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TÃO FORTE, TÃO PERTO

TÃO FORTE, TÃO PERTO (Extremely loud & incredibly close, 2011, Warner Bros, 129min) Direção: Stephen Daldry. Roteiro: Eric Roth, romance de Jonathan Safran Foer. Fotografia: Chris Menges. Montagem: Claire Simpson. Mùsica: Alexandre Desplat. Figurino: Ann Roth. Direção de arte/cenários: K.K. Barrett/George De Titta Jr. Produção executiva: Celia Costas, Mark Roybal, NOra Skinner. Produção: Scott Rudin. Elenco: Tom Hanks, Sandra Bullock, Thomas Horn, Max Von Sydow, Viola Davis, Jeffrey Wright, John Goodman, Zoe Campbell. Estreia: 25/12/11

2 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Max Von Sydow)

O inglês Stephen Daldry tem uma boa folha de serviços prestados ao cinema desde sua estreia com o lírico “Billy Elliot” (00), que de cara lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor diretor. Depois, voltou ao páreo pelo brilhante “As horas” (02) – que deu à Nicole Kidman a estatueta de melhor atriz – e pelo dramático “O leitor” (08) – que também premiou sua protagonista, Kate Winslet, com uma estatueta dourada. De seus três primeiros (e ótimos) filmes, dois foram homenageados pela Academia com uma indicação ao Oscar máximo, o que encheu o público e a crítica de expectativas em relação a seu quarto trabalho. A estreia de “Tão forte e tão perto”, no entanto, mostrou que todo mundo corre o risco de errar. Mesmo arrebatando uma quase inexplicável indicação ao Oscar de melhor filme – um quase que pode ser compreendido pelos humores da parcela mais conservadora da Academia – e tendo conquistado alguns críticos, o filme de Daldry é uma decepção quase total, principalmente por ter como seu maior e mais irrecuperável defeito a péssima escolha de seu ator principal. Ao contrário do que aconteceu quando Jamie Bell saiu do anonimato para dar vida e alma ao menino que sonhava com o balé em “Billy Elliot”, a opção pelo novato Thomas Horn para protagonizar “Tão forte, tão perto” arruinou todo o projeto de Daldry. Descoberto em um programa de perguntas e respostas da TV americana, Horn faz com que assistir-se ao filme se torne uma tortura quase insuportável. E não é preciso ser cientista da NASA para saber que quando um protagonista (a base de qualquer filme, afinal) não tem empatia com o público, não há marketing milagroso o suficiente para salvá-lo da ruína.
Ok, “Tão forte e tão perto” não chega a ser uma ruína completa – Daldry é um diretor de muito talento para perder tanto a mão, e os coadjuvantes são admiráveis (inclui-se aqui Tom Hanks em uma participação especial mas essencial ao estabelecimento da trama, Max Von Sydow em uma interpretação indicada ao Oscar e Viola Davis injetando humanidade em cada cena que aparece). Mas para cada qualidade que apresenta – a edição de Claire Simpson, com momentos brilhantes e a bela trilha sonora de Alexandre Desplat – existe uma série de problemas que impedem o espectador de mergulhar sem reservas na história criada pelo escritor Jonathan Safran Foer. O primeiro deles – e o maior, a ponto de praticamente anular o que o filme tem de bom – é, como afirmado anteriormente, o protagonista. Não apenas o personagem é chato, irritante, mimado e histérico, como seu intérprete consegue – ao invés de diluir tais características pouco louváveis – ampliá-las ainda mais. A cada cena em que Thomas Horn aparece na pele do herói da história, Oskar Schell, gritando, esperneando e xingando quem aparece em sua frente, é uma tentação imensa não abandonar a trama, por mais interessante que ela pudesse ter parecido em seu princípio.
E, é preciso reconhecer, o pontapé inicial é instigante: o atentado às Torres Gêmeas em onze de setembro de 2001 deixa órfão de pai o excêntrico Oskar Schell, um menino com problemas em interatividade social – a ponto de ter sido considerado suspeito de portar a Síndrome de Asperger – e que, devido a seu modo especial de comportamento, dedica-se a atividades que requerem o máximo de atenção e método. A perda da referência paterna joga Oskar em um estado ainda mais particular de existência – as caças ao tesouro promovidas por Thomas (Tom Hanks) pela cidade de Nova York e pelo Central Park cessam por completo e ele não consegue ligar-se satisfatoriamente com a mãe, Linda (Sandra Bullock, que não ajuda nem atrapalha). A chance de reconectar-se com o passado surge, porém, quando o menino encontra, sem querer, uma chave guardada dentro de um pequeno envelope dirigido a alguém com o nome Black. Crente de que tal objeto faz parte de mais um enigma proposto por Thomas, o menino começa então uma jornada detalhada – e matematicamente assustadora – para tentar localizar o dono da chave. No caminho, encontra todo tipo de pessoa, o que o irá obrigar a lidar com uma realidade com a qual ele nunca antes havia tido contato.

A busca de Oskar pela resolução do enigma da chave misteriosa e da identidade de Black é interessante: o roteiro do premiado Eric Roth (Oscar por “Forrest Gump: o contador de histórias”) é bem amarrado e prende como pode a atenção da plateia, com personagens coadjuvantes irresistíveis como a doce Abby (interpretada por Viola Davis) e outros que, mesmo sem uma linha de diálogo, conseguem emocionar com seus dramas pessoais. Quando Max Von Sydow entra em cena, então, tudo parece que vai finalmente deslanchar: surdo-mudo graças a um trauma pessoal, seu personagem (que paga pelo aluguel em um quarto na casa da avó de Oskar e junta-se a ele na peregrinação em busca de respostas) rouba o filme em poucos minutos – mas então seu silêncio esbarra na histeria do protagonista juvenil e tudo vai por água abaixo. O primeiro encontro entre os dois – quando o menino conta sua história ao calado interlocutor – poderia ser empolgante, com seu texto inteligente e montagem ágil: na voz irritante de Thomas Horn é quase uma tortura. E se levarmos em consideração o quão frágil é o clímax do filme, o final da sessão dá uma violenta sensação de tempo perdido.
Mas é apenas uma sensação. “Tão forte e tão perto” é bem dirigido, bem escrito, bem editado e tem algumas qualidades quase redentoras, como Von Sydow, Viola e Tom Hanks. A história é interessante, há momentos de real emoção e – o que ainda é raro no cinema americano – o trauma do 11/9 é tratado sob um viés humano e sensível. Mas, levando-se em conta o quão boa poderia ter sido a união de tanta gente talentosa, não deixa de ser um filme frustrante e bastante chato. Um escorregão na carreira até então brilhante de Stephen Daldry.

Um comentário:

Unknown disse...

O filme é bom, mas fica realmente aquela sensação de que poderia ter sido muito melhor, talvez com um ritmo um pouco mais rápido e ágil.
Tem algumas coisas do livro que faltaram ali, e que dariam um algo a mais.

Mas ainda assim, um bom filme mesmo.

- Andre Betioli

http://3quenaoda1.blogspot.com.br/

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