O livro foi um fenômeno de vendas no mundo inteiro, conquistando leitoras com seu jeito despojado de misturar autoajuda com guia de viagem. O filme, que todos esperavam repetir o sucesso – especialmente com a presença da megaestrela Julia Roberts no papel principal – já não foi uma unanimidade tão grande assim. Com a crítica dividida e o público pouco entusiasmado (ao menos em comparação com a bilheteria imensa que se imaginava), a versão para as telas do best-seller “Comer, rezar, amar” pode ter decepcionado aos produtores, mas está longe de ser o desastre que muitos tentaram pintar. Carismática e boa atriz, Roberts foi a escolha perfeita para o papel principal, o da escritora Elizabeth Gilbert, que abandona suas raízes para tentar encontrar a paz de espírito que seus relacionamentos amorosos não lhe trazem. Por pouco não dirigida novamente por Garry Marshall – que lhe deu a chance para o estrelato em “Uma linda mulher” (90) e recusou o projeto pelas dificuldades logísticas que ele abrangia – ela é o corpo e a alma de um filme que tem em seus belos cenários personagens tão importantes quanto a própria Gilbert.
Bem dividido nos três capítulos que dão nome ao livro e ao filme, “Comer, rezar, amar” ainda se utiliza de alguns flashbacks para melhor dar ao espectador a chance de conhecer a protagonista e seus anseios. Tal artifício, que poderia atrapalhar a narrativa, serve, no entanto, como um respiro à jornada de Liz – uma personagem que pode parecer, a princípio, apenas como uma mulher chata e propensa a aumentar a proporção de seus problemas. O desafio do roteiro – escrito pelo próprio diretor Ryan Murphy em parceria com Jennifer Salt – era mergulhar a plateia nos pensamentos da protagonista, justamente para que ela não caísse na armadilha da autocomiseração e da complacência. Nem sempre funciona – a versão estendida, lançada em bluray, teve mais sucesso nesse ponto – mas quem leu o livro sabe que a busca de Gilbert servia mais como uma espécie de descanso sabático do que exatamente uma busca pelo sentido da vida. Rica, bonita e inteligente, ela sai em viagem pelo mundo (o que não é algo que muita gente consegue fazer, convenhamos) não para curar suas feridas, mas sim para encontrar novas perspectivas. E mesmo que o filme não tenha sido exatamente bem-sucedido em deixar isso muito claro – em alguns momentos sua decisão soa um tanto aleatória – não deixa de ser delicioso acompanhar Julia Roberts e seu belo sorriso por algumas das paisagens mais bonitas do mundo.
Escritora infeliz no amor, Liz Gilbert (uma Julia Roberts que batalhou pessoalmente para levar o livro às telas) acaba de terminar o namoro com um jovem ator (James Franco). Seu relacionamento, amoroso mas incompleto, segue um divórcio doloroso, do qual saiu praticamente exaurida emocionalmente. Incentivada pelas tendências religiosas do rapaz e pelas lembranças de uma viagem feita à Bali alguns meses antes, ela resolve, então, colocar os pés na estrada e, por um ano, afastar-se de sua rotina para, em três partes diferentes do planeta, reencontrar sua alma. Na Itália, dedica-se a experimentar os prazeres da culinária, da beleza e do dolce far niente que lhe ensinam os nativos. É a melhor parte do filme, leve, luminosa, engraçada e fotografada com um misto de contemplação e paixão pelo veterano Robert Richardson. Logo em seguida, ela passa por um período bem menos prazeroso, tentando acostumar-se com a rotina de um mosteiro indiano. Entre lavar o chão do local e procurar acertar-se com as rígidas regras de oração e meditação, ela trava contato com outro americano, o sofrido Richard (Richard Jenkins), que tem um motivo bem mais radical para estar buscando a paz espiritual – e é dono da cena mais emocional do filme, principalmente graças ao trabalho excepcional de Jenkins.
O terço final do filme é, talvez, o mais controverso e menos fascinante. Controverso por apresentar um Javier Bardem com tenebroso sotaque português interpretando um brasileiro, Felipe, por quem Liz acaba se apaixonando. Além da escalação de Bardem (um ator extraordinário mas inadequado ao papel), o roteiro inventa características bizarras ao povo brasileiro – segundo a produção, pais e filhos tem o costume de beijar-se na boca – e escolhe, para trilha sonora, a mesma “Samba da bênção”, cantada por Bebel Gilberto, que também esteve presente em “Closer, perto demais” (04), estrelado pela mesma Julia Roberts. No mínimo falta de imaginação. À parte isso, o romance entre Liz e Felipe não chega a encantar ou seduzir o público, até então envolvido com as duas primeiras partes da trajetória da protagonista. Mesmo as belas paisagens que os rodeia são insuficientes para dar liga ao casal e isso acaba por prejudicar seriamente o resultado final e encerrar a viagem com uma sensação de anti-clímax.
Mas, se no conjunto final “Comer, rezar, amar” não é uma obra-prima da sétima arte, é injusto não reconhecer suas qualidades. Ryan Murphy – criador de séries como “Nip/Tuck”, “Glee” e “American Horror Story” e em seu segundo longa-metragem – tem a receita de contar histórias que conquistam sem fazer muito esforço, e contar com Julia Roberts, uma das maiores estrelas de Hollywood no papel principal, não atrapalha em nada. Ainda que sua falta de experiência fique clara em alguns pontos – a edição poderia ser mais ágil e podar alguns momentos menos inspirados – é perceptível seu carinho pelo material e seu esforço em traduzir em imagens as palavras de Elizabeth Gilbert. Bom diretor de atores, extrai boas atuações do elenco masculino – que inclui também Billy Crudup como o primeiro marido de Liz – e consegue fazer com que o carisma de Roberts não fique no caminho da história. Muitas fãs do livro não se deixaram seduzir pela adaptação cinematográfica, mas é inegável que é um filme subestimado e com potencial para ser melhor avaliado no futuro. Nem sua duração excessiva chega a ser um defeito se o espectador se deixar levar pela viagem de Gilbert.
Um comentário:
Incredible quest there. What occurred after?
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