2 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Max Von Sydow)
O inglês Stephen Daldry tem uma boa
folha de serviços prestados ao cinema desde sua estreia com o lírico “Billy
Elliot” (00), que de cara lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor diretor.
Depois, voltou ao páreo pelo brilhante “As horas” (02) – que deu à Nicole
Kidman a estatueta de melhor atriz – e pelo dramático “O leitor” (08) – que
também premiou sua protagonista, Kate Winslet, com uma estatueta dourada. De
seus três primeiros (e ótimos) filmes, dois foram homenageados pela Academia
com uma indicação ao Oscar máximo, o que encheu o público e a crítica de
expectativas em relação a seu quarto trabalho. A estreia de “Tão forte e tão
perto”, no entanto, mostrou que todo mundo corre o risco de errar. Mesmo
arrebatando uma quase inexplicável indicação ao Oscar de melhor filme – um
quase que pode ser compreendido pelos humores da parcela mais conservadora da
Academia – e tendo conquistado alguns críticos, o filme de Daldry é uma decepção
quase total, principalmente por ter como seu maior e mais irrecuperável defeito
a péssima escolha de seu ator principal. Ao contrário do que aconteceu quando
Jamie Bell saiu do anonimato para dar vida e alma ao menino que sonhava com o
balé em “Billy Elliot”, a opção pelo novato Thomas Horn para protagonizar “Tão forte,
tão perto” arruinou todo o projeto de Daldry. Descoberto em um programa de
perguntas e respostas da TV americana, Horn faz com que assistir-se ao filme se
torne uma tortura quase insuportável. E não é preciso ser cientista da NASA
para saber que quando um protagonista (a base de qualquer filme, afinal) não
tem empatia com o público, não há marketing milagroso o suficiente para
salvá-lo da ruína.
Ok, “Tão forte e tão perto” não
chega a ser uma ruína completa – Daldry é um diretor de muito talento para
perder tanto a mão, e os coadjuvantes são admiráveis (inclui-se aqui Tom Hanks
em uma participação especial mas essencial ao estabelecimento da trama, Max Von
Sydow em uma interpretação indicada ao Oscar e Viola Davis injetando humanidade
em cada cena que aparece). Mas para cada qualidade que apresenta – a edição de
Claire Simpson, com momentos brilhantes e a bela trilha sonora de Alexandre
Desplat – existe uma série de problemas que impedem o espectador de mergulhar
sem reservas na história criada pelo escritor Jonathan Safran Foer. O primeiro
deles – e o maior, a ponto de praticamente anular o que o filme tem de bom – é,
como afirmado anteriormente, o protagonista. Não apenas o personagem é chato,
irritante, mimado e histérico, como seu intérprete consegue – ao invés de
diluir tais características pouco louváveis – ampliá-las ainda mais. A cada
cena em que Thomas Horn aparece na pele do herói da história, Oskar Schell,
gritando, esperneando e xingando quem aparece em sua frente, é uma tentação imensa
não abandonar a trama, por mais interessante que ela pudesse ter parecido em
seu princípio.
E, é preciso reconhecer, o pontapé
inicial é instigante: o atentado às Torres Gêmeas em onze de setembro de 2001
deixa órfão de pai o excêntrico Oskar Schell, um menino com problemas em
interatividade social – a ponto de ter sido considerado suspeito de portar a
Síndrome de Asperger – e que, devido a seu modo especial de comportamento,
dedica-se a atividades que requerem o máximo de atenção e método. A perda da
referência paterna joga Oskar em um estado ainda mais particular de existência
– as caças ao tesouro promovidas por Thomas (Tom Hanks) pela cidade de Nova
York e pelo Central Park cessam por completo e ele não consegue ligar-se
satisfatoriamente com a mãe, Linda (Sandra Bullock, que não ajuda nem
atrapalha). A chance de reconectar-se com o passado surge, porém, quando o
menino encontra, sem querer, uma chave guardada dentro de um pequeno envelope
dirigido a alguém com o nome Black. Crente de que tal objeto faz parte de mais
um enigma proposto por Thomas, o menino começa então uma jornada detalhada – e
matematicamente assustadora – para tentar localizar o dono da chave. No
caminho, encontra todo tipo de pessoa, o que o irá obrigar a lidar com uma realidade
com a qual ele nunca antes havia tido contato.
A busca de Oskar pela resolução do
enigma da chave misteriosa e da identidade de Black é interessante: o roteiro
do premiado Eric Roth (Oscar por “Forrest Gump: o contador de histórias”) é bem
amarrado e prende como pode a atenção da plateia, com personagens coadjuvantes
irresistíveis como a doce Abby (interpretada por Viola Davis) e outros que,
mesmo sem uma linha de diálogo, conseguem emocionar com seus dramas pessoais.
Quando Max Von Sydow entra em cena, então, tudo parece que vai finalmente
deslanchar: surdo-mudo graças a um trauma pessoal, seu personagem (que paga
pelo aluguel em um quarto na casa da avó de Oskar e junta-se a ele na
peregrinação em busca de respostas) rouba o filme em poucos minutos – mas então
seu silêncio esbarra na histeria do protagonista juvenil e tudo vai por água
abaixo. O primeiro encontro entre os dois – quando o menino conta sua história
ao calado interlocutor – poderia ser empolgante, com seu texto inteligente e
montagem ágil: na voz irritante de Thomas Horn é quase uma tortura. E se
levarmos em consideração o quão frágil é o clímax do filme, o final da sessão
dá uma violenta sensação de tempo perdido.
Mas é apenas uma sensação. “Tão forte
e tão perto” é bem dirigido, bem escrito, bem editado e tem algumas qualidades
quase redentoras, como Von Sydow, Viola e Tom Hanks. A história é interessante,
há momentos de real emoção e – o que ainda é raro no cinema americano – o
trauma do 11/9 é tratado sob um viés humano e sensível. Mas, levando-se em
conta o quão boa poderia ter sido a união de tanta gente talentosa, não deixa
de ser um filme frustrante e bastante chato. Um escorregão na carreira até
então brilhante de Stephen Daldry.
Um comentário:
O filme é bom, mas fica realmente aquela sensação de que poderia ter sido muito melhor, talvez com um ritmo um pouco mais rápido e ágil.
Tem algumas coisas do livro que faltaram ali, e que dariam um algo a mais.
Mas ainda assim, um bom filme mesmo.
- Andre Betioli
http://3quenaoda1.blogspot.com.br/
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