NA TERRA DE AMOR E DO ÓDIO (In the land of blood and honey, 2011, GK Films, 127min) Direção e roteiro: Angelina Jolie. Fotografia: Dean Semler. Montagem: Patricia Rommel. Música: Gabriel Yared. Figurino: Gabriele Binder. Direção de arte/cenários: Jon Hutman/Anna Lynch-Robinson. Produção executiva: Holly Goline-Sadowski, Michael Vieira. Produção: Tim Headington, Angelina Jolie, Graham King, Tim Moore. Elenco: Goran Kostic, Zana Marjanovic, Rade Serbedzija, Vanessa Glodjo. Estreia: 23/12/11
Alguém duvidava que a estreia de Angelina Jolie como cineasta trataria
de um tema polêmico e socialmente relevante? A bela atriz, que é
embaixadora da ONU sempre preocupou-se com a situação dos países menos
privilegiados - e tem filhos adotivos do Camboja, da Etiópia e do
Vietnã. Por isso, não deixa de ser previsível que seu primeiro filme
como diretora tenha sido "Na terra de amor e ódio", que versa sobre as
tragédias humanas consequência da guerra da Bósnia. Por ser
falado em bósnio (o que lhe aumenta a veracidade mas diminuiu
consideravelmente suas chances de sucesso comercial, ainda que tenha sido lançado posteriormente em versão dublada em inglês), seu trabalho
chegou a ser indicado ao Golden Globe de filme estrangeiro, mas não
agradou à boa parte da crítica, que condenou seu tom de discurso
político e sua falta de ousadia narrativa. Mas é inegável, porém, que a história
contada por Jolie, também roteirista e produtora, é forte e intensa o
bastante para deixar prever uma nova e promissora carreira atrás das
câmeras para a bela sra. Brad Pitt - fato reforçado por seu bastante superior segundo trabalho, "Invencível", lançado em 2014.
Ousando de cabo a rabo, Jolie também preferiu atores locais para contar
sua história, em detrimento de astros hollywoodianos que poderiam, em
tese, tornar seu projeto mais comercial. Mas desde as primeiras cenas de
"Na terra de amor e ódio" fica bastante claro que as intenções da nova
diretora não tinham a menor relação com sucesso financeiro. Mantendo-se
fiel a seus princípios, Angelina nem se dá ao trabalho de tentar
esconder a sujeira e o clima pesado do cenário de sua trama. Fotografado
com um realismo que beira o desagradável, seu filme parece gritar a
todo momento que o mais importante ali são os seres humanos retratados e
seus dramas pessoais e políticos. O problema é que, optando por esse
viés mais social e menos artístico, ela também afastou consideravelmente
o público das salas de exibição. Ela realmente conta uma história forte
e pungente, mas praticamente pregou no deserto: a renda americana de
pouco mais de 300 mil dólares não chegou nem perto de cobrir o orçamento
de 10 milhões que ela mesma bancou.
Quem ignorou o filme, porém, perdeu a oportunidade de testemunhar um
trabalho consistente e triste, que retrata com bastante precisão (ainda
que por vezes escorregue no maniqueísmo) os horrores de uma guerra
sangrenta e sem explicações racionais. A história de amor entre Danijel
(Goran Kostic), um soldado lutando pelos sérvios e a sofrida croata Ajla (Zana
Marjanovic), que nutre por ele um misto de amor/desejo/medo, é repleta
de cenas chocantes, filmadas com sobriedade e distanciamento. É apenas
quando foge das sequências violentas e se concentra no romance que o
filme esbarra em uma inadequada pieguice, que fica ainda mais acentuada
pela falta de carisma dos atores centrais, que são talentosos e estão
bem dirigidos mas falham em provocar empatia na audiência. A ausência de trilha sonora e o tom seco com que Jolie conduz sua narrativa lhe empresta um viés quase documental, que tanto lhe permite uma liberdade impensada em uma produção comercial quanto - pecado quase mortal - impede a identificação/sensibilização da plateia por seus personagens. O fato de o protagonista masculino ainda ter em sua carga dramática a responsabilidade de cumprir expectativas de seu pai general e da heroína dividir seu tempo entre a atração que sente por ele e a luta por defender a irmã também não ajuda o resultado final - a frequente mudança de foco prejudica, ainda que todas as histórias contadas sejam interessantes.
"Na terra de amor e ódio" é um belo trabalho de estreia, apesar de tudo. Mesmo que não
seja uma obra-prima,seus pecados são bem menores do que os cometidos por
gente muito mais experiente. Recheando sua trama com cenas de sexo secas e desprovidas de glamour e mostrando a sujeira e a fealdade de um conflito injustificável, Angelina Jolie dá sua contribuição ao tema de forma direta e madura. Vale a pena conferir nem que seja por sua
relevância histórica e política.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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