3 indicações ao Oscar: Atriz (Glenn Close), Atriz Coadjuvante (Janet McTeer), Maquiagem
“Albert Nobbs” é um tour de force da atriz Glenn Close,
fascinada pela novela de George Moore a ponto de entregar-se de corpo e alma à
realização de sua adaptação para o cinema. Apaixonada pela história e pela
personagem central, Close não apenas assumiu a protagonização do filme,
tratando também de produzí-lo, coescrever seu roteiro (ao lado de Gabriella
Prekop e John Banville) e gravar a canção que toca nos créditos finais. Tanta
dedicação lhe valeu uma indicação ao Oscar – que perdeu para Meryl Streep em “A
dama de ferro” – e elogios calorosos da crítica, mas não conseguiu atingir seu
objetivo principal. Dirigido sem personalidade por Rodrigo Garcia (que já havia
trabalhado com a atriz no subestimado “Coisas que você pode dizer só de olhar
para ela”), “Albert Nobbs” é um filme com valores de produção admiráveis (direção
de arte, figurino, maquiagem) mas que carece do essencial: emoção. Nem mesmo
Close, com seu inquestionável talento, é capaz de injetar alma na história,
prejudicada ainda pela escolha lamentável dos dois jovens atores que servem de
apoio à trama central. No final das contas, “Albert Nobbs” é um filme que
poderia ter sido muito bom, mas que tropeça frequentemente em opções bastante
equivocadas.
A trama se passa na Irlanda do
século XIX. Em uma Dublin suja, triste e cinzenta, o dedicado Albert Nobbs
(Close) trabalha como garçom da pensão da Sra. Baker (Pauline Collins), uma
mulher que faz vistas grossas a todo tipo de transgressão que aconteça em sua
propriedade desde que isso lhe seja proveitoso de alguma forma. O sonho de
Nobbs é, com o dinheiro suado que economiza desde a juventude, abrir um negócio
próprio e, casado, viver uma existência menos penosa e árdua. O que ninguém na
pensão sabe – apesar de todos dividirem o mesmo ambiente 24 horas por dia – é
que, na verdade, Albert é uma mulher: desde cedo ciente de que vive em um mundo
predominantemente masculino, ela assumiu uma identidade nova para sobreviver.
Só quem fica sabendo de tal segredo (e mesmo assim por puro acaso) é alguém que
divide com ela a mesma situação, o pintor de paredes Hubert Page (Janet McTeer,
indicada ao Oscar de atriz coadjuvante). Ainda mais ousado que Nobbs, Page é
casado e vive com a mulher Cathleen uma relação de confiança e carinho.
Incentivado pela experiência bem-sucedida do novo confidente, o esforçado
garçom resolve então dar prosseguimento a seus planos e decide conquistar o
amor de Helen Dawes (Mia Wasikowska), que também trabalha na pensão.
E é justamente aí – quando a
história criada por Moore parece engrenar uma segunda e tem a chance de
explorar todas as nuances dramáticas de seu interessante protagonista – que o
filme de Garcia perde as estribeiras. Dawes, uma jovem ambiciosa e pouco afeita
a convenções sociais, é convencida por seu amante, Joe Mackins (Aaron Johnson
antes de assumir o Taylor da esposa no sobrenome) a dar corda às ambições
românticas do tímido colega de serviço, que ele acreditar ter dinheiro
escondido. Decidido a pedir Helen em casamento, Nobbs nem de longe desconfia
estar sendo vítima de uma exploração fria e cruel. E então uma epidemia de
febre tifoide chega à cidade para embaralhar todas as cartas do jogo. Com
vários elementos empolgantes em mão para criar uma trama no mínimo impactante,
Rodrigo Garcia desperdiça tudo com uma direção frouxa e sem brilho. Cenas
climáticas – o desfecho do protagonista, por exemplo – são filmadas sem um
mínimo de criatividade ou paixão, transmitindo uma frieza que impede a empatia
(imprescindível) entre público e protagonista. Até mesmo Close, do alto de sua
interpretação minimalista, está aquém do esperado: construindo uma personagem
cujos silêncios e discrição são essenciais, ela simplesmente afasta a plateia
dos verdadeiros sentimentos de seu Albert Nobbs – talvez por isso a atuação de
Janet McTeer acabe se sobressaindo: seu Hubert Page é mais corajoso, mais
impulsivo e bem menos introspectivo, o que lhe aproxima com mais facilidade do
público médio. E é particularmente constrangedora a sequência em que os dois
amigos resolvem assumir seu lado feminino e saem vestidos de mulher na rua.
Poderia ter sido uma linda cena: virou um pastelão sem graça.
Chegamos, então, ao pior de tudo:
Aaron Johnson e Mia Wasikowska. Johnson, revelado por seu desempenho como John
Lennon em “O garoto de Liverpool” é um ator fraco, a despeito de seu sucesso na
comédia de ação “Kick-ass: quebrando tudo”, e sua interpretação apática como o
mau-caráter Joe Mackins não chega a surpreender. Mas Wasikowska – revelada por
Tim Burton em “Alice no País das Maravilhas” (10) e tida pela crítica como uma
das mais promissoras atrizes de sua geração – é simplesmente intragável. Dona
de um papel crucial na trama, a australiana é incapaz de explorar as várias
possibilidades de sua personagem, mantendo do início ao fim do filme a mesma
expressão (ou falta de), chegado ao cúmulo de criar uma cena simplesmente
patética já na reta final da narrativa, quando Helen, desesperada com sua
situação, desabafa com Nobbs em uma praça pública. É de chorar e de se
perguntar como Garcia deixou que a cena permanecesse na montagem final – como
comparação é algo do mesmo nível de Sofia Coppola em “O poderoso chefão parte
III”, com a diferença que Sofia foi apedrejada unanimemente pelo pífio
desempenho, enquanto Mia...
“Albert Nobbs”, no fim, vale como
uma demonstração da persistência de Glenn Close, ainda que ela mesma tenha sido
uma vítima infeliz de uma série de escolhas ruins que acabaram por minar todas
as possibilidades dramáticas da história. Sua personagem, riquíssima, acaba por
tornar-se uma convidada da própria (e monótona) festa. Uma pena!
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