de sua carreira, como o amigo e fornecedor de drogas do protagonista que tem suas cenas ilustradas com canções dos Rolling Stones. É um alívio cômico não exagerado que ajuda personagem e plateia a respirar por alguns minutos diante de tanto drama.

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