PHILOMENA
(Philomena, 2013, The Weinstein Cmpany, 98min) Direção: Stephen Frears.
Roteiro: Steve Coogan, Jeff Pope, livro "The lost child of Philomena
Lee", de Martin Sixsmith. Fotografia: Robbie Ryan. Montagem: Valerio
Bnnelli. Música: Alexandre Desplat. Figurino: Consolata Boyle. Direção
de arte/cenários: Alan MacDonald/Barbara Herman Skelding. Produção
executiva: Carolyn Marks Balckwood, François Ivernel, Christine Langan,
Cameron McCracken, Henry Normal. Produção: Steve Coogan, Tracey Seaward,
Gabrielle Tana. Elenco: Judi Dench, Steve Coogan, Sophie Kennedy Clark,
Mare Winningham, Barbara Jefford, Peter Herman, Sean Mahon. Estreia:
31/8/1 (Festival de Veneza)
4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz (Judi Dench), Roteiro Adaptado, Trilha Sonora Original
Uma jovem irlandesa católica tem seu filho pequeno entregue à adoção
pelas freiras do convento onde vive, como forma de punição por seus
pecados da carne. Quase cinco décadas mais tarde, torturada pelas
lembranças do menino e decidida a fazer o possível para reencontrá-lo, a
enfermeira aposentada une-se a um jornalista acostumado com os
bastidores da política - e preso em um impasse profissional - para
juntar as pistas sobre seu paradeiro. O jornalista, a princípio pouco
interessado na história acaba, porém, descobrindo que reportagens de
"interesse humano" podem ser tão gratificantes quanto escândalos do
poder quando passa a conviver com a complexa Philomena Lee, uma mulher surpreendente e fascinante.
Parece
trama de telenovela, mas o roteiro de "Philomena" - indicado ao
Oscar de melhor filme na cerimônia de 2013, mas eclipsado pela mídia em
torno de
produções milionárias entediantes como "Gravidade" - é real, é
revoltante e, mais importante ainda, conquista por escapar com maestria
das armadilhas que uma história assim oferece a cada momento. Philomena,
a protagonista vivida com sutileza emocional pela sempre competente
Judi Dench (também indicada ao prêmio da Academia), é uma mulher triste,
incompleta e remoída pela culpa cristã que a acompanhou a vida inteira,
mas isso não a impede de brindar o público com um senso de humor
inesperado, uma esperança inquebrantável e uma grandeza de espírito
inacreditável. Fugindo das possibilidades melodramáticas da história
contada pelo jornalista Martin Sixmith em seu livro "The lost child of
Philomena Lee", o roteiro de Jeff Pope e do ator Steve Coogan (que
também é produtor do filme e interpreta Sixmith) é redondo e ágil, nunca
se deixando levar pelas lágrimas fáceis. É triste, sim, e emociona
quando necessário, mas jamais se permite mergulhar no dramalhão barato.
Soma-se a ele a direção precisa de Stephen Frears - um cineasta de
extremo bom-gosto e sensibilidade - e a atuação brilhante de Dench e
tem-se um dos filmes mais merecedores de figurar entre os melhores da
temporada. E, não bastasse isso tudo, ainda consegue encontrar espaço
para discutir religião, culpa, rancor e homossexualidade. Sim, caro
leitor, "Philomena" é um tapa na cara dos fundamentalistas - de qualquer
religião que força dogmas absurdos em detrimento da felicidade e do
prazer.
Enquanto
segue as pistas que ligam o nascimento do pequeno Anthony em um
convento da Irlanda até uma família norte-americana que o adotou
juntamente com a filha de outra interna, Martin Sixsmith embarca também
em uma jornada pessoal: demitido do emprego por motivos políticos e
tentando encontrar um novo sentido para a vida, ele acaba por ver em sua
nova amiga - leitora compulsiva de romances baratos e capaz de fazer
amizade com qualquer pessoa que lhe cruze o caminho - um exemplo de como
levar a vida com mais leveza, apesar do drama devastador que a consome.
Os diálogos entre Sixsmith e Philomena são deliciosos, graças a um
roteiro esperto e à química entre seus dois atores, que conduzem o filme
com fluidez e interesse até os momentos finais. É impressionante como a
emoção que emana das cenas é contida pela direção discreta de Frears
mas mesmo assim consegue se impor sem maior exagero. E é brilhante o
modo como todas as peças da história se encaixam com suavidade, sem
pressa mas também sem enrolação - em pouco mais de uma hora e meia tudo
já está resolvido, mas sem contar com o peso de uma superficialidade que
poderia lhe condenar à mediocridade.
Apesar do espaço
aberto para reflexões a respeito dos erros que as
crenças religiosas podem cometer e da melancolia de seu tema,
"Philomena" é, acima de tudo, um filme sobre a esperança, sobre o perdão
e sobre a tolerância. Com sua alma generosa e sua tenacidade admirável,
Philomena acaba sendo um exemplo de ser humano, capaz de um perdão que
muitos espectadores jamais dariam. E essa grandeza - da personagem e da
atriz - transformam o filme de Frears em uma pequena obra-prima de
delicadeza. Se o Oscar não tivesse ido parar (com justiça) nas mãos de
Cate Blanchett - por sua deslumbrante "Blue Jasmine" - somente
Dench teria sido uma escolha mais acertada.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
segunda-feira
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
Nenhum comentário:
Postar um comentário